Mulher fazendo autoexame de mama

Mulher fazendo autoexame de mama

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S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O abemaciclibe, droga para tratamento de c�ncer de mama de alto risco, teve sucesso na redu��o de 32% do risco de recidiva, isto �, de retorno do tumor, ap�s cinco anos de uso do medicamento.

Al�m disso, a droga tamb�m mostrou benef�cios compar�veis ao uso por dois anos, indicando uma maior chance de sobrevida livre da doen�a no intervalo analisado, com um perfil de seguran�a (incid�ncia de efeitos adversos) tamb�m elevado.

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Os resultados do estudo global monarchE, conduzido pela fabricante Eli Lilly, foram apresentados na �ltima semana no Esmo (Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia, em ingl�s), que aconteceu de 20 a 24 de outubro, em Madri (Espanha).

O abemaciclibe (comercializado pelo nome Verzenios) � um inibidor de ciclina indicado como terapia hormonal adjuvante para pacientes com c�ncer de mama receptor hormonal positivo ou duplo negativo (HR+/HER2-) com linfonodo positivo e alto risco de recidiva. De acordo com estimativas do Inca (Instituto Nacional do C�ncer), s�o esperados 73 mil novos casos de c�ncer de mama para o tri�nio 2023-2025, com aproximadamente 65% dos casos receptores hormonais positivos. Destes, cerca de um quinto � considerado de alto risco.

"Os tumores de mama HR+/HER2- de alto risco s�o mais ou menos 50% a 60% dos casos, ent�o estamos falando de um n�mero elevado de mulheres que podem ter alto risco de recorr�ncia", explica a oncologista Laura Testa, pesquisadora brasileira � frente do estudo global.

O abemaciclibe foi aprovado em 2019 pela Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) para uso no Brasil e incorporado ao SUS (Sistema �nico de Sa�de) pela Conitec (Comiss�o Nacional de Incorpora��o de Tecnologias ao SUS) em 2021, junto com outras drogas similares mas, como mostrou reportagem da Folha de julho, passados dois anos desde a incorpora��o, as terapias ainda n�o est�o dispon�veis no sistema p�blico.

H�, tamb�m, barreiras no acesso aos medicamentos via sa�de suplementar. O abemaciclibe n�o faz parte do rol de medicamentos com cobertura obrigat�ria dos planos de sa�de pela ANS (Ag�ncia Nacional de Sa�de Suplementar) para tratamento de c�ncer de mama precoce. Uma consulta p�blica estava aberta at� a �ltima ter�a (24) para avalia��o e sugest�es do p�blico e sociedade especializada. Agora, a ag�ncia deve analisar as sugest�es e coment�rios enviados e decidir a favor ou contra a incorpora��o.

No estudo da Lilly, foram avaliadas 5.600 pacientes com c�ncer de mama HR+/HER2- linfonodo positivo com alto risco de recorr�ncia em 38 pa�ses, incluindo o Brasil. Elas foram divididas em dois grupos, um que recebeu s� a terapia hormonal tradicional (controle) e um com terapia hormonal em conjunto com o abemaciclibe (bra�o tratado). O acompanhamento m�nimo das pacientes foi de cinco anos —mas resultados do acompanhamento com 17, 27 e 42 meses j� tinham sido avaliados pelos pesquisadores.

Nesta nova etapa, a farmac�utica comprovou a efic�cia da droga na redu��o do risco de retorno do tumor por pelo menos cinco anos. "Os dados mostraram claramente o benef�cio do medicamento sustentado a longo prazo, que vai al�m do t�rmino do tratamento por dois anos, refor�ando o papel do medicamento, em conjunto com a terapia end�crina, para pacientes com alto risco", afirmou Nadia Harbeck, diretora do Centro de Mama e pesquisadora principal do monarchE.

Cerca de 80% dos participantes conclu�ram o per�odo de acompanhamento de cinco anos. A mediana de acompanhamento foi de 4,5 anos, ainda de acordo com os dados do estudo.

Segundo D�bora Gagliato, oncologista do Hospital Benefic�ncia Portuguesa, em S�o Paulo, e que esteve no congresso na �ltima semana, a toxicidade do abemaciclibe foi considerada leve, ou seja, os efeitos adversos do medicamento n�o afetaram na qualidade de vida das pacientes. "Inclusive, comparando os dois bra�os, o que usou abemaciclibe e o que usou a terapia hormonal isolada, a qualidade de vida das pacientes foi semelhante, sendo o principal efeito adverso da terapia a diarreia mas, em geral, leve e que pode ser tratada eventualmente com o uso de alguns medicamentos", disse.

Entre os demais efeitos colaterais registrados est�o a neutropenia (contagem baixa de neutr�filos ou gl�bulos brancos no sangue), fadiga, artralgia (desconforto f�sico nos ossos), sensa��o de calor e febre.

Outro dado importante observado na pesquisa � que a redu��o da dosagem n�o levou a uma piora no desfecho, indicando que a adapta��o da dose segundo o desejo da paciente pode ser considerada, quando necess�rio. "Se a paciente come�a com a dose prescrita em bula mas precisa reduzir, n�o h� perda do benef�cio. Essa � a mensagem", explica Gagliato.

Apesar dos resultados promissores, n�o � poss�vel ainda associar o abemaciclibe � "cura" do c�ncer de mama. Isto porque esta � definida quando n�o h� nenhum novo foco de tumor por um per�odo m�nimo de cinco anos ap�s a terapia, enquanto a remiss�o � caracterizada pela aus�ncia de focos de tumor no corpo.

"Gosto de perguntar para as minhas pacientes qual a expectativa de cura. O que a gente sabe � que este tratamento apresentou, dentre as pacientes avaliadas globalmente, uma taxa importante de mulheres com redu��o no risco de recorr�ncia, mas ainda � cedo para falar de cura", afirma Testa.

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