Falta de informação sobre HPV ameaça prevenção do câncer de colo do útero
Embora o vírus esteja ligado a 99% dos casos da doença e exista vacina disponível, grande parte da população desconhece sua relação com o câncer
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Siga noO câncer segue sendo um dos maiores desafios de saúde pública no mundo. Em 2022, foram registrados 20 milhões de novos casos e mais de 9 milhões de mortes. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, até 2050, esse número suba para mais de 30 milhões de diagnósticos anuais — um aumento de 77% impulsionado pelo envelhecimento populacional e pelos hábitos de vida modernos.
No Brasil, a projeção para o triênio 2023-2025 é de 700 mil novos casos por ano, sendo o câncer de mama, próstata, colorretal e pulmão os mais incidentes. Apesar da gravidade do cenário, especialistas lembram que parte dessas ocorrências poderia ser evitada com ações de prevenção, entre elas, a vacinação contra o HPV (papilomavírus humano), responsável por praticamente todos os casos de câncer de colo do útero.
"Para alguns tipos de câncer há vacina, como câncer no fígado, prevenido pelo imunizante contra hepatite B; e a vacina do HPV, que previne o papilomavírus humano", pontua Márcia Datz Abadi, oncopediatra e diretora médica da MSD Brasil.
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De acordo com a especialista, os fatores de risco aumentam expressivamente, necessitando de uma maior conscientização e prevenção, como no caso do câncer de pulmão, que tem como principal fator de risco o tabagismo. "A neoplasia é responsável por 25% das mortes por câncer."
Um vírus comum, mas pouco conhecido
O ginecologista Valentino Magno, membro da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo, destaca que o HPV é um dos vírus mais frequentes entre humanos: entre 80% e 85% da população terá contato com ele em algum momento da vida. “No mundo, cerca de 5% de todos os cânceres têm relação com o HPV. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, esse número pode chegar a 15% entre as mulheres”, afirma.
O câncer do colo do útero é o que mais preocupa. Todos os anos, cerca de 19 mulheres morrem por dia no Brasil em decorrência da doença, que é a segunda maior causa de crianças órfãs de mãe no mundo, atrás apenas do câncer de mama. “Cada caso poderia ter sido evitado. O útero é onde a vida começa, não onde ela deve terminar”, reforça Valentino.
Apesar disso, a desinformação ainda é um obstáculo. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela MSD em parceria com o Grupo EVA, revelou que 60% das mulheres entrevistadas não não sabem que o HPV está por trás de 99% dos casos de câncer de colo do útero. Três em cada dez (29%) não sabem para que serve o exame preventivo (papanicolau) e 39% não têm ciência de que há prevenção contra a doença.
"Essa pesquisa quantitativa foi realizada em âmbito nacional, com foco no conhecimento sobre a câncer de colo do útero. 'O que é que essas mulheres sabem sobre o câncer de colo do útero? O que elas sabem sobre vacina e medidas preventivas e qual a importância que elas dariam para a informação para evitar esse câncer?'", explica Alexandre Damasceno, gerente de marketing na área de vacinas da MSD.
"Cerca de 25% acha que a vacina só é indicada para quem tem mais de um parceiro sexual. Outro mito. Está errado também falar que não precisa tomar, pois já teve a primiera relação sexual. Mulheres solteiras e casadas têm benefícios com a vacina", complementa.
Adesão ainda é baixa
A vacina contra o HPV está disponível no Brasil desde 2014 pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), inicialmente para adolescentes de 9 a 11 anos e hoje ampliada também meninos e meninas de até 14 anos; pessoas imunocomprometidas; e usuários de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e vítimas de violência sexual. Ela protege contra os subtipos mais agressivos do vírus. Na rede privada, há versões mais abrangentes, capazes de prevenir contra nove tipos de HPV.
No entanto, a adesão ainda é insuficiente. O levantamento do Instituto Locomotiva mostrou que 4 em cada 10 mulheres entre 18 e 45 anos não tomaram a vacina ou não se lembram de ter recebido. Entre os motivos mais citados, estão a percepção de que já “passaram da idade” para se vacinar, a ideia equivocada de que a imunização só é necessária para quem tem múltiplos parceiros e o mito de que não é útil após o início da vida sexual.
Prevenção
Para os especialistas, a combinação entre vacinação e exames regulares poderia levar à erradicação do câncer de colo do útero nas próximas décadas, como já acontece em países como a Austrália e a Escócia. No entanto, a chave é ampliar a conscientização.
“Não existe nenhum câncer que a gente consiga evitar tanto quanto o de colo do útero. Temos um vírus identificado, exames para detectar lesões pré-câncer e uma vacina eficaz. O que falta é informação para que mais pessoas se protejam”, Valentino.