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Estado de Minas PADECENDO

Um ano de luto

O ego�smo e o negacionismo s�o caminhos mais f�ceis, mas que nos levam a esse looping infinito de um dia que vem se repetindo h� mais de um ano



(foto: Depositphotos)
(foto: Depositphotos)


Um ano de aulas on-line e as escolas nos apresentam a semana de provas. Toda a press�o por n�o poder sair de casa, n�o poder encontrar os amigos, os av�s, os primos, e fazendo provas. E as m�es est�o como o sistema de sa�de: colapsando!.

Uma prova on-line, a internet n�o pode cair, o computador n�o pode travar, a c�mera n�o pode desligar. � muita press�o! Para a fam�lia e, especialmente, para as crian�as, que lidam com as perdas e ainda t�m que provar que est�o aprendendo.

Inocentes, esperamos o fim de 2020 como se 2021 fosse chegar com o milagre do fim da pandemia. Ganhamos um 2020 com um b�nus macabro. Segunda onda, recordes de mortes. Se ela n�o tinha batido na nossa porta, agora ela est� chegando perto demais.
  
As amigas m�dicas, enfermeiras, psic�logas de CTI relaram o caos:

“Sigo sofrendo com cada �bito. Hoje mesmo chorei ap�s acolher uma jovem que ensaiava como diria aos filhos, ainda crian�as, que o pai n�o voltaria para casa. Nunca mais. Ao lado do leito do pai um desenho colorido, com letras grandes dizendo: 'Estamos te esperando, papai'. Sigo suspirando com cada fam�lia que atende � videochamada com esperan�a de uma not�cia boa. Muitas vezes recebem um balde de �gua fria. E, mesmo assim, sorriem para mim, me aben�oam, agradecem. Como desejo entrar nesses boxes e encontrar um pequeno sinal de melhora que seja.

Sigo morrendo de medo de em algum momento estar do outro lado do tablet, passando pela agonia que acompanho todo dia com algu�m que eu amo.” Larissa Gomes, psic�loga de CTI.

“Estou vendo pessoas morrendo nos quartos dos hospitais e UPAs sem ter a chance de chegar a um leito de CTI.” Tereza Fritz, m�dica intensivista.

Como deve ser dar a not�cia para uma crian�a? A not�cia de que o pai, a m�e, ou um av� n�o vai mais voltar? Como lidar com o luto de uma crian�a? Como vamos cuidar dos �rf�os da COVID?

O luto n�o vem s� da perda de entes queridos, mas tamb�m de tudo que foi perdido nesse per�odo. A conviv�ncia, os passeios, a liberdade de ir e vir, e tudo o que perdemos durante a pandemia.

As crian�as est�o sofrendo, mas nem sempre conseguem verbalizar o que est�o sentindo, mas podemos observar as mudan�as no comportamento. Agressividade, ansiedade, raiva, t�dio, saudade. Os adultos precisam acolher.

“� fundamental um olhar carinhoso e acolhedor, sempre pronto para conversar e descobrir junto com eles o que precisa ser sentido e verbalizado. Apenas escutar j� � importante, e quando n�o h� verbaliza��o por parte das crian�as ou adolescentes, ficar ao lado em sil�ncio j� tem um valor enorme.” – Andrea e H�lade Cappai.

Al�m de acolher, a gente ainda precisa explicar o porqu� de algumas pessoas estarem levando uma vida normal neste momento. Explicar que o ego�smo e o negacionismo s�o caminhos mais f�ceis, mas que nos levam a esse looping infinito de um dia que vem se repetindo h� mais de um ano. Mais um dia em casa esperando tudo isso passar.

Depois de um ano de luto eu j� n�o tento argumentar com quem nega. Nenhum argumento funciona. Mesmo quando algu�m pr�ximo adoece, vai para o CTI e morre, sempre encontram outra causa mortis que n�o seja a COVID.

Contam com a sorte. Com a prote��o divina, sem m�scara, sem distanciamento, sem nenhum cuidado. Eu tamb�m conto com a prote��o divina, mas para ter paci�ncia. Preciso saber esperar, mesmo sentindo que o mundo est� ao contr�rio e que a vida passa depressa demais.

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