Atriz Kang Seo-ha morre vítima de câncer de estômago; entenda a doença
O câncer de estômago é a quinta neoplasia mais comum no Brasil; Oncologista tira as principais dúvidas
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Siga noA atriz sul-coreana Kang Seo-ha, de 31 anos, morreu, no último domingo (13/7), em decorrência de um câncer de estômago em estágio IV. Ela, que havia sido diagnosticada há pelo menos um ano, ficou conhecida por atuar em k-dramas como Heart Surgeons (Cirurgiões Cardíacos) e First Love Again (Primeiro amor, novamente).
Desconsiderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de estômago é a quinta neoplasia mais comum. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados cerca de 21.480 novos casos por ano entre 2023 e 2025, sendo 13.340 em homens e 8.140 em mulheres.
Trata-se de um tumor que, na maioria das vezes, se desenvolve de forma silenciosa, dificultando o diagnóstico precoce. “Muitos pacientes chegam ao consultório com a doença em estágio avançado porque os sintomas iniciais são inespecíficos, como azia, perda de apetite ou sensação de estômago cheio”, explica o oncologista Mauro Donadio, da Oncoclínicas. “Por isso, em especial para quem tem fatores de risco, é essencial investigar qualquer sintoma persistente.”
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Fatores de risco
Embora a causa exata do câncer gástrico ainda não seja totalmente conhecida, há diversos fatores que aumentam a probabilidade de seu desenvolvimento. Entre os principais estão:
- Tabagismo
- Consumo excessivo de sal e de alimentos processados
- Infecção por Helicobacter pylori (bactéria que pode causar inflamações crônicas na mucosa do estômago)
- Obesidade
- Consumo de álcool
- Histórico familiar da doença
“Além disso, pessoas que trabalham expostas a produtos químicos, como benzeno, ou que lidam com radiação ionizante, também integram grupos de maior risco”, acrescenta Mauro. Mais raramente, os pacientes podem apresentar mutações hereditárias, como CDH1 da síndrome de câncer gástrico hereditário, e instabilidade de microssatélites da síndrome de Lynch. Nos estágios iniciais, o câncer de estômago pode não causar nenhum sintoma. Quando surgem, os sinais mais comuns incluem:
- Perda de peso inexplicada
- Náuseas constantes
- Sensação de saciedade precoce
- Indigestão frequente
- Dificuldade para engolir
- Inchaço abdominal após as refeições
- Vômitos (com ou sem sangue)
- Fezes muito escuras ou com presença de sangue
É importante lembrar que esses sintomas são comuns a outros problemas benignos, como úlceras e gastrites. Ainda assim, qualquer desconforto persistente deve ser avaliado por um médico.
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer gástrico é feito por meio de uma biópsia obtida durante a endoscopia digestiva alta. “O exame permite visualizar a mucosa do estômago e colher material para análise laboratorial. Em casos de confirmação da doença, novos exames de imagem são realizados para definir o estágio do tumor”, explica o oncologista.
A depender do caso, o estadiamento pode incluir tomografias, ressonância magnética e até procedimentos cirúrgicos como a laparoscopia diagnóstica.
O tipo mais comum de câncer gástrico é o adenocarcinoma, responsável por cerca de 95% dos casos. Ele pode ser classificado em dois subtipos: intestinal, geralmente associado ao H. pylori e mais frequente em homens acima dos 60 anos, e difuso, que tende a acometer pessoas mais jovens e tem comportamento mais agressivo, muitas vezes associado a mutações genéticas como a do gene CDH1.
“Há também tumores menos comuns, como os linfomas gástricos tipo MALT e os GISTs (tumores estromais gastrointestinais), que têm abordagens terapêuticas específicas”, diz. Conforme avança, o câncer pode ultrapassar a parede do estômago, atingir órgãos próximos, como pâncreas e baço, e se disseminar para outros locais do corpo por meio dos gânglios linfáticos ou da corrente sanguínea, configurando metástase.
Abordagem multidisciplinar
O tratamento depende da localização, do tipo, do estágio da doença e das condições clínicas do paciente. As principais abordagens incluem:
- Cirurgia: é a principal opção nos casos em que o tumor pode ser removido. Pode envolver gastrectomia parcial ou total e a retirada de linfonodos.
- Quimioterapia: pode ser feita antes (neoadjuvante) e/ou depois (adjuvante) da cirurgia, ou ainda como forma de controle em casos metastáticos.
- Radioterapia: usada como tratamento paliativo ou combinada à quimioterapia em situações específicas.
- Terapias-alvo e imunoterapia: avanços recentes na oncologia têm ampliado o uso dessas terapias, principalmente em casos avançados, com ganho em sobrevida e qualidade de vida.
“Hoje, conseguimos oferecer uma abordagem mais personalizada ao paciente com câncer de estômago. Em casos com expressão de certos biomarcadores, conseguimos usar imunoterapia ou terapias-alvo com bons resultados”, pontua Mauro.
O que pode ser feito?
A adoção de hábitos saudáveis é a melhor forma de reduzir o risco de câncer gástrico. Isso inclui não fumar, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, manter uma dieta rica em frutas e vegetais, reduzir o sal e alimentos ultraprocessados, além de tratar adequadamente infecções por H. pylori.
Para quem tem histórico familiar ou fatores de risco, o acompanhamento médico e a realização de exames de triagem, como a endoscopia, são medidas fundamentais.
“Embora não seja possível evitar todos os casos, podemos reduzir consideravelmente a incidência da doença com medidas preventivas e diagnóstico precoce. Essa é a chave para melhores resultados no tratamento”, recomenda Mauro Donadio.