Aprenda a identificar os sinais da depress�o

Estamos entrando no terceiro ano desta pandemia, que parece estar acabando. Quanto menos pensarmos nela, melhor ser�. Tenho feito, antes de dormir, um retorno aos dias felizes de minha vida, para ter um pouco de sossego. Mas, pelo visto, estou, como todos os outros moradores deste mundo complicado, agora mais complicado ainda com a guerra da R�ssia contra a Ucr�nia. 

Conhe�o Kiev, j� estive l� por dois dias e o que vi de melhor foi o museu, com figuras bem parecidas com as do Vale do Jequitinhonha e as estudantes, com grandes la�os brancos na cabe�a, saindo da escola para limpar o jardim em frente.

N�o estou longe da conscientiza��o dos brasileiros sobre o tema depress�o, que parece estar aumentando. Segundo pesquisa do Datafolha sobre sa�de mental, quatro em cada 10 brasileiros tiveram sintomas de ansiedade ou depress�o durante a pandemia, e 53% dos entrevistados consideram muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doen�a, enquanto 10% n�o souberam agir diante de um conhecido com depress�o. 

Dos 2.055 entrevistados em 129 munic�pios das cinco macrorregi�es do pa�s, 44% afirmaram que tiveram problemas psicol�gicos. Entre eles, 28% apontaram que tiveram diagn�stico de depress�o ou outra doen�a relacionada � sa�de mental durante a pandemia de COVID-19, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou amigos pr�ximos tiveram depress�o nesse per�odo. 

“De fato, identificar um quadro de depress�o exige cautela, especialmente no momento atual. � importante destacar que a pandemia aumentou o n�mero de pessoas com sintomas depressivos ou ansiosos, mas isso n�o � sin�nimo de depress�o ou transtorno de ansiedade generalizada. Esse diagn�stico depende de v�rios crit�rios, e � individualizado”, afirma Adiel Rios, mestre em psiquiatria pela Unifesp e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. 

Segundo ele, a depress�o pode ser resultado de altera��es nos neurotransmissores do c�rebro (como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, respons�veis pela sensa��o de prazer e bem-estar) e de fatores gen�ticos e epigen�ticos. Estes �ltimos s�o fatores ambientais, como situa��es sociais de alta vulnerabilidade, traumas, abuso de subst�ncias l�citas e il�citas, sedentarismo, alimenta��o, entre outros. “Isso mostra claramente que n�o somos apenas a express�o de um gene, mas a resposta a tudo que acontece � nossa volta.” 

“� dif�cil ter motiva��o com uma rotina cheia de eventos estressantes como os atuais. No entanto, se a pessoa chega ao ponto de deixar de lado as atividades que sempre gostou de fazer, � um sinal perigoso.”

A tristeza � um fen�meno de causas externas. Diferentemente da tristeza, a depress�o � um fen�meno interno e n�o precisa de um acontecimento para disparar este sintoma. A pessoa fica ap�tica, n�o sente vontade de fazer nada e n�o entende o porqu�. Dificuldade de concentra��o, cansa�o sem explica��o, altera��es no sono e no apetite s�o alguns dos sintomas da depress�o. 

Irrita��o constante por motivos banais, mudan�as s�bitas de humor e at� rea��es agressivas merecem aten��o. “O indiv�duo com depress�o se aborrece � toa e sempre encontra motivos para se irritar e reclamar.”

Dormir demais (ou quase nada) e comer muito (ou perder o apetite) s�o quadros sintom�ticos comuns na pessoa com depress�o. “As oscila��es s�o muito grandes. O indiv�duo pode passar v�rias noites em claro ou chegar a dormir 12 horas seguidas e, mesmo quando acorda, n�o tem a menor disposi��o para levantar. Na alimenta��o, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como v�lvula de escape para aliviar a ansiedade. J� outras perdem completamente o apetite.”

 

Uma das caracter�sticas da depress�o � a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida, podendo ficar dias sem tomar banho, com roupas sujas, mau cheiro, cabelos despenteados, unhas sujas e compridas. 

A depress�o pode ser uma doen�a inflamat�ria que ataca o corpo. “O indiv�duo parece vivenciar uma ‘s�ndrome gripal’ com dores e tens�o acumulada nos m�sculos, ombros e pesco�o; c�lica, diarreia ou azia; aperto no peito, dores de cabe�a e fadiga.”

A sensa��o de “cabe�a vazia” e a dificuldade de se concentrar s�o t�picas de uma pessoa com depress�o. Muitas vezes, os pensamentos se tornam t�o confusos que dificultam a tomada de decis�es, mesmo aquelas mais simples e cotidianas. “Como consequ�ncia, tudo se torna um esfor�o imenso, e a pessoa acaba procrastinando suas tarefas e responsabilidades, o que a deixa ainda mais angustiada.” 

Sensa��o de incapacidade, impot�ncia e fragilidade. De acordo com Adiel, � comum a pessoa se sentir menos importante, achar que ningu�m se importa com ela e que tudo o que acontece de ruim � sua culpa. “A vida come�a a ficar esvaziada, cansativa e at� sem sentido. Quando chega a esse ponto, podem come�ar a vir os pensamentos suicidas.” Vale lembrar que a depress�o �, sim, uma doen�a grave, que deve ser tratada antes que alcance estados em que a pessoa fique totalmente incapacitada.