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Estado de Minas ANNA MARINA

Parada era um superprograma nos meus tempos de crian�a

A Avenida Afonso Pena ficava lotada n�o s� de meninada, mas de adultos. �amos de bonde e ganh�vamos at� refrigerante


07/09/2023 04:00 - atualizado 07/09/2023 02:45
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Desfile de 7 de setembro na Avenida Afonso Pena, cheia de árvores, em 1944
Desfile de 7 de setembro na Avenida Afonso Pena cheia de �rvores, em 1944 (foto: Arquivo EM/D.A Press/7/9/44)

Minha rela��o com o mundo “da ro�a” se limitava � fazenda de parentes, a Samambaia, que ficava perto de Pedro Leopoldo. L� moravam primas muito queridas, todas sem filhos, que paparicavam as crian�as que n�o tinham. Uma delas, doida para ser m�e, praticamente assumiu uma de minhas irm�s, mais velha do que eu. Inteligente, quando minha irm� se tornou mocinha, pronta para namorar, voltou com ela para nossa casa, porque assim teria a companhia das outras irm�s e o controle de minha m�e.

A fazenda era tudo o que n�o t�nhamos na cidade: camas fofas de palha de milho, penicos para o xixi da noite, recolhidos de manh� bem cedo, e a comida do outro mundo, com muita carne de porco, galinha, um ou outro peixe (havia um c�rrego em frente) e farinha de pich�, que ningu�m conseguia copiar, feita de fub� grosso e torresmo.

Uma das primas, com quem minha irm� morava, mudou-se para Belo Horizonte, o marido era professor. Sua antiga casa ficava perto da Igreja Santo Ant�nio, para onde as outras da fazenda vinham quando o 7 de setembro se aproximava. Adoravam a parada, que consumia toda a manh� na Avenida Afonso Pena, ainda cheia de �rvores.

Eu adorava a vinda delas, porque tamb�m adorava assistir � parada, onde ningu�m de minha casa queria ir. �amos cedo para pegar um bom lugar. Fic�vamos em frente ao Autom�vel Clube, cujo banheiro poder�amos usar em caso de necessidade – os primos, na diretoria, facilitavam nossa vida.

�amos de bonde, par�vamos na Rua da Bahia. E de bonde tamb�m volt�vamos para o Bairro Santo Ant�nio. N�o � preciso dizer que eu amava o desfile – come�ava com os grupos escolares e terminava com as For�as Armadas, os soldados fardados carregando armas.

N�o eram desfiles simples, existia uma certa formata��o, cada categoria tinha sua organiza��o, com estandartes, bandeiras, distribui��o de figuras. Nos anos depois da Segunda Guerra, as escolas p�blicas foram retiradas do desfile.

A avenida ficava lotada n�o s� de meninada, mas de adultos. Era ditadura Vargas, o Brasil ainda n�o havia aderido � guerra. Estar cara a cara com quem mandava no pa�s era distra��o para a crian�ada. E momento de al�vio para os adultos, que acreditavam na paz. Get�lio Vargas fez seu �ltimo discurso em 1953. A partir dali, o evento s� foi interrompido nos dois anos de pandemia.

N�o sei se as crian�as de hoje gostam de assistir �s paradas, ocupadas com celulares e outros brinquedos eletr�nicos que acabaram com as brincadeiras da meninice. S� sei que, no meu tempo, o 7 de setembro era um dia e tanto, com direito at� a garrafa de refrigerante.





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