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Estado de Minas Brasil S/A

Novidade obsoleta

A desgra�a da deputada Liz Truss serviu de alerta a tantos pa�ses da parte ocidental do mundo


23/10/2022 04:00

ANT�NIO MACHADO

“Quero fazer uma penit�ncia”, disse-me um amigo, parte da di�spora dos que desistiram do Brasil, na quinta-feira. “Sabe minha opini�o de que nunca seremos um pa�s desenvolvido? Mudei de ideia depois de ler esta manh� a manchete do The Economist on-line. Podemos, sim! A Inglaterra est� vindo ao nosso encontro”.

Meu amigo assimilou o humor mordaz dos ingleses. A chamada da mais influente publica��o de orienta��o liberal no mundo fazia tro�a com a It�lia, pa�s conhecido pela instabilidade de seus governos, ao anunciar a ren�ncia da primeira-ministra Liz Truss apenas 44 dias depois de substituir Boris Johnsson do mesmo Partido Conservador. O rival Partido Trabalhista, social-democrata, est� na espreita.

“Bem-vindo � Brit�lia”, publicou, numa tradu��o literal, fundindo It�lia com Gr�-Bretanha. E completou: “Um pa�s de instabilidade pol�tica, baixo crescimento e subordina��o aos mercados de pap�is”. Desde 2015, foram quatro primeiros-ministros, assim como a It�lia.

A desgra�a da deputada Liz Truss serviu de alerta a tantos pa�ses da parte ocidental do mundo, e n�s somos um elo desta corrente, que buscam sair do p�ntano da estagna��o econ�mica - causa prim�ria do terremoto social que abala a constru��o pol�tica erguida sobre os fundamentos da desregulamenta��o dos mercados, degenerada no que a nova direita dos EUA chama de “fundamentalismo”, ou neoliberalismo, ideologia que abastardou o planejamento como eixo da macroeconomia.

Ela chegou anunciando corte de impostos dos mais ricos, aumento do endividamento p�blico para energizar o an�mico investimento privado e a expectativa de que o crescimento econ�mico subiria para 2,5% ao ano, compensando a redu��o tribut�ria e o laxismo da d�vida. Seria a reinterpreta��o aos dias atuais da ideologia do livre mercado de Margareth Thatcher, de quem se disse adepta, e de Ronald Reagan.

Deu tudo errado. Desta vez, mostrando que o tal neoliberalismo j� n�o tem a confian�a incondicional de seus patrocinadores, o mercado financeiro reagiu se desfazendo da libra e liquidando os t�tulos de d�vida do Tesouro ingl�s e a��es de empresas cotadas em Londres. E n�o sem raz�o: a carga tribut�ria j� � das menores em rela��o � de seus pares europeus e os EUA, o endividamento � recorde desde os anos da 2ª Guerra e o produto e a renda n�o decolam. Como nos EUA.

Essa macroeconomia perdeu a divindade dos �ltimos 40 anos, mas no Brasil desponta como novidade supimpa pelos governantes da vez.

Investimento � malvisto

Corte de imposto para animar o crescimento econ�mico nem sempre d� errado. Donald Trump fez isso, reduzindo o IR corporativo para 21%, e a economia cresceu. Mas a insatisfa��o social n�o amainou. O que n�o funcionou? O lucro entregue anteriormente ao IR foi aplicado em ativos financeiros, na recompra de a��es da pr�pria empresa visando o aumento de sua valoriza��o em bolsa e em neg�cios no exterior.

A renda dos investidores e acionistas inflou ainda mais, enquanto a da popula��o seguiu estagnada, ou regrediu para os com instru��o at� o equivalente ao segundo grau. Emprego para profissionais com habilidades em novas tecnologias tem, n�o h� � quem o atenda.

Desde 2010, segundo American Compass, think tank da nova direita, e Information Technology & Innovation Foundation, mais nacionalista e desenvolvimentista, o investimento l�quido das empresas nos EUA, excluindo gastos em softwares, foi negativo todos os anos. Este � um descompasso que, com o tempo, leva amplos setores da sociedade � radicaliza��o, culpando empresas que exportaram suas f�bricas, os financistas e os intelectuais em geral pela sua regress�o social.

Tal cen�rio fez os financistas desconfiarem do plano de Liz Truss, pois presumia uma rela��o causal entre menos impostos e mais investimentos em produ��o. � o que explica Joe Biden condicionar o apoio de capital �s empresas de tecnologia, entre semicondutores e de energia limpa, a provar a aplica��o do dinheiro apenas nos EUA.

Pervers�o da boa inten��o

A rea��o cada vez mais r�spida dos eleitores aos pol�ticos que n�o sabem o que fazer para resgatar a era dourada do capitalismo, entre 1945 e fim de 1970, inclusive no Brasil, tem s�rias implica��es.

Elas v�o da geopol�tica, com a constata��o bipartid�ria, nos EUA, do fracasso do apoio � China, na presun��o de que o progresso a faria adotar a democracia liberal, � cren�a de que a liberaliza��o dos mercados distribuiria resultados de forma mais eficaz e justa.

O capitalismo de Estado com “carater�sticas chinesas” transformou a China num rival formid�vel das economias e democracias liberais, possivelmente uma amea�a � atual ordem global, tal como a R�ssia.

A desregulamenta��o perverteu-se na financeiriza��o dos neg�cios empresariais, sobretudo com as fus�es e aquisi��es alavancadas, de modo que aos poucos o investimento produtivo foi adquirindo a no��o de �nus e n�o de compromisso com a prote��o e futuro da atividade, de seus empregados e das comunidades em que est�o estabelecidas.

A rigor, mesmo que n�o saibam, s�o estes fatores que movem os �nimos difusos dos eleitores submetidos a tais rupturas, ainda mais amea�adoras pelas transforma��es aceleradas pela tecnologia. Tome-se o caso do setor automotivo: est� mudando do motor a combust�o a motor a bateria el�trica. No Brasil, sem pol�tica p�blica para essa situa��o, h� o risco concreto de o setor se tornar importador.

Sabotagem dos sacripantas

Agora, respire e avalie o que disseram sobre tais amea�as e, mais importante, as solu��es, os 513 deputados e 27 senadores eleitos. E o que diz a dupla de candidatos � Presid�ncia da Rep�blica. O atual repete o mantra supostamente liberal de seu ministro da Economia. O desafiante tem um plano mais contempor�neo, mas ainda n�o o exibiu.

E estamos numa campanha em que, para se reeleger, o presidente fez o diabo, gastando com projetos eleitoreiros, para comprar simpatia e elevar a prefer�ncia do eleitor de apenas 27% em maio de 2021 a quatro a cinco pontos abaixo da pontua��o de Lula. Essa fatura ser� resgatada ano que vem, expondo a infla��o desinflada pelo corte de tributos, cujo desfalque o STF mandou a Uni�o ressarcir estados e munic�pios. O pr�prio crescimento � em boa parte movido por medidas de impulso ao consumo com impacto fiscal de quase R$ 70 bilh�es.

Cad� a��es estruturais para elevar o investimento na produ��o? Os dados de quase R$ 1 trilh�o em concess�es e privatiza��es at� 2030 confundem estoque com fluxo, al�m de desconsiderar que a economia padece � de mais produ��o, n�o de novos gestores do que j� h�.

No fim, Bolsonaro e Guedes criticam os governos do PT, mas abra�am o consumo temperado por aditivos fiscais finitos sem apontar o mapa da reindustrializa��o movida pela inova��o tecnol�gica. Faz sentido tanta gente fazendo guerra cultural em rede social, enquanto alguns passam a boiada, outros saem do pa�s e a minoria de entusiastas do progresso � sabotada por sacripantas falidos ou sem empresas?

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