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Estado de Minas padecendo

Timidez: um sinal de alerta

N�o podendo ficar invis�vel, ficou t�mida. Retra�da. Encolhida. Encurvada. Fazendo de tudo para n�o aparecer, para n�o correr o risco de rirem dela


26/09/2021 04:00 - atualizado 23/09/2021 14:15



Sala de aula. Era o �ltimo dia daquele ano letivo. N�o para ela, que ia pegar recupera��o em matem�tica. Tinha 11 anos e seria sua primeira recupera��o. Matem�tica estava se tornando uma tortura.

As equa��es foram crescendo, todos aqueles n�meros dan�avam na sua cabe�a. Ficava nervosa, ro�a as unhas, tentava se concentrar, se perdia em mil pensamentos. Quando voltava para a prova j� tinha esquecido qual era a conta que estava fazendo.

A professora entregou uma folha de papel of�cio para cada aluno e deu as instru��es. Cada um deveria colocar seu nome na parte superior do papel e entregar a folha para o aluno sentado � sua frente. Cada aluno deveria escrever na folha do colega a sua opini�o sobre ele.

As folhas iam passando por ela, e ela ia escrevendo: te acho legal, voc� � engra�ado. Mas o que queria mesmo era poder dizer:

Voc� � linda e bem resolvida, eu queria ser como voc�.

Voc� � um grosso e n�o devia falar assim com as meninas.

Eu fico triste quando voc� ri de mim. Eu queria jogar v�lei t�o bem quanto voc�.

Quando a folha dela passou por toda a classe e voltou para ela, ela come�ou a ler o que os colegas haviam escrito:

Deveria se relacionar melhor com outras pessoas, pois se relaciona com poucos. – Rodrigo

Muito t�mida, mas se relaciona bem. – Ana Cristina

Sempre respeita todos, � amiga, s� acho um pouco calada. – Maria Fl�via

Legal, nem um pouco ego�sta, aberta. Acho que precisa falar um pouquinho mais. – Gisela

Muito legal. Precisa se abrir mais com a turma e se entrosar com os colegas. – Jair

Muito prestativa, adoro voc�. Precisa engordar. – Fl�via

Voc� � muito educada. – Vin�cius

Muito t�mida. – Gustavo

Legal, mas t�mida. – Fernando

Estudiosa. Deve se abrir um pouco com a turma. – Armando

Simp�tica, meiga e inteligente. – Romero

T�mida e superlegal. – Fernanda

Muito t�mida, mas j� consegui conquistar sua amizade. – Adriana

Voc� � legal do jeito que �. –  Sandra

Muito legal, mas deveria se integrar mais na turma. – Edson

Te adoro, mas deveria ser mais aberta. – �rika

Ela continuou lendo e parecia que a palavra T�MIDA pulava na frente dos seus olhos, piscando como uma placa luminosa. Ela se viu resumida nessa palavra. Uma �nica palavra que a definia.

Ela tinha mesmo vergonha de conversar, tinha medo de ser julgada, de rirem dela. Tinha medo de ser chamada de boba, de n�o entender a piada.

Naquele ano, muita coisa tinha acontecido e ela foi ficando assim. Se protegendo no escudo da timidez.

Tinha aprendido que era horr�vel ser sempre a �ltima a ser chamada para o time nos esportes coletivos na aula de educa��o f�sica. Sentia vontade de ser invis�vel sentada naquele banco, seria melhor do que ter que ouvir os coment�rios: “N�o, ela n�o!”. Chegava a ter dor de barriga de nervoso e passava a aula toda no banheiro para n�o ter que jogar. Pelo menos assim n�o passava vergonha errando todos os saques, ou quase desmaiando cada vez que conseguia pegar a bola de manchete.

Queria jogar t�o bem quanto as outras meninas. Tinha at� feito escolinha de v�lei para tentar melhorar, mas l� tamb�m riam dela. Era desengon�ada, fraquinha, magrelinha, um fiapinho de gente.

Quando tentou jogar futebol, levou uma bolada na barriga no primeiro minuto de jogo e desmaiou.

Fora da quadra, a vida tamb�m n�o estava f�cil. Ela era f� da Cyndi Lauper e da Madonna. Gostava de roupas e sapatos muito coloridos e nunca estava na moda. Nem sabia o que era isso. Riam dela. Apontavam. Cochichavam.

E mesmo n�o falando nada, ainda aparecia algu�m falando:

“Seu cabelo � liso demais!”

“Suas pernas s�o finas demais!”

“Voc� est� muito magrinha, precisa engordar!”

“Melhora essa postura, menina!”

N�o podendo ficar invis�vel, ficou t�mida. Retra�da. Encolhida. Encurvada. Fazendo de tudo para n�o aparecer, para n�o correr o risco de rirem dela. Para n�o ter que escutar coment�rios sobre a sua apar�ncia. Ela tinha espelho em casa, e gostava do que via, mas foi deixando de gostar de tanto apontarem defeitos que n�o existiam.

Preferia conviver com os bichos. Passava horas sentada observando os peixes do seu aqu�rio. Queria morar l� dentro.

N�o era timidez. Era tristeza. Inseguran�a. Era medo de ser julgada. N�o podia ser ela mesma. N�o conseguia agradar a ningu�m. Sempre tinha um defeito a ser corrigido. Sempre tinha um por�m.  Sempre tinha uma compara��o. Aquela timidez tinha outro nome, era sinal da depress�o que estava chegando. Que foi crescendo. Que um dia tomou conta dela toda. Que virou vontade de n�o estar viva.

#setembroamarelo

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