
A luta contra o c�ncer � um verdadeiro desafio, n�o apenas pelo estigma que envolve a doen�a e o esfor�o necess�rio para trat�-la, mas tamb�m pelo fato de poder prejudicar severamente a qualidade de vida do paciente. Isso porque o c�ncer e os m�todos utilizados para trat�-lo podem gerar complica��es que podem afetar todo o organismo.
1) Por que o c�ncer causa complica��es neurol�gicas?
A maioria dessas complica��es s�o decorrentes do tratamento contra o c�ncer e seus sintomas. Por exemplo, o tratamento contra o c�ncer de mama pode causar altera��es na mem�ria e na velocidade de processamento cerebral, assim como formigamentos pelo corpo pelo tratamento poder atacar os nervos do paciente. J� alguns tumores tratados com imunoterapia podem gerar quadros semelhantes a uma meningite bacteriana (neste caso, inflamat�ria), quadros de paralisia das pernas, como s�ndrome de Guillain-Barre, miastenia, entre outros. Dores de cabe�a, crises epil�pticas, tremores e altera��es do paladar e olfato tamb�m podem ocorrer durante o tratamento dos pacientes com c�ncer. Isto justifica a importante participa��o de um neurologista no mundo da oncologia, justamente para evitar sequelas e fortalecer a rela��o do paciente com o oncologista e o tratamento como um todo.
2) Quais s�o as complica��es neurol�gicas mais comuns?
As complica��es mais frequentes costumam ser altera��es do estado mental (confus�o, sonol�ncia, agita��o e altera��es de mem�ria), dores nas costas, altera��es de sensibilidade (formigamentos e dores), crises epil�pticas, dores de cabe�a, altera��es na vis�o e fraqueza, que pode ser generalizada, afetar apenas um lado do corpo ou uma regi�o espec�fica, como as pernas, e at� mesmo configurar quadros de isquemia, o famoso AVC.
3) Essas complica��es podem ser causadas por qualquer tipo de c�ncer?
Sim. Mas � claro que vemos essas complica��es com maior frequ�ncia em alguns tipos, justamente por existirem protocolos de tratamento bem estabelecidos para certos tumores, como � o caso do c�ncer de mama, pulm�o, c�lon, p�ncreas, f�gado e pele. Por�m, n�o podemos culpar somente o tratamento desses tumores, pois alguns deles tamb�m possuem maior chance de alcan�arem o c�rebro na forma de met�stase, como o c�ncer de mama, pulm�o e pele (melanoma). Al�m disso, existem formas bem mais raras de agress�o ao sistema nervoso mediadas pelo pr�prio sistema imune do paciente, que s�o chamadas de s�ndromes paraneopl�sicas.
4) Essas complica��es se d�o pelo c�ncer em si ou pelo tratamento?
Existem as duas possibilidades. Mas os pacientes se deparar�o com maior frequ�ncia com as complica��es dos tratamentos contra o c�ncer, como quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapias-alvo. Geralmente, pacientes que n�o s�o curados ap�s um procedimento cir�rgico ou que, mesmo ap�s uma excelente cirurgia, precisam complementar o tratamento necessitam de rem�dios, como os quimioter�picos, que circulam no corpo todo e podem machucar tecidos que n�o s�o c�ncer, o que causa diversos efeitos colaterais, como n�usea, diarreia, queda de cabelo e danos ao c�rebro e nervos.
5) Essas complica��es t�m tratamento?
Sim. E, de prefer�ncia, temos que trat�-las ao mesmo tempo que o c�ncer, pois, caso o acometimento neurol�gico seja grave, pode ser necess�rio que o paciente pare com a quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia. Por isso a presen�a de um neurologista com conhecimentos espec�ficos ou de um neuro-oncologista pode fazer toda a diferen�a na qualidade do tratamento oncol�gico do paciente, evitando sequelas e promovendo a reabilita��o quando necess�rio.
6) As complica��es neurol�gicas podem deixar sequelas?
Infelizmente, algumas complica��es podem ser permanentes. Mas, na maioria dos casos, podemos criar estrat�gias para estimular uma recupera��o neurol�gica e tornar essa sequela algo quase ou totalmente impercept�vel, assim n�o afetando em nada a qualidade de vida do paciente. Felizmente, n�o � incorreto dizer que a maior parte das queixas comuns somem com tratamentos simples ou reajustes dos rem�dios, o que � uma boa not�cia para quem est� passando por esse processo.
7) � poss�vel evitar essas complica��es?
Especialistas e cientistas constantemente buscam formas de proteger o c�rebro e os nervos das complica��es neuro-oncol�gicas, por exemplo, em crian�as que v�o receber radioterapia no c�rebro ou que usam quimioterapias que afetam a audi��o. E avan�os apontam que em breve conseguiremos. Mas ainda devemos tentar individualizar cada caso, buscando sempre trabalhar em conjunto com a oncologia. Existem formas de evitar alguns sintomas esperados da quimioterapia, como fazer a infus�o dos medicamentos de forma mais lenta, tratar antecipadamente sintomas de dor, evitar o agravamento de doen�as que prejudicam os nervos, como diabetes, hipertens�o etc.
8) As complica��es neurol�gicas podem ajudar a identificar um c�ncer ainda n�o descoberto?
Existem as complica��es que chamamos de s�ndromes paraneopl�sicas, que ocorrem quando o sistema imune do paciente passa a atacar o c�rebro, nervos e m�sculos por consider�-los corpos estranhos. Felizmente, � algo raro, mas pode ser o primeiro sinal da exist�ncia de um tumor no pulm�o ou mama, que costumam ser os locais mais afetados. No geral, o paciente pode apresentar fraqueza muscular, que atrapalha andar ou subir escadas e vai piorando com o tempo, dificuldades de manter a coordena��o do corpo, sonol�ncia, confus�o mental e altera��es de humor n�o explicadas por outros motivos. Nesses casos, � preciso buscar um especialista com amplo conhecimento n�o s� para identificar o quadro, mas tamb�m para trat�-lo.