A facilidade de obter informações de forma sigilosa, rápida e gratuita favorece o uso dos sites de busca por qualquer tema. E, quando se trata de saúde, que é motivo de preocupação e angústia, esse é um caminho visto como bastante favorável.

A busca online também pode refletir a dificuldade no acesso à saúde por uma grande parcela da população, que encontra na rede uma alternativa à demora ou à falta de acesso real a profissionais e serviços de saúde.

Fontes confiáveis 

Segundo Barbra Azevedo, coordenadora do Curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi/ Inspirali, este pode ser um ato seguro, desde que sejam consultadas em fontes corretas como Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sociedades médicas, hospitais ou centros médicos reconhecidos e artigos médicos indexados, e desde que o paciente tenha discernimento o suficiente para filtrar as informações.

“Uma grande preocupação é o quanto uma informação obtida possa impactar a saúde mental de quem a busca, já que é muito frequente haver um exagero na forma como são colocados sintomas e os prováveis diagnósticos advindos deles. Por exemplo, ao buscar pela causa da sua dor de cabeça, que pode ser simplesmente tensional, o paciente pode terminar a pesquisa certo de que tem um tumor cerebral, sem ter a quem recorrer, naquele momento, para acolher a enorme angústia advinda dessa trágica sentença”, declara.

Para orientar a população sobre este tema tão importante, Barbra responde algumas dúvidas frequentes. Confira:

Quais os riscos de procurar respostas sobre saúde na internet?

Os principais riscos envolvem:

  • Autodiagnóstico incorreto, já que muitos sintomas são comuns a várias doenças
  • Basear-se em fontes não confiáveis, uma vez que qualquer pessoa, inclusive sem nenhuma formação médica, pode publicar um conteúdo online
  • Fazer tratamentos inadequados ou perigosos, inclusive com produtos ditos naturais, que podem causar reações adversas graves, interações medicamentosas e até o agravamento da doença em si
  • O possível atraso no diagnóstico real, que pode comprometer ainda mais a condição de saúde.

Essa é uma prática que chama a atenção das autoridades em saúde hoje?

Tanto o Ministério da Saúde quanto o Conselho Federal de Medicina costumam realizar campanhas de conscientização à cerca dos riscos tanto do autodiagnóstico quanto da automedicação, já que, com a facilidade de acesso à informação, essas têm sido práticas cada vez mais frequentes.

A pandemia de COVID, por exemplo, mobilizou a pasta da saúde e a Anvisa a criarem uma campanha de combate às fakes news, tamanha a preocupação com a enxurrada de informações errôneas difundidas nas redes. 

Como os médicos orientam e estimulam seus pacientes a não realizarem esta prática?

O papel do médico nunca deve ser o de recriminar o paciente por estar em busca de informações sobre sua própria saúde e sim o de orientá-lo a realizar essa procura com critério e consciência.

Acolher o paciente, através de uma escuta ativa, compreendendo o que ele já sabe à cerca do assunto, bem como os possíveis equívocos envolvidos no processo, fortalece a relação de confiança e permite mais abertura para correções que se farão necessárias para diagnóstico e tratamento adequados.

Tornar o paciente coparticipante do seu processo de cura é a medida mais eficaz na busca por um atendimento integral. 

Você já atendeu algum paciente que foi prejudicado após realizar este tipo de busca na internet? Pode nos contar um resumo sobre o caso?

Muitas vezes. Já tive casos de pacientes com sinais e sintomas claros de câncer que, por se apoiarem em informações de criadores de conteúdo, sofreram prejuízo no diagnóstico e consequentemente atraso no tratamento.

Me deparei também com pacientes fazendo uso de medicações de forma inadvertida, com inúmeros efeitos colaterais, porque viram na internet que seria bom para seu caso.

Infelizmente, é tanta desinformação jogada diariamente na internet que se tornou uma luta injusta de quem se sente responsável por combater esse desserviço, principalmente porque, muitas vezes, o paciente prefere acreditar em todo mundo, menos no médico.

Quais os riscos da automedicação?

Muitos medicamentos podem causar efeitos inesperados, reações adversas graves e danos irreversíveis à saúde. Poucas pessoas sabem que um simples paracetamol pode levar a um quadro de insuficiência hepática e morte. Interações medicamentosas geralmente não são conhecidas pela população leiga e podem levar a quadros letais.

Existe, ainda, o risco de determinadas medicações mascararem um quadro de doença grave, como, por exemplo, simplesmente tomar um analgésico e um antitérmico num quadro de apendicite aguda, cuja única resolução é cirúrgica e urgente.

Pessoas que tomam antibióticos por conta própria e, na grande maioria das vezes, sem indicação, favorecem o surgimento de bactérias cada vez mais resistentes, ameaçando não só a saúde individual, mas, a pública global. A dependência e o vício em certas substâncias também constituem uma questão grave em relação à automedicação. 

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