O intersexo é um termo utilizado para um grupo de variações congênitas em que pessoas nascem com o órgão genital com uma aparência diferente da sua realidade cromossômica, onde XX é feminino ou XY é masculino.

Segundo explica o urologista Ubirajara Barroso Jr., Chefe do Departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), as causas podem ser genéticas, estarem relacionadas a uma alteração na divisão celular no momento da formação das gônadas ou na formação da genitália externa e ainda podem ser uma resposta diferente aos hormônios sexuais — testosterona e estrogênio — produzidos pelo corpo.

Segundo a ONU, a condição biológica atinge entre 0,5 e 1,7% da população mundial e se caracteriza por uma inconformidade entre o sexo cromossômico, o sexo gonadal, e o sexo fenotípico, ou seja, como a genitália interna e externa se apresentam.

“Ou seja, uma criança que nasce com o órgão sexual com a aparência de uma vagina, mas na realidade seu cromossomo é XY, ou ao contrário, tem testículos, mas possui cromossomo XX, ou, o que acontece na maior parte das vezes, uma atipia genital com características tanto de pênis, quanto de vagina no mesmo órgão”, explica o médico.

Variações do intersexo

Segundo Ubirajara, o intersexo é uma condição que se apresenta de uma forma diferente e tem as suas especificidades. Essas variações são definidas de acordo com a anatomia sexual, genética ou reprodutiva do paciente. A criança nasce com o cromossomo XY, mas por uma deficiência de 5alfa-redutase, enzima que converte a testosterona em di-hidrotestosterona, principal responsável pela formação do órgão genital masculino, a genitália possui uma característica atípica ou mesmo feminina.

O urologista complementa que a hiperplasia adrenal congênita também pode ser definida como intersexo. Ele detalha que algumas crianças nascem com cromossomo XX (feminino), mas, por haver excesso de hormônio masculino produzido pelas glândulas adrenais, pode ter uma genitália atípica e até desenvolver uma genitália masculina.

“Pela congruência entre o sexo genético (XX), por terem ovários, útero, trompas e vagina, além de a identidade de gênero ser congruente com a da mulher, na maioria dos casos, o sexo de criação tende a ser feminino”, explica Ubirajara, que também é chefe da divisão de cirurgia urológica reconstrutora e urologia pediátrica do Hospital da Universidade Federal da Bahia.

A alteração ovotesticular é outra variação do intersexo. Essa condição ocorre quando o indivíduo possui testículos, mas também ovários. O aspecto do genital é diversificado a depender da predominância de testosterona ou estrogênio, podendo parecer mais com o masculino ou com o feminino.

“Outras vezes, numa mesma gônada há tecido ovariano e tecido testicular e a pessoa vai ter o hormônio predominante aquele que for mais produzido. Então pode haver predominância, se for de estrogênio mais características femininas, se for testosterona mais características masculina”, destaca.

A síndrome de insensibilidade androgênica também se classifica como intersexo. Ela pode ser completa ou parcial. Ubirajara explica que na insensibilidade androgênica completa há produção de testosterona pelos testículos, porém as células do corpo são insensíveis a esse hormônio.

“A genitália externa é semelhante ao de uma pessoa do sexo feminino ao nascer, porém o genótipo é do sexo masculino (XY). Nesses casos há ausência de colo uterino, ovários ou útero, com presença de testículos”, detalha o especialista.

Na insensibilidade androgênica parcial o genótipo também é masculino (XY), mas a genitália externa é parcialmente masculinizada. “Pessoas que têm mais sensibilidade à testosterona terão o órgão genital mais parecido com um pênis”, aponta.

Reconstrução genital

O médico explica que essas atipias genitais podem ser descobertas ao nascimento ou apenas no período da puberdade. Por exemplo, quando a menina não menstrua e, ao fazer uma avaliação, percebe-se que ela tem testículos retidos na barriga; ou um menino que tem um pênis pequeno, ao se avaliar, percebe-se que ele possui ovários.

“Em ambos os casos é possível fazer uma reconstrução genital para propiciar uma melhor qualidade de vida às pessoas intersexo. A atuação médica nesses casos é muito importante para as famílias que devem receber aconselhamento e apoio adequados de modo que nenhum procedimento vá interferir na vida social e sexual dela futuramente”, destaca.

A intersexualidade não está relacionada à orientação sexual. A realização da cirurgia, pela variedade de condições associadas, deve ser discutida individualmente caso a caso.

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