
O que me consola � que n�o sou a �nica – conhe�o v�rias pessoas relativamente surdas, que deixam de lado o aparelho cuidadosamente escolhido para corrigir o problema. Levei um bom tempo para resolver que tipo de aparelho usar. Optei por um modelo que faz a pe�a do tamanho e do desenho de cada ouvido, que � usado internamente, tem pilha e realmente acaba com a defici�ncia auditiva.
Mas tenho uma pregui�a imensa de coloc�-lo, acertar o lado da pe�a, como colocar as pilhas de forma correta para passar a escutar. � uma burrice s�, mas aceito sem muito problema. O caso � que a perda auditiva, a partir da quinta ou sexta d�cada de vida, faz parte do processo natural do envelhecimento humano. Ou seja, � algo mais do que previsto e comum - assim como as altera��es da vis�o, a perda de cabelo, a perda de massa muscular, dentre outras tantas perdas tamb�m associadas ao envelhecimento.
No caso da audi��o, por�m, � algo que penaliza sobremaneira os pacientes quando t�m essa condi��o agravada. Afinal, a surdez provoca uma situa��o de isolamento social, justamente pela perda da capacidade de comunica��o que lhe � imposta. Trabalhos recentes v�m associando a defici�ncia auditiva em idosos � evolu��o de quadros demenciais. Nesses casos, a reabilita��o auditiva, que pode ser realizada com aparelhos de amplifica��o sonora individual, segundo o tipo de perda auditiva, pode evitar essa progress�o e, em alguns casos, at� melhorar a cogni��o.
Quando se trata de idosos em especial, dificuldade auditiva com comprometimento da comunica��o interpessoal �, sem d�vida, um fator de risco a quem preza por uma boa qualidade de vida. Por isso � t�o importante o acompanhamento m�dico regular. Esse, ali�s, � um dos prop�sitos da campanha Junho Violeta, que tem entre seus objetivos promover a��es que assegurem dignidade �s pessoas que est�o na etapa final da vida.
"Cuidar da audi��o � cuidar das mem�rias e das rela��es das pessoas idosas, que s�o t�o importantes para mant�-las com o prop�sito de viver e para garantir sua autonomia e independ�ncia. As pessoas que convivem com idosos precisam ter isso muito claro e sempre estar atentas", destaca Gilberto Ferlin, m�dico otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista - refer�ncia em especialidades de ouvido, nariz e garganta.
Os indicativos de surdez, segundo ele, costumam partir de situa��es cotidianas, como aumentar demasiadamente o volume da TV, solicitar que repitam as frases recorrentemente, n�o responder a chamados, apresentar dificuldades para manter conversa��o em ambientes com ru�do competitivo, como � mesa em restaurante com alguns familiares. "Tamb�m � bastante comum a dificuldade em falar/entender ao telefone; falta de uma boa compreens�o das palavras que ouve; dificuldade em conseguir manter conversas simples; eleva��o do som da pr�pria voz", acrescenta.
Para um diagn�stico correto, Ferlin explica que o exame de audiometria � o mais recomend�vel, pois identifica o tipo e grau da perda auditiva. "Ele � fundamental para detectar perdas auditivas ainda em seu est�gio inicial, para que seja feita uma interven��o precoce, a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas que j� apresentam algum grau de defici�ncia. O exame ajuda a identificar se o paciente precisar� utilizar um aparelho auditivo e qual a melhor indica��o (tecnologia e modelo), de acordo com as suas necessidades", destaca.
O meio mais indicado para iniciar a reabilita��o t�o logo ocorram altera��es sensoriais auditivas � avali�-las periodicamente, a partir dos 60 anos. O ideal � que o idoso n�o espere sentir desconforto auditivo para fazer o exame, principalmente se houver hist�rico de surdez na fam�lia. Da mesma forma, os parentes e cuidadores devem ficar atentos para que essa condi��o n�o comprometa a qualidade de vida", afirma o m�dico.
Dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) apontam que, no Brasil, h� 28 milh�es de pessoas com surdez, representando 14% da popula��o, com incid�ncia maior em idosos. Em m�dia, segundo a Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia, as pessoas demoram cerca de sete anos para procurar um especialista ap�s perceberem algum dano � audi��o e ainda levam mais dois anos para escolher um tratamento.
Componentes gen�ticos e fatores de risco espec�ficos, como diabetes, press�o alta, tabagismo e uso excessivo de �lcool podem acelerar o processo de perda auditiva. As causas mais recorrentes, por sua vez, s�o: a exposi��o ao ru�do ao longo da vida; atua��o em alguns tipos de ambiente de trabalho e a n�o utiliza��o de protetor auditivo.