
Amanh� (29/01) � o Dia da Visibilidade Trans. Essa data foi escolhida porque, em 29 de janeiro de 2004, foi realizada, em Bras�lia, uma manifesta��o nacional para o lan�amento da campanha “Travesti e respeito”. O ato foi um marco para a luta contra a transfobia e a data foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
Sendo assim, o m�s de janeiro � um per�odo em que os debates sobre as viv�ncias, demandas e desafios das pessoas trans ganham mais intensidade e visibilidade. E um dos temas que precisa ser debatido com urg�ncia �: qual � a qualidade de atendimento que a comunidade trans recebe em consultas m�dicas e hospitais?
Em janeiro de 2020, participei da produ��o de um programa jornal�stico que tinha como principal tema as viv�ncias de pessoas trans. Uma das entrevistadas compartilhou que, durante uma consulta m�dica, ao explicar que era uma mulher trans, antes mesmo de explicar qual era o motivo que a levou at� o consult�rio, o m�dico pediu uma triagem de exames para saber se ela tinha alguma infec��o sexualmente transmiss�vel. Infelizmente, ainda hoje, muitos profissionais subentendem e associam o meu corpo trans a ISTs.
Al�m disso, durante consultas m�dicas alguns profissionais da sa�de ainda se recusam a respeitar o nome e pronomes de pessoas trans. Ali�s, muitas vezes nosso constrangimento j� come�a na recep��o do consult�rio ou hospital, quando em alto e bom som anunciam nomes que n�o s�o os nossos. Situa��o que sempre vem acompanhada de risadas, “piadas” e olhares invasivos.
Algumas m�dicas e m�dicos chegam ao ponto de se recusarem a tocar o corpo de pessoas trans por nojo ou receio, ainda que isso seja feito de uma maneira “sutil”. Outros profissionais justificam a recusa em atender com o argumento de que nunca atenderam uma pessoa trans e, por isso, preferem n�o arriscar.
Ou seja, estere�tipos, preconceito e desinforma��o se manifestam na forma como esses profissionais atuam em rela��o � popula��o trans. S� para voc� ter uma ideia, uma vez fui me consultar com um m�dico que j� tinha experi�ncia em atender pessoas trans. Mas, assim que ele abriu a porta, j� soltou v�rias e v�rias “piadas” transf�bicas e homof�bicas.
Em um determinado momento, j� n�o aguentando, perguntei se ele realmente j� tinha experi�ncias de atender pessoas trans e disse que aquela atitude n�o era correta. Nossa conversa se prolongou e ele resgatou a mem�ria da primeira vez que viu uma mulher trans. Ele estava de 5 para 6 anos. Segundo o m�dico, todas as pessoas adultas que estavam no mesmo ambiente deram risada e fizeram “piadas” em rela��o a mulher trans sem nenhum pudor. Depois de muito refletir, o m�dico percebeu que ela naturalizou essa situa��o absurda durante toda vida.
Ou seja, mesmo chegando a vida adulta, mesmo tendo um poder econ�mico mais elevado, mesmo com acesso � educa��o e tendo uma profiss�o que tem como base o atendimento a diversas pessoas, este m�dico ainda reproduzia estere�tipos e preconceitos contra a comunidade trans por mais de 50 anos.
Todos esses preconceitos e o despreparo acabam afastando a popula��o trans do sistema de sa�de. Algo que � muito perigoso. Quando profissionais da sa�de v�o se comprometer e oferecer atendimento adequado e acolhedor para a comunidade trans?
� claro, tamb�m � importante apontar alguns avan�os. Em novembro de 2017 foi inaugurado o primeiro ambulat�rio trans em Minas Gerais. O espa�o localizado no Hospital Eduardo de Menezes, na Regi�o do Barreiro, conta com uma equipe interdisciplinar e multiprofissional, composta por psiquiatra, endocrinologista, cl�nico, enfermeiro, psic�logo e assistente social.
S� para voc� ter uma ideia, seja a pessoa que trabalha na portaria, na recep��o, na enfermaria ou nos consult�rios, todos esses profissionais s�o bem preparados, receptivos e acolhedores. O ambulat�rio trans do estado � um dos poucos lugares que vou sem medo de ser julgado ou tratado mal por ser uma pessoa trans. Profissionais como a psic�loga Andreia Resende e o m�dico endocrinologista Eduardo Ribeiro Mundim s�o verdadeiras ilhas de acolhimento para a comunidade trans.
Mas, apesar desse avan�o, muitas pessoas trans, principalmente as que moram distante da capital ou que n�o t�m condi��o financeira de se deslocar at� o ambulat�rio trans no Barreiro acabam n�o recebendo atendimento m�dico adequado. E essa realidade tamb�m se reflete em outras regi�es do Brasil que n�o possuem esse espa�o de acolhimento.
Ou seja, al�m de ampliar esse servi�o, tamb�m � necess�rio criar outras pol�ticas p�blicas para aumentar o acesso da comunidade trans � sa�de e tamb�m humanizar o atendimento, seja na rede p�blica ou privada. Sa�de � um direito!
Atendimento humanizado
- Ambulat�rio Trans Anyky Lima - rua Dr. Cristiano Rezende, 2.213, bairro Bonsucesso, Barreiro
- Telefones de contato: (31) 3328-5055 / (31) 3328-5000 / (31) 3328-5550)