S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mais de metade das mulheres que procuraram o SUS (Sistema �nico de Sa�de) para tratar c�ncer de mama nos �ltimos tr�s anos buscou cuidados de forma tardia. Ao receberem o diagn�stico, elas j� estavam com a doen�a em est�gios avan�ados ou metast�ticos, segundo dados do Minist�rio da Sa�de, dispon�veis na plataforma Radar do C�ncer.
Quanto mais r�pido o c�ncer � detectado, por�m, maiores as chances de tratamento e cura. Em 2015, o Inca (Instituto Nacional do C�ncer) estabeleceu diretrizes para a detec��o precoce do c�ncer de mama. Entre elas, est� a indica��o do rastreamento (exame em mulher que n�o tem sintomas) feito com mamografia — procedimento de rastreio por imagem no tecido mam�rio que pode detectar n�dulos ainda n�o palp�veis.
Ainda existem, por�m, d�vidas sobre a realiza��o do exame. Em alguns locais, por exemplo, a mamografia � ofertada para mulheres entre 40 e 69 anos, enquanto em outros, a partir de 50. Algumas das unidades m�veis tamb�m n�o atendem mulheres que j� fizeram cirurgias nas mamas.
Por isso, a Folha de S.Paulo procurou ginecologistas, mastologistas e oncologistas para responder as principais d�vidas sobre o procedimento.
IDADE RECOMENDADA PARA A MAMOGRAFIA
O rastreamento com mamografia � recomendado para mulheres entre 40 e 69 anos, que t�m maior risco de c�ncer de mama, segundo o m�dico Felipe Zerwes, presidente da Comiss�o de Mastologia da Febrasgo (Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia). Exce��es � regra, segundo ele, s�o pacientes com risco aumentado para c�ncer devido a hist�rico familiar.
"O que se recomenda s�o h�bitos de vida saud�veis, o autoexame mensal e o exame f�sico com um profissional de sa�de periodicamente", afirma. No SUS, por�m, os exames s�o autorizados para mulheres entre 50 e 69 anos, explica ele.
DIFEREN�A DE IDADE ENTRE SUS E REDE PARTICULAR PARA MAMOGRAFIA
O SUS segue as diretrizes do Inca, nas quais a mamografia de rastreamento � indicada para pacientes de 50 anos com periodicidade bienal, ou seja, uma vez a cada dois anos.
"Quando a gente faz mamografia em pacientes abaixo de 50 anos, existe a possibilidade, devido �s mamas mais densas, de achar o que a gente chama de falsos negativos, nos quais o exame n�o detecta a les�o, e tamb�m de falsos positivos, que sugere uma les�o que pode n�o ser nada. A avalia��o do Inca � a que seria mais custo efetivo", diz Zerwes.
Por outro lado, essa n�o � a recomenda��o das sociedades cient�ficas, como a Febrasgo (Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia), Col�gio Brasileiro de Radiologia, Sociedade Brasileira de Mastologia e Sociedade Brasileira de Oncologia Cl�nica, que sugerem 40 anos como idade ideal para come�ar a fazer o exame de rastreamento, al�m de periodicidade anual.
"Assim podemos fazer o diagn�stico do c�ncer de mama em mulheres jovens e num intervalo de tempo menor, com maiores chances de cura", diz Vanessa Donatelli, mastologista da Rede de Hospitais S�o Camilo de S�o Paulo.
A RADIA��O DA MAMOGRAFIA � PREJUDICIAL?
O exame, que trata-se de um raio-x, tem radia��o baixa. Portanto, n�o h� raz�es para preocupa��o, segundo especialistas. "A radia��o emitida na mamografia n�o causa nenhum dano � mulher. Muito pelo contr�rio, d� a chance de fazer o diagn�stico precoce do c�ncer de mama e se curar", diz Donatelli.
Existem t�cnicas e equipamentos que podem ser utilizados para proteger a paciente da radia��o, caso ela esteja muito preocupada, afirma a oncologista Juliana Martins Pimenta, da Benefic�ncia Portuguesa de S�o Paulo. Mas, segundo ela, o benef�cio de se realizar a mamografia � muito maior do que qualquer risco atrelado ao exame."A gente n�o associa a realiza��o da mamografia a um risco maior de desenvolvimento de c�ncer e isso n�o contraindica a realiza��o do exame de forma alguma. A mamografia permitiu a detec��o precoce do c�ncer de mama e, dessa forma, j� faz alguns anos que a gente tem reduzido a mortalidade".
QUEM TEM SILICONE PODE FAZER MAMOGRAFIA?
Quem tem pr�tese de silicone tamb�m pode fazer o exame.
"Eventualmente s�o necess�rias algumas imagens adicionais, mas isso n�o impede a realiza��o do exame e permite tamb�m, com as t�cnicas atuais de mamografia, uma avalia��o bem adequada do tecido mam�rio. O ultrassom pode ser utilizado para complementa��o. � comum a gente fazer essa combina��o, para ajudar na detec��o de eventuais n�dulos suspeitos e pode ser solicitado tamb�m uma resson�ncia se restar alguma d�vida", afirma Pimenta.
Durante o exame, o respons�vel tamb�m pode fazer uma manobra, um "afastamento posterior" do implante de silicone na mama da paciente antes de ser colocada no mam�grafo, diz Donatelli.
QUEM TEM SEIOS DENSOS DEVE SE PREOCUPAR?
Nas mulheres com seios densos, as mamas possuem pouca gordura (tecido adiposo) e muitas gl�ndulas (tecido glandular). Elas precisam ficar mais atentas a n�dulos, segundo Zerwes.
"Elas t�m um discreto aumento de risco de c�ncer de mama e normalmente a mamografia tem que ser complementada pela ultrassonografia mam�ria. Em casos especiais, se houver alguma d�vida, [deve ser complementada] por resson�ncia magn�tica mam�ria", afirma o m�dico.
GESTANTES PODEM FAZER MAMOGRAFIA?
Especialistas n�o recomendam a realiza��o do exame em gestantes por causa da radia��o, que pode ser prejudicial para a forma��o do feto. O Inca, por�m, afirma que a mamografia pode ser feita com avental de chumbo para proteger o abd�men, embora os c�lculos de exposi��o de radia��o ao �tero, segundo a institui��o, sugiram que n�o existe virtualmente nenhuma radia��o que alcance o feto se utilizado o equipamento adequado.
Lactantes, por outro lado, podem realizar o exame, diz Donatelli. Segundo recomenda��o do Inca, o rastreamento costuma ser evitado durante a amamenta��o porque a densidade mam�ria fica significativamente aumentada nesse per�odo, diminuindo a sensibilidade do m�todo para a detec��o do c�ncer.
HOMEM TAMB�M FAZ MAMOGRAFIA?
Homens tamb�m podem ter c�ncer de mama, apesar dos casos serem raros. Eles devem prestar aten��o ao c�ncer de mama quando tem uma hist�rico familiar de doen�a, segundo Zerwes, mas n�o h� uma recomenda��o formal para a realiza��o do exame em homens — mesmo em pacientes com muta��o que aumenta o risco da doen�a.
"O homem deve, �s vezes, poupar a sua mama, mas se ele n�o tem uma hist�ria familiar, a probabilidade de ter c�ncer � muit�ssimo baixa. Qualquer altera��o, sinal ou sintoma, como n�dulo, dor ou secre��o, por sua vez, ele tem que procurar um servi�o de sa�de, porque pode sim ter c�ncer de mama", afirma o m�dico.
J� para homens trans n�o submetidos a mastectomia, existe a op��o de rastreamento no SUS desde 2022 e as recomenda��es s�o as mesmas feitas �s mulheres.
Em 2022, foram realizadas 4.239.253 mamografias em mulheres no SUS. Em homens, foram realizadas 8.719 mamografias, incluindo para fins diagn�sticos e de rastreamento.
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