Cuidado emocional é fundamental para neurodivergentes
Especialista explica como o acolhimento e terapias personalizadas podem reduzir quadros de ansiedade e depressão entre autistas e pessoas com TDAH
compartilhe
SIGA

No Dia Mundial da Saúde Mental, lembrado nesta sexta-feira (10/10), especialistas reforçam que o bem-estar emocional deve ser uma prioridade para todos — especialmente para neurodivergentes, como autistas, pessoas com TDAH, dislexia e outras condições neurológicas. Estudos internacionais apontam que esses grupos têm maior risco de desenvolver ansiedade, depressão e pensamentos suicidas, o que torna o tema ainda mais urgente.
O conceito de neurodiversidade se baseia na ideia de que há múltiplas formas de o cérebro humano funcionar — todas igualmente válidas. No entanto, pessoas neurodivergentes ainda enfrentam pressões sociais para se adequar a padrões de comportamento e produtividade, o que frequentemente gera sobrecarga emocional, isolamento e esgotamento.
- Como contar para o seu filho que ele é neurodivergente
- Projeto leva capacitação sobre TDAH a professores de BH
Segundo o IBGE, são 2,4 milhões de brasileiros diagnosticados com TEA, correspondendo a 1,2% da população com dois anos ou mais. A maior prevalência está em crianças de 5 a 9 anos, com 2,6% diagnosticadas — uma em cada 38 crianças.
Desafios vão além do diagnóstico
A pesquisa “Retratos do Autismo”, realizada pela Genial Care, aponta que 49% dos autistas já apresentaram comportamentos de autolesão e 7% tentaram tirar a própria vida. Outro ponto que merece atenção é a saúde emocional dos cuidadores de pessoas neurodivergentes.
O estudo “Cuidando de quem cuida”, também divulgado pela Genial Care, mostrou que 86% dos cuidadores de crianças com autismo são mães. Entre eles, 68% relatam não ter tempo para si, e 47% das mães relatam sentir culpa pela condição dos filhos — um peso que amplia o desgaste físico e psicológico.
“Pessoas neurodivergentes enfrentam desafios que vão muito além do diagnóstico. Elas convivem com sobrecarga sensorial, exigências sociais e uma busca constante por pertencimento e inclusão. Por isso, falar de saúde mental nesse contexto é falar de acolhimento, empatia e inclusão”, afirma a vice-presidente clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias, Thalita Possmoser.
Leia Mais
Dia da Saúde Mental
Instituída pela Federação Mundial de Saúde Mental em 1992, a data tem como objetivo mobilizar governos e sociedade para discutir o tema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a saúde mental um dos principais desafios contemporâneos, especialmente após a pandemia de Covid-19, que causou um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão em todo o mundo.
No Brasil, o Atlas de Saúde Mental Mundial de 2020 mostra que fatores como condições socioeconômicas, exclusão social e sobrecarga familiar estão diretamente ligados ao agravamento de transtornos mentais — um cenário ainda mais complexo para quem vive com neurodivergências.
Caminhos para um cuidado mais inclusivo
Garantir uma boa saúde mental para pessoas neurodivergentes passa por compreender suas necessidades específicas e criar estruturas de apoio personalizadas. Segundo Thalita, o acompanhamento interdisciplinar é o que permite resultados mais consistentes.
“Cuidar da saúde mental de uma pessoa neurodivergente não é apenas oferecer terapia, e sim construir um ecossistema de suporte. Envolve orientar a família, ajustar o ambiente, capacitar profissionais e garantir continuidade no cuidado”, destaca.
- TDAH: pacientes apontam mitos e dicas de apoio a neurodivergentes
- A síndrome de Alice no País das Maravilhas e outras 4 condições psiquiátricas raras
A especialista aponta algumas estratégias práticas que podem fazer diferença neste cuidado.
- Intervenções terapêuticas: encontrar terapias que mais se adaptam às necessidades de pessoas neurodivergentes é uma forma de oferecer ferramentas para lidar com pensamentos negativos e desenvolver habilidades sociais
- Terapia ocupacional focada em integração sensorial: pessoas com autismo, dislexia ou TDAH podem se beneficiar de terapias que ajudem a regular a resposta sensorial ao ambiente, criando maneiras de ter menos crises e desregulação por conta dos estímulos
- Redes de apoio: grupos de apoio formados por pessoas neurodivergentes podem oferecer um espaço seguro para compartilhamento de experiências e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Isso também se aplica às pessoas cuidadoras
- Ações de autocuidado: rotinas de autocuidado devem considerar os desafios específicos enfrentados por pessoas neurodivergentes, como hipersensibilidade sensorial. Técnicas e estratégias que respeitem os limites sensoriais de cada pessoa são fundamentais para a realização destas ações
Um convite à empatia e à ação
Cuidar da saúde mental é um direito de todos. Porém, é preciso compreender que as pessoas neurodivergentes necessitam de políticas públicas, profissionais preparados e espaços que acolham suas singularidades.
“O cuidado com a saúde mental deve ser contínuo na vida das pessoas neurodivergentes, não somente quando há crise. Quanto mais cedo o suporte especializado é oferecido, maiores são as chances de autonomia, qualidade de vida e bem-estar ao longo da vida”, diz Thalita.
Importante: se você ou alguém próximo está enfrentando sofrimento emocional, procure ajuda especializada. O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio gratuito e sigiloso pelo número 188 ou em cvv.org.br.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia