A coluna passa longe desse tipo de assunto, afinal j� bastam as tristezas da vida – para que prestar aten��o e sofrer com outras? Mas um caso tenebroso, ocorrido em outubro de 1974, vai ser mostrado nesta sexta-feira (4), no canal Curta!. Trata-se do filme Opera��o Camanducaia, de Tiago Rezende de Toledo. O document�rio relata a opera��o que, na �poca, chocou o pa�s, mas ficou esquecida na ciranda de desgra�as que enfrentamos todos os dias. Na �poca, a pol�cia despejou na cidade mineira, clandestinamente, crian�as e adolescentes paulistas. Eram 93 crian�as e adolescentes acusados de pequenos delitos, presos de maneira arbitr�ria pela pol�cia e trazidos para a bonita cidade mineira, vizinha de Monte Verde.
Foram todos despidos, espancados e jogados em um barranco perto da cidade. Apenas 41 deles apareceram na cidade na manh� seguinte, machucados, nus e esfomeados, invadindo bares e restaurantes � procura de roupas e comida. Os outros 52 jovens continuam at� hoje com o paradeiro desconhecido. Ocorrida durante o per�odo da ditadura militar, a a��o gerou repercuss�o internacional pela cruel viola��o dos direitos humanos daqueles jovens. Apesar de ter sido denunciado na Justi�a, o caso acabou arquivado no Tribunal de Justi�a de S�o Paulo e segue sem puni��o para os envolvidos.
Na noite de 19 de outubro de 1974, policiais civis selecionaram os menores do sexo masculino, detidos em celas no 3º andar da sede do Departamento Estadual de Investiga��es Criminais de S�o Paulo (DEIC). Os menores foram embarcados em dois �nibus estacionados no p�tio do departamento. Um grupo de policiais fortemente armados se dividiu entre �nibus e uma caminhonete, vigiando os menores, na viagem pela rodovia Fern�o Dias.
Na regi�o de Camanducaia, a caravana de ve�culos estacionou no acostamento do quil�metro 170 da rodovia, pr�ximo a uma ribanceira. Por ordem dos policiais, os menores entregaram seus documentos (que seriam posteriormente rasgados) e se despiram. Nus, foram obrigados a desembarcar dos �nibus mediante golpes de porretes e ataques de c�es policiais. Ali, foram espancados por algum tempo. Ap�s os espancamentos, o grupo de policiais dispararia suas armas ao alto, al�m de amea�ar alvej�-los.
Com medo, alguns menores fugiram do local, enquanto outros se jogaram da ribanceira. Pouco tempo depois, os ve�culos deixavam rapidamente o local rumo a S�o Paulo. A ideia para o filme surgiu a partir da leitura do livro Inf�ncia dos mortos, de Jos� Louzeiro, jornalista que trabalhava na Folha de S. Paulo � �poca e que cobriu o acontecimento. Passeando pelos estilos road-movie, investigativo e filme de di�logo, a produ��o entrevistou mais de 40 pessoas – buscando os envolvidos no caso, principalmente os sobreviventes – e pesquisou em cerca de 1,5 mil p�ginas de documentos e jornais para reconstituir mem�rias, motiva��es e consequ�ncias da opera��o.
Nus, feridos e sofrendo com o frio, os menores vagaram por estradas da regi�o, at� alcan�arem Camanducaia, onde causaram, inicialmente, p�nico entre os moradores. Ainda durante a madrugada, o delegado de Camanducaia comunicou o caso ao secret�rio de Seguran�a P�blica de Minas Gerais. Cerca de 42 menores foram detidos nos arredores da cidade mineira pela Pol�cia Civil do estado.
Ap�s receberem roupas e alimentos, coletados por prostitutas da cidade mineira, os menores foram postos em um �nibus para S�o Paulo. Ao chegarem � capital paulista, foram conduzidos pelo delegado de Camanducaia ao Juizado de Menores. Durante an�lise da documenta��o dos menores, o juiz Artur de Oliveira Costa constatou que 10 a 15 menores n�o tinham cometido crimes anteriormente, sendo apenas abandonados nas ruas pelos pais.
Ap�s a repercuss�o na m�dia, ocorreram tr�s pedidos de apura��o do caso, solicitados pelo juiz de menores Artur de Oliveira Costa, pelo corregedor geral dos Pres�dios, Ricardo La�rcio Talli, e pelo secret�rio de Seguran�a P�blica Erasmo Dias. Por ordem do secret�rio de Seguran�a P�blica, o DEIC abriu sindic�ncia do caso, coordenada pelo delegado Rubens Liberatori. Paralelamente �s investiga��es oficiais, a imprensa continuou apurando o caso.
A sindic�ncia aberta pelo DEIC apresentou o escriv�o Jos� Al�pio como mentor da opera��o, tendo contado com a participa��o de quatro policiais membros da patrulha banc�ria.
Segundo investiga��es, os menores eram transportados pela Fern�o Dias, quando o �nibus que os transportava teve um pneu furado, sendo obrigado a parar no acostamento. Neste momento, eles teriam se aproveitado da distra��o dos policiais e empreendido fuga.
Entretanto, em 21 de novembro, ocorreu uma reviravolta no caso, quando o policial Otac�lio Augusto revelou em depoimento ao juiz corregedor que a sindic�ncia do DEIC era uma farsa para satisfazer a opini�o p�blica e a imprensa.
O caso nunca foi a julgamento por conta da suposta interfer�ncia das autoridades, que foram respaldadas pela ditadura militar.
Em 7 de outubro de 1975, foi concedido, por unanimidade, pelas C�maras Conjuntas Criminais do Tribunal de Justi�a de S�o Paulo, habeas corpus ao delegado Liberatori.
O document�rio Opera��o Camanducaia foi produzido pela Cambu� Produ��es e viabilizado pelo Curta! com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A estreia � na faixa Sexta da sociedade, �s 22h30.