
Quem pousa os cotovelos na janela para assistir distra�do ao tempo passar n�o se pode queixar de que a vida lhe foi ingrata. � isso o que se passa conosco, l� se v�o 40 anos, e mais r�pido o tempo vai passando, j� que as inova��es avan�am a passos largos no mundo.
N�o se concebe que uma pot�ncia regional que j� ostentou o maior e mais diversificado parque industrial do mundo, s� menor que o dos pa�ses ricos ao final dos anos 1980, que ocupou o 6º lugar na lista das maiores economias e hoje se humilha na 12ª posi��o, esteja em franco retrocesso, penalizada por governantes e pol�ticos toscos e despreparados, pol�ticas econ�micas erradas e o desprezo da minoria privilegiada em rela��o � pobreza secular.
N�o se acuse a car�ncia de intelig�ncia nacional. Ela sempre houve e h�, s� que canalizada para atividades pouco geradoras de valor, o caso dos setores extrativista e financeiro, ou deu no p�, buscando seguran�a, reconhecimento e fortuna n�o mais dispon�veis no Brasil.
Fomos pioneiros em �reas cr�ticas do conhecimento, como as vacinas desenvolvidas pelo Butantan e Fiocruz e aplicadas com uma log�stica copiada mundo afora antes que o SUS come�asse a ser demolido neste governo e a imuniza��o fosse demonizada pelo presidente da Rep�blica.
Na tecnologia da informa��o, fomos o primeiro e �nico pa�s a ter o Mac, ent�o rec�m-lan�ado pela Apple, em 1984, 100% nacional, clonado no ano seguinte por meio de engenharia reversa pelo que hoje seria chamada de startup, na Freguesia do �, periferia de S�o Paulo.
A Apple reclamou, os EUA amea�aram retaliar, impondo barreiras a nossas exporta��es (citaram sapatos e suco de laranja), e a extinta Secretaria Especial de Inform�tica cedeu, abafando o mesmo processo de “copy-paste” que fez China, Jap�o, Coreia tit�s tecnol�gicos.
Fomos pioneiros em caixas eletr�nicos, o Bradesco j� tinha home banking em 1988, ainda hoje nossas opera��es banc�rias s�o as mais �geis no mundo. Tudo obra de jovens t�cnicos civis e militares que fizeram �poca com o pioneiro Brasil On-line, a Embraer, o salto do agroneg�cio com a Embrapa, a inova��o da urna eletr�nica, o ciclo da energia nuclear estava � vista. O futuro estava no presente.
Por que regredimos? Os talentos viraram financistas – e a economia estagnou, a ind�stria murchou, venceu a ideologia da vulgaridade.
S�mbolo do retrocesso
A discuss�o sobre a seguran�a da urna eletr�nica simboliza o nosso retrocesso, combinando m�-f� com dem�ncia pol�tica em rela��o ao que tend�amos a ser – uma pot�ncia econ�mica e social, interrompida pelo abandono do pragmatismo na condu��o da economia, substitu�do pelo fundamentalismo de mercado e outras cren�as falidas.
O desajuste das finan�as p�blicas, iniciado com a ru�na do modelo de crescimento do per�odo militar (1964-1985) bancado por d�vida externa, e emiss�o monet�ria na fase final, explicam a infla��o end�mica que se seguiu, a desconfian�a quanto ao papel do Estado no desenvolvimento e a frustra��o das pol�ticas de bem-estar social previstas na Constitui��o. A reforma monet�ria de 1994 era para ser a reden��o do progresso, mas acabou sendo o seu epit�fio.
N�o h� no mundo exemplo de na��o desenvolvida sem a cumplicidade e mesmo a participa��o direta do Estado na forma��o da riqueza real. A� todos os regimes convergem. Separam-se na partilha dos frutos. A utopia de que o mercado seria resposta para tudo veio dos EUA sob a forma do tal “neoliberalismo” contra o qual Trump se elegeu e n�o se reelegeu ao fracassar na entrega, e Biden tende a levar a cabo.
Onde foi que erramos
O olhar para tr�s, movido pela cl�ssica d�vida sobre “onde foi que erramos”, ajuda a elucidar os desvios equivocados, entendidos �s vezes como atalhos, tomados pelo pa�s depois dos anos 1980. N�o por coincid�ncia, � o tempo que marca o in�cio da desindustrializa��o em decorr�ncia do abandono da fabrica��o no pa�s de componentes e partes mais intensivas em tecnologia, substitu�das por importa��es, conformando uma ind�stria montadora com baixa competitividade.
Gest�o macroecon�mica � como xadrez, movimente-se a pe�a errada e o jogo est� perdido. E nem d� para reabrir o tabuleiro se mesmo os fundamentos da teoria econ�mica mudaram, como no Brasil Andr� Lara Resende exp�e e defende, contrariando a ortodoxia fossilizada. Mas basta olhar-se para o que n�o se fez l� atr�s para intuir que, se o progresso estagnou, antes dele estagnou a nossa “intelligentsia”.
O passado ajuda a entender outras coisas como a descoberta de que os militares, sobretudo do Ex�rcito, n�o est�o bem com Bolsonaro, est�o � contra a alta possibilidade de que Lula e o PT retornem. O que aconteceu? Cultura militar insulada na caserna, baixa intera��o com a sociedade, falta de prop�sito maior, sequelas do equ�voco dos �ltimos governantes de que bastaria ceder alguns benef�cios etc.
O pa�s ficou decr�pito
A situa��o do Brasil virou preocupa��o internacional, e n�o apenas pela destrui��o met�dica da Amaz�nia e pervers�o com os ind�genas, mas pela deteriora��o social e do Estado nacional, em que governos e crime organizado se combinam, como no M�xico e na Col�mbia.
� neste ambiente que a pol�tica foi criminalizada num combate que arruinou a constru��o pesada, para g�udio de concorrentes da China, dos EUA, da Fran�a, um dos poucos setores em que o capital nacional tinha competitividade global, e minou as empresas estatais.
Hoje, o PIB potencial encolhe onde mais gera emprego, mas sugere ampliar-se gra�as �s commodities de exporta��o, que empregam pouco e quase nada recolhem de impostos. Ah! Mas vamos reformar... O qu�, se a tal administrativa n�o muda o desenho da governan�a p�blica e federativa claudicante? A tribut�ria � feita para gerar receitas?
A realidade � que quase tudo no pa�s est� decr�pito, falta sentido de miss�o � governan�a eleita, que s� pensa em se reeleger e trata a burocracia permanente ora como estorvo, ora como c�mplice, e mal sabe o que ela faz ou deixa de fazer. Como mudar para valer?
� a isso que algumas lideran�as empresariais se dedicam, buscando com inova��es, n�o reformas do s�culo passado, a expectativa de que possamos sentir a vida nos chamar para desfrut�-la comme il faut. � essa perspectiva que importa, n�o os devaneios de gente sem no��o.