
Costumamos dizer que o c�ncer � um problema fruto do envelhecimento, pois o processo de desenvolvimento de um tumor (chamado carcinog�nese) ocorre em longo prazo. Em geral, os sintomas come�am em torno dos 50, 55 anos.
H�bitos de vida, condi��es ambientais externas, fatores hormonais, exposi��o a subst�ncias qu�micas, radioativas e cancer�genas podem influenciar e acelerar esse processo de carcinog�nese. Alguns casos raros podem realmente fugir �s explica��es cient�ficas j� identificadas.
H�bitos de vida, condi��es ambientais externas, fatores hormonais, exposi��o a subst�ncias qu�micas, radioativas e cancer�genas podem influenciar e acelerar esse processo de carcinog�nese. Alguns casos raros podem realmente fugir �s explica��es cient�ficas j� identificadas.
H� ainda as causas de predisposi��o heredit�ria, que correspondem a uma parcela menor, entre 10% e 15% dos casos. Sabe aquelas pessoas que t�m a vida totalmente saud�vel, dieta impec�vel, rotina esportiva inspiradora e que choca a todos quando s�o diagnosticadas com um tumor? Pode ser um desses casos.
Nas s�ndromes familiares, muta��es em genes espec�ficos alteram o funcionamento celular aumentando as possibilidades de aparecimento de um tumor. Como podem ser passadas de gera��o em gera��o, aumentam o risco de v�rios indiv�duos da mesma fam�lia terem a doen�a.
Nas s�ndromes familiares, muta��es em genes espec�ficos alteram o funcionamento celular aumentando as possibilidades de aparecimento de um tumor. Como podem ser passadas de gera��o em gera��o, aumentam o risco de v�rios indiv�duos da mesma fam�lia terem a doen�a.
Existem in�meras muta��es e cada uma delas pode predispor ao adoecimento de um ou de v�rios �rg�os. N�o � uma senten�a, nem determinismo. Muitos indiv�duos, mesmo tendo as muta��es heredit�rias, podem n�o desenvolver nenhum tumor. E a� est� o pulo do gato: identificar essas pessoas permite que a equipe m�dica elabore todo um planejamento de preven��o para evitar a doen�a.
� poss�vel fazer tamb�m o rastreamento personalizado para que ind�cios pr�-cancer�genos sejam identificados bem precocemente. Esse tipo de estrat�gia em grande escala poderia poupar a vida de milhares de pessoas, uma vez que o diagn�stico precoce pode aumentar o sucesso do tratamento em mais de 90%.
Se a gente considerar que no Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem por ano v�timas do c�ncer e que 15% desses c�nceres s�o causados por alguma S�ndrome Heredit�ria, podemos chegar � conclus�o hipot�tica de que a identifica��o destes pacientes, antes do aparecimento dos sintomas, poderia ter sido um diferencial e potencialmente ter salvo cerca 30 mil vidas por ano.
Normalmente, o teste gen�tico (feito com saliva, sangue e at� tecido de bi�psia em alguns casos) � indicado para pessoas com casos de c�ncer na fam�lia, especialmente aquelas com menos de 50 anos, ap�s a confirma��o do perfil. A gente faz o teste gen�tico na pessoa que teve o c�ncer. E se der positivo, posteriormente, rastreamos os familiares, irm�os, filhos e toda a descend�ncia.
Identificar a presen�a dessas muta��es amplia sobremaneira as possibilidades de preven��o. A primeira a��o � adotar h�bitos de vida positivos: alimenta��o equilibrada com exclus�o de alimentos processados e aumento da ingest�o de frutas, verduras, legumes, gr�os e peixes; n�o fumar; n�o beber; ter os devidos cuidados com a exposi��o ao sol; fazer atividade f�sica, pois, uma vez que a pessoa tenha predisposi��o, precisamos reduzir os riscos adquiridos e ambientais.
Em alguns casos, pode envolver medica��o para evitar o desenvolvimento do tumor, a exemplo no C�ncer de Intestino Heredit�rio (S�ndrome de Lynch), em que indicamos a aspirina, e de alguns casos de S�ndrome de C�ncer de Mama, para quais indicamos tamoxifeno.
Por fim, em alguns casos de predisposi��o muito forte – por exemplo, o c�ncer de mama causado por muta��es nos genes BRCA1 e BRCA2 –, tamb�m indicamos a cirurgia profil�tica, conhecida como Cirurgia Redutora de Risco. A indica��o s� ocorre ap�s analisar todas as condi��es e quando os ganhos s�o realmente vantajosos.
Quando bem indicadas, essas t�cnicas s�o extremamente eficientes. E cabe a n�s geneticistas explicarmos as suas vantagens e desvantagens. Claro que, no final, a decis�o sempre � do paciente. Acredito que, em um futuro pr�ximo, teremos, inclusive, a possibilidade de corre��o do genoma por meio da edi��o do DNA. Mas, por hora, o que podemos fazer � detectar a predisposi��o e, assim, atuar preventivamente.
* Andr� Murad – Oncologista, diretor-executivo da Personal Oncologia de Precis�o e Personalizada e Oncogeneticista no Centro de C�ncer Bras�lia/Cettro