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Estado de Minas PADECENDO

A Dona Herm�nia que habita em n�s

Resistimos para que nossos filhos n�o fiquem �rf�os e para que nossos pais n�o tenham que chorar a nossa aus�ncia


16/05/2021 04:00 - atualizado 16/05/2021 07:48

(foto: Bebel Soares)
(foto: Bebel Soares)


Mais de 400 mil vidas j� haviam sido levadas pela COVID-19. Muitas fam�lias enlutadas. Milhares de lutos individuais. Foi preciso que Paulo Gustavo nos deixasse, foi ele quem uniu nossos lutos. O individual virou coletivo. Choramos o mesmo choro.

Eu n�o consegui chorar naquele dia. N�o tinha l�grimas. Dona Herm�nia estava ali, na minha frente, como eu poderia me despedir? Fiquei tentando entender como a gente sentia tanto por algu�m que nem conhecia pessoalmente.

Todas as minhas amigas inconsol�veis. Me lembrei da dor que senti quando Airton Senna se foi. As manh�s de domingo nunca mais foram as mesmas. Procurando essa explica��o para essa dor por algu�m que nem nos conheceu, mas que sempre esteve t�o pr�ximo, achei um post no @finitudepodcast que dizia:

“Pode parecer estranho que cada um de n�s se diga enlutado quando morre alguma figura p�blica – mas n�o �. O luto por algu�m famoso, por vezes, pode ser invisibilizado ou at� diminu�do, podemos achar que n�o � para tanto. Quando uma pessoa se torna not�ria, seja na dramaturgia, no esporte ou na literatura, por exemplo, nela passamos a depositar uma s�rie de proje��es. Essa figura passa a representar valores pessoais e sociais. Nos gera identifica��o e representatividade.”

Por essa interpreta��o, ent�o, quando infelizmente morre algu�m como Paulo Gustavo, morre junto um pedacinho nosso que acredita no humor, no talento, na esperan�a. A dor de sentir que parece que era algu�m pr�ximo � leg�tima – e precisa ser reconhecida. Trata-se de algu�m que entrava em nossas casas, nas nossas telas, no nosso imagin�rio – e sem bater na porta, tinha passe livre.

Quando perdemos um �dolo, ainda que n�o sejamos especialmente f�s, sentimos um inevit�vel impacto. Casos como esse geram como��o nacional, um sistema que se retroalimenta: o luto do outro afeta o meu e o meu afeta o do outro. Seja o de quem mora com a gente ou mesmo dos amigos e familiares mais pr�ximos. A ferida que se abriu na classe art�stica, na TV, no teatro e no cinema, na semana passada, se estende a todos n�s.

Como se n�o bastasse, o cen�rio da COVID-19 no Brasil � um agravante. Saber que perdemos Paulo Gustavo para uma doen�a para a qual j� h� vacina, mas n�o h� gest�o nacional, � extremamente dolorido.

“Minha m�e � uma pe�a 3”, filme protagonizado por um ator gay, casado e pai de dois meninos, tem maior bilheteria do cinema nacional no pa�s que mais mata LGBTQIA. Uma personagem com a qual toda dona de casa e m�e se identifica. Um pouquinho de cada uma de n�s naquele personagem t�o divertido.

A COVID-19 veio. Uma m�e perdeu seu filho. Duas crian�as perderam um pai. Nenhum recurso da medicina foi capaz de cur�-lo. A vacina n�o chegou a tempo para ele. Vacina salva vidas, mas ela tardou muito para outros mais de 400 mil brasileiros. Mais de 400 mil amores de algu�m.

N�s sobrevivemos. Seguimos na fila. Da vacina ou do caix�o? Como posso chorar por ele se posso perecer do mesmo mal? Tamb�m n�o fui vacinada. Nem sei quando serei.

Tem gente dizendo que ele foi para o inferno; se foi, j� deixo registrado que � para l� que eu quero ir, o inferno de uns pode ser o c�u para outros. Desse c�u de fiscal de sexualidade alheia quero mesmo dist�ncia. Prefiro a divers�o do inferno de quem acredita no amor, na alegria e n�o deve nada a ningu�m.

Rir � um ato de resist�ncia, ele disse. Com vontade de chorar, sorrio. As l�grimas descem. Eu resisto. A Dona Herm�nia que habita em mim resiste e sa�da a Dona Herm�nia que habita em voc�. Toda m�e tem uma Dona Herm�nia dentro de si. Juntas resistimos.

Milhares de brasileiros perderam a vida para uma doen�a que poderia ter sido evitada caso a vacina tivesse chegado a tempo. Caso houvesse vontade pol�tica. Caso n�o negassem a ci�ncia. Resistimos para que nossos filhos n�o fiquem �rf�os e para que nossos pais n�o tenham que chorar a nossa aus�ncia. Sorrindo quando temos vontade de chorar, reagimos. M�e quer vacina no bra�o. M�e quer puni��o para os respons�veis por esse caos.

Em cada uma de n�s existe um pouquinho da Dona Herm�nia. Paulo Gustavo sempre presente. #oamor�oquenosune

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