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Quando meu pai se foi, tinha 3 anos. Mas herdei dele um DNA que cultivo

Dr. Chiquito, como � conhecido at� hoje, era m�dico. Gosto de medicina, tenho olho vivo para fazer diagn�sticos r�pidos


11/08/2021 04:00 - atualizado 11/08/2021 06:40

S� pode ser por causa dessa doen�ada f�sica e ps�quica que a COVID-19 vem provocando no mundo que me lembrei de que devia falar de meu pai no �ltimo domingo, quando se comemorava o Dia dos Pais. N�o merecia a pena��o que passei. Meu pai era m�dico e merecia a lembran�a por causa da data e da epidemia que paralisa a vida de muita gente. Descobri, de repente, que n�o sei hist�ria nenhuma sobre ele.

Curiosamente, minha m�e sempre escreveu sobre tudo, tem livro publicado, gostava tanto de ler quanto de escrever. Quando fomos juntas � Europa, ela escrevia de noite sobre tudo o que via e fazia de dia. Encontrei o caderno quando ela se foi – um verdadeiro guia sobre Portugal e um pouco da It�lia. Para suprir a defici�ncia de fatos, tenho fotos variadas de meu pai. Uma das mais importantes me foi enviada por uma amiga da fam�lia, de Santa Luzia, Preta, onde ele aparece jovem, com aquelas duas orelhas bem separadas e grandes, que herdei, e o cabelo partido no meio.

Mas foi um sobrinho-neto que se espantou com outro retrato que tenho com meu pai e alguns amigos, certamente partindo para uma ca�ada. Ele era o mais alto da turma e tinha na m�o uma espingarda imensa, pouco conhecida. O menino se espantou com o tamanho do bisav� e com o tamanho da arma. A foto d� a pista de que ele gostava de ca�ada. Outra pista que tenho � um pequeno chicote de couro com punho de prata – porque, isso eu sabia, como ele era m�dico, sa�a a cavalo quando tinha um paciente que n�o podia ser atendido nem na cidade, nem de autom�vel.

Fato que me lembrou outro dado importante sobre sua personalidade: devia ser um profissional progressista (formou-se no Rio de Janeiro), porque deu � minha m�e, de presente de anivers�rio, uma baratinha. Para quem n�o sabe, era um carro esportivo, bonito, que at� baixava a capota. Ela pegou a chave e acreditou que dirigir era t�o f�cil como tomar conta de filhos (teve nove). Foi subindo a Rua Direita, da porta da casa onde morava com a fam�lia, e n�o muito longe perdeu o controle da baratinha e subiu no passeio. Nunca mais quis guiar na vida, mas gostava bem de circular de autom�vel, em lugar de andar.

A porta da casa onde morava, e de onde saiu, era outra imagem da modernidade de meu pai. Numa cidade s� de casas coloniais, ele comprou um lote imenso, numa esquina, e construiu uma casa que logo foi batizada de bangal�, termo muito comum para identificar casas de fora do pa�s. Era cercado por jardins – fato in�dito na arquitetura colonial, tinha uma larga varanda lateral, com algumas janelas, e era a �rea de acesso ao interior da constru��o. Montou l� seu consult�rio, que era de f�cil acesso para os clientes. A casa, at� onde posso prever, est� l� at� hoje.

Outra casa me d� outra pista de sua figura: quando viemos de vez de Santa Luzia, fomos morar na Rua Piau�, numa casa imensa que ele tinha comprado. O bairro era chamado, como continua a ser at� hoje, de Bairro dos Funcion�rios. Isso porque os funcion�rios p�blicos podiam comprar casas financiadas. A casa era imensa, janelas para o passeio, jardim lateral, com quintal de mais de
60 metros de fundo, cheio de �rvores frut�feras. Peguei ainda os p�s de amora que cresciam nos fundos. Certa vez, quase morri envenenada por sementes de mamona, que eram uma del�cia, torradas pelo sol e veneno puro. Como fui acudida a tempo por m�dico da fam�lia, sobrevivi.

N�o tenho ideia se ele veio clinicar aqui em BH, doente que era do cora��o, problema que nos dias atuais n�o mata ningu�m, basta um pequeno alargamento de art�ria. Mas a verdade � que, aqui ou l�, ficou famoso como o Dr. Chiquito, como � conhecido at� hoje. E em sua lembran�a tenho algumas pe�as que me foram doadas por meu primo e amigo-irm�o M�rcio de Castro Silva: o diploma de formatura, um diploma de benem�rito em tratamento para tuberculosos, um retrato formal de formatura.

Marcinho, que j� se foi, lembrava-se muito de meu pai e n�o escondia que foi estudar medicina influenciado por ele. Outra curiosidade que ficou � a pequena fam�lia que tinha. De irm�os, minha tia Mita, Eremita, que era “dona” do Correio Luziense e cuja casa est� l� at� hoje, meu tio Benone, cujo nome era Raul, que nunca trabalhou na vida, e minha tia Eliza Gon�alves, que se mudou com a fam�lia para o Rio de Janeiro e de cujos filhos s� conheci a mais famosa, Elizinha Moreira Salles (m�e desses filhos famosos que pontificam na cultura nacional).

Nessa busca por casos sobre meu pai, n�o encontrei mais ningu�m. Minhas irm�s que conviveram com ele j� se foram e, quando ele se foi, eu tinha apenas 3 anos. Mas gosto de pensar que al�m de ser meu pai, herdei dele o DNA que cultivo. Gosto de medicina, tenho olho vivo para fazer diagn�sticos r�pidos. Curiosamente, em toda a minha fam�lia de tantos irm�os e sobrinhos, tenho apenas um sobrinho m�dico.

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