Suplemento à base de buriti aumenta massa muscular de idosos
Produto desenvolvido na UFMG de Montes Claros demonstrou desempenho superior nos participantes 90+, em relação ao mix de vitaminas testado em grupo controle
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Ganhos de peso, massa muscular, força e preensão palmar foram observados em um grupo de 20 nonagenários que participou de estudo para avaliar os benefícios nutricionais de um suplemento alimentar à base de buriti, um fruto do cerrado. A pesquisa é de autoria da geriatra Patrícia Antunes, que defendeu recentemente a dissertação de mestrado em alimentos e saúde, no campus Montes Claros da UFMG.
Os testes foram realizados durante três meses com dois grupos de 20 idosos: o primeiro utilizou o suplemento desenvolvido na UFMG que leva buriti em sua composição, e o segundo, o grupo controle, consumiu um mix de vitaminas e minerais de composição equivalente ao suplemento em teste, porém, sem o buriti.
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Os participantes ou seus cuidadores assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, e o estudo foi realizado seguindo os preceitos éticos de pesquisa em humanos. O grupo de idosos foi selecionado no banco de dados do Centro de Referência e Atenção à Saúde do Idoso, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Esses pacientes fazem acompanhamento clínico no local.
Antes e após a realização dos testes, foi aplicado um questionário de avaliação nutricional (forma curta) entre os participantes, que também tiveram sua força de preensão palmar avaliada. Medição antropométrica, realização de hemograma e contagem de proteínas totais, de albumina e de globulina (proteína relacionada à produção de anticorpos) também compuseram a bateria de testes de avaliação.
“Houve perda de peso nos pacientes que utilizaram apenas o mix de vitaminas. No grupo que recebeu o suplemento-teste, notamos ganho de peso, aumento de índice de massa muscular (IMC), de força e de preensão palmar, que são indicadores importantes de manutenção da funcionalidade e da vitalidade do idoso, principalmente o nonagenário”, relata Patrícia.
Suplementação necessária
O estudo também constatou que os idosos que consumiram o suplemento registraram ganho de massa muscular sem realização de atividade física. "Acreditamos que a suplementação dietética é importante, por meio de formas naturais ou não", diz a geriatra, mencionando as alterações fisiológicas que fazem parte do processo de envelhecimento. "Os idosos, em especial os nonagenários, sofrem com a perda de apetite; eles não conseguem fazer uma ingestão nutricional adequada apenas com refeições."
Por isso, a médica afirma que a suplementação é extremamente importante e viável nesta faixa etária. "Ela torna possível que a gente trabalhe de forma preventiva, impedindo que o idoso chegue aos 90 anos ou mais com muita fragilidade", destaca a médica.
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Além da pesquisa com o suplemento, Patrícia produziu uma cartilha informativa sobre a desnutrição para divulgação entre os cuidadores de idosos. O objetivo é identificar com antecedência os sinais de desnutrição e medidas que podem ser adotadas para tratar o problema.
“É uma cartilha toda ilustrada, com linguagem fácil, direta e com referências científicas para quem quiser verificar o que é a desnutrição, como ela pode ser identificada pelos cuidadores, os riscos que pode gerar, o que fazer quando se identifica esse quadro de nutrição em idosos”, explica o professor Sérgio Henrique Sousa Santos, orientador do trabalho. O material será publicado na página do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Saúde.
O grupo dos nonagenários é dos que mais crescem no Brasil. De acordo com o último censo do IBGE, em 2022, havia no país cerca de 790 mil pessoas com 90 anos ou mais, um aumento de 42,2% em relação a 2012.
Superalimento
O produto utilizado nos testes do mestrado em alimentos e saúde foi desenvolvido no curso de engenharia de alimentos do campus da UFMG em Montes Claros, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Unimontes.
O suplemento alimentar lácteo oferece os nutrientes necessários para a população idosa. O fato de ter em sua composição um fruto do cerrado o diferencia de outros produtos encontrados no mercado, resultando em alimento nutritivo e, sobretudo, acessível.
O professor Sérgio Henrique participou do desenvolvimento do produto, que foi testado em 65 mulheres com idade igual ou superior a 65 anos. Comparado a uma marca comercial com ampla penetração no mercado, o produto demonstrou resultados superiores, com aumento de hemácias, hemoglobinas e albumina.
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“Observamos que idosas que estavam asiladas em lares de longa permanência passavam por grandes quadros de desnutrição, e o custo dos suplementos comerciais era muito elevado. Além disso, não havia uma aplicabilidade de componentes funcionais nutracêuticos que melhorassem a qualidade de saúde e bem-estar dessas idosas”, conta Sérgio Henrique.
O buriti foi escolhido em razão das propriedades nutricionais ainda pouco aproveitadas pela indústria. “Ele pode ser considerado um ‘superalimento’, capaz de gerar benefícios em múltiplas áreas da saúde. Destacamos a alta concentração de vitaminas e minerais, a grande quantidade de fibras e de substâncias (flavonoides e fitoesteroides) que comprovadamente beneficiam o metabolismo, a saúde cognitiva e o funcionamento intestinal, o que impacta o bem-estar”, resume o professor.
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