Menopausa: canetas emagrecedoras e suplementos resolvem?
Endocrinologista explica como a menopausa vai muito além da vida sexual, trazendo riscos à saúde, à autoestima, à família e até à carreira das mulheres
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Siga noEm entrevistas à imprensa e nas redes sociais, algumas atrizes vêm contando como a ausência de desejo sexual afetou a autoestima e o relacionamento com o parceiro em função da menopausa. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 30 milhões de mulheres no Brasil estão vivendo na faixa etária do climatério e menopausa, o equivalente a 7,9% da população feminina. Dessas, cerca de 238 mil foram diagnosticadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por outro lado, a revista científica Climateric indica que 82% das brasileiras nessa faixa etária apresentam sintomas que comprometem sua qualidade de vida.
Segundo a endocrinologista e metabologista Elaine Dias JK, PHD pela USP, “A perda da libido é um dos sintomas mais sensíveis, porque mexe com a intimidade do casal, a feminilidade e a segurança da mulher. Mas a menopausa vai muito além disso: pode comprometer a saúde física, a estabilidade emocional e até o desempenho no trabalho, já que sintomas como cansaço, insônia e dificuldade de concentração são frequentes e muitas vezes ignorados”, explica.
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Devo me preocupar?
A médica alerta que a menopausa silenciosa é uma das principais razões pelas quais tantas mulheres sofrem em silêncio. “Nem sempre a paciente percebe que está nessa fase. Muitas vezes, ela associa alterações de humor, ganho de peso, irritabilidade ou baixa energia ao estresse do dia a dia, quando na verdade são manifestações do climatério. Isso adia a busca por ajuda e agrava o impacto”, reforça.
Entre os riscos mais relevantes, Elaine traz um destaque sobre a obesidade abdominal, que se torna mais comum com a queda hormonal. “Esse acúmulo de gordura na região da cintura não é apenas estético: ele está diretamente ligado ao aumento da resistência à insulina, ao risco de diabetes tipo 2 e a doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte entre mulheres após os 50 anos”, completa.
No campo emocional, a endocrinologista lembra que os efeitos podem ser devastadores. “A autoestima despenca, a mulher se sente menos produtiva, insegura no relacionamento e, muitas vezes, invisibilizada socialmente. É um ciclo que precisa ser quebrado com informação, acolhimento e tratamento especializado”, afirma.
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E como resolver?
O tratamento, segundo a especialista, deve ser individualizado, combinando mudanças no estilo de vida, reposição hormonal quando indicada e acompanhamento constante. “Com orientação médica adequada, é possível resgatar a libido, equilibrar os sintomas, reduzir os riscos de doenças e manter uma vida ativa, plena e saudável”, orienta.
Para Elaine, é importante celebridades como Fernanda Lima e Claudia Raia falarem abertamente sobre o tema. “Quando mulheres com tanta visibilidade compartilham sua experiência, elas mostram para milhares de outras que não estão sozinhas. Minimizam o tabu em torno da menopausa e incentivam o cuidado com a saúde feminina nessa fase da vida”, comenta.
Quais os riscos?
A endocrinologista explica que, nessa fase da mulher, a queda dos níveis de estrogênio provoca desaceleração do metabolismo, favorece o acúmulo de gordura visceral e reduz a massa muscular. Estudos apontam que até 60% das mulheres no climatério e na menopausa desenvolvem obesidade abdominal, um tipo de acúmulo de gordura que se concentra na região da cintura e que está diretamente ligado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, metabólicas, resistência insulínica, diabetes tipo 2 e inflamações crônicas.
"A gordura abdominal é muito mais perigosa do que o acúmulo de gordura em outras partes do corpo, pois está associada a um aumento do risco de doenças metabólicas e cardíacas. Na menopausa, a queda nos níveis de estrogênio favorece o depósito de gordura nessa região, e, por isso, muitas mulheres percebem uma mudança no formato do corpo mesmo sem alterar hábitos alimentares", afirma Elaine.
Segundo a especialista, este processo é biológico, mas pode, e deve, ser controlado com acompanhamento médico e mudanças de estilo de vida. Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de medicamentos como as canetas injetáveis, que auxiliam no controle do apetite, melhoram a sensibilidade à insulina e contribuem para a redução da gordura visceral.
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Alternativas
De acordo com diretrizes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o uso de análogos de GLP-1 e GIP pode ser indicado para mulheres nessa faixa etária que apresentem obesidade ou comorbidades associadas. Outras pesquisas recentes indicam que, além da perda de peso, esses medicamentos contribuem para melhorar o controle da pressão arterial, reduzir a glicemia de jejum e diminuir marcadores inflamatórios.
A médica ainda explica que o tratamento deve ser integrado. “Com a menopausa, o metabolismo desacelera, há ganho de gordura abdominal e queda da massa muscular. Nesse contexto, as canetas emagrecedoras são aliadas, mas precisam estar associadas a suporte nutricional, musculação, suplementação com proteína, vitamina D e nutrientes essenciais, além de estratégias de reeducação alimentar para evitar o efeito sanfona e preservar a massa magra.”
A nutricionista da Vitafor, Lucila Santinon, comenta: “Com a diminuição brusca do apetite em função do tratamento com as canetas injetáveis, é comum que também haja queda no consumo de proteínas, vitaminas e minerais.”
Ela explica que justamente essa redução pode impactar a preservação da massa muscular, a imunidade, a saúde óssea e até a qualidade da pele, unhas e cabelos. “Quando a ingestão alimentar cai, o risco de deficiências nutricionais aumenta. Esse é um ponto que requer cuidado para não comprometer os resultados do tratamento no médio e longo prazo”, afirma Lucila.
Assim, a nutricionista recomenda o uso de suplementos alimentares, e enfatiza a importância o consumo ser mediante acompanhamento profissional e prescrição por um especialista da saúde. Segundo Lucila, o suporte nutricional ajuda a prevenir deficiências e a manter a saúde de forma equilibrada durante o tratamento, e a assistência garante adequação às necessidades individuais.
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