Câncer de cabeça e pescoço: Anvisa aprova tratamento localmente avançado
Indicação inovadora foi mostrada no primeiro estudo com resultados positivos em mais de 20 anos para pacientes com um tipo comum do tumor, removido por cirurgia
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A MSD anuncia que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nessa semana o pembrolizumabe para o tratamento de câncer de cabeça e pescoço localmente avançado.
Após mais de duas décadas sem mudança substancial no tratamento para este perfil de paciente, o estudo KEYNOTE-689, apresentado em importantes encontros internacionais de câncer, indicou que adicionar o medicamento antes e depois da cirurgia pode estar associado a um aumento de tempo em que os pacientes permanecem sem que a doença volte ou piore, além de potencialmente melhorar a chance à resposta ao tratamento.
Historicamente, esse tipo de câncer é tratado com cirurgia para remoção do tumor, seguida de quimioterapia e radioterapia. Porém, os resultados são frequentamente insatisfatórios e trazem efeitos adversos graves. Apresentado na Reunião Anual da Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR) e na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o estudo KEYNOTE-689 pode mudar o desfecho para esses casos.
Para Fátima Matos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), o estudo traz novas perspectivas para o tratamento. "Para pacientes e famílias que enfrentam prognósticos limitados, este estudo e nova indicação traz uma mudança para esse cenário. Para além de números, estamos falando sobre um maior tempo de vida com mais saúde, menos recidivas e a possibilidade de construir um futuro com mais qualidade."
"Além disso, oferece maior chance de retomar atividades do dia a dia, reduzir a necessidade de tratamentos agressivos e preservar a dignidade do paciente durante e após o tratamento", comenta Fátima.
Abandone o vape
Também é essencial destacar a prevenção, especialmente diante da estimativa do INCA para cada ano do triênio de 2023 a 2025, que é de mais de 15 mil novos casos na cavidade oral, sendo o oitavo câncer mais frequente.
A diretora médica da MSD, Márcia Datz Abadi, explica que "a prevenção continua sendo nossa principal ferramenta: reduzir fatores de risco conhecidos — como tabagismo e consumo excessivo de álcool — e alertar sobre os potenciais danos do uso de vapes e cigarros eletrônicos, que podem conter metais e outros compostos tóxicos capazes de irritar a mucosa nasal, a faringe e a laringe, sugerindo potencial para lesões das vias aéreas."
"Embora não haja rastreio populacional padronizado para câncer de cabeça e pescoço, é fundamental fortalecer a detecção precoce por meio da vigilância clínica, do acesso rápido a consultas especializadas e da capacitação de profissionais para identificar sinais e sintomas iniciais", diz Márcia.
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Sobre o estudo
O KEYNOTE-689 foi um estudo clínico de fase 3, randomizado, multicentrico, aberto e com controle ativo, que avaliou o perfil de eficácia de pembrolizumabe administrado antes (neoadjuvante) e depois (adjuvante) da cirurgia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado e ressecável.
Setecentos e quatorze (714) pacientes foram incluídos no estudo e randomizados 1:1 para receber:
- 2 ciclos de pembrolizumabe antes da cirurgia, seguido por 3 ciclos de pembrolizumabe em combinação com radioterapia com ou sem quimioterápico cisplatina e até mais 12 ciclos de pembrolizumabe
- Terapia padrão, com radioterapia com ou sem quimioterápico cisplatina após cirurgia
O desfecho principal avaliado foi sobrevida livre de eventos (SLE), definido como o tempo desde a randomização até a primeira ocorrência de qualquer um dos seguintes eventos:
- Progressão da doença que impossibilitou a cirurgia definitiva
- Progressão ou recidiva local ou à distância da doença
- Morte por qualquer causa
Os resultados mostraram que aqueles que receberam esse tratamento viveram, em média, quase 52 meses sem que a doença voltasse, enquanto os que receberam o tratamento tradicional apresentaram uma taxa de sobrevida de cerca de 30 meses. Além disso, o grupo tratado com pembrolizumabe apresentou uma resposta patológica maior em aproximadamente 10% dos casos, comparado a 0% no grupo controle.
Resultados
Após um acompanhamento médio de 38,3 meses, os dados mostram que o tratamento com pembrolizumabe antes da cirurgia (chamado de neoadjuvante), seguido da combinação com radioterapia padrão (com ou sem o medicamento cisplatina) após a cirurgia, e depois pembrolizumabe sozinho (chamado de adjuvante), reduziu em 27% o risco de que o câncer volte ou piore na população geral. Essa redução foi ainda maior em alguns grupos específicos de pacientes.
- População com CPS 10: A mediana da SLE (Sobrevida Livre de Eventos) foi de 59,7 meses no grupo que recebeu pembrolizumabe, em comparação com 26,9 meses no grupo de tratamento padrão.
- População com CPS 1: A mediana da SLE foi de 59,7 meses para o grupo com pembrolizumabe, em comparação com 29,6 meses no grupo controle.
- População com Intenção de Tratar (ITT): A mediana da SLE foi de 51,8 meses no grupo com pembrolizumabe versus 30,4 meses no grupo de tratamento padrão.
Quanto ao perfil de segurança, o pembrolizumabe teve um perfil aceitável, com efeitos adversos semelhantes entre os grupos que receberam os tratamentos. Embora o grupo que recebeu o medicamento tenha apresentado mais reações relacionadas ao sistema imunológico, essas foram, na maioria das vezes, bem controladas. Os efeitos adversos mais comuns foram causados pela quimioterapia e radioterapia, e não foram encontrados novos sinais de segurança.
Futuro do Tratamento
Os resultados do estudo KEYNOTE-689 não só criam um novo padrão de tratamento, como também abrem caminho para novas pesquisas sobre como combinar outras terapias e usar a imunoterapia em cirurgias.
Um dos principais pesquisadores, Ravindra Uppaluri, MD, PhD e diretor de oncologia cirúrgica de cabeça e Pescoço no Brigham and Women's Hospital e no Dana-Farber Cancer Institute, destacou a importância desses resultados: “O padrão atual de tratamento foi estabelecido há mais de 20 anos e, apesar do tratamento multimodal, tem resultados abaixo do ideal. Os resultados do KEYNOTE-689 indicam uma evolução em relação ao padrão atual de tratamento”.
A pesquisa contínua é vital para entender melhor como essas novas abordagens podem ser implementadas na prática clínica.
O estudo KEYNOTE-689 marca um avanço importante no tratamento do carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, trazendo novas opções para pacientes e profissionais de saúde. Com o progresso das pesquisas, espera-se que estratégias ainda mais eficazes possam melhorar os resultados e a qualidade de vida das pessoas afetadas por essa doença.
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