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Estado de Minas PADECENDO

Lobo em pele de cordeiro

Como muitas mulheres, Gaia levou muitos anos para entender que viveu uma rela��o abusiva, que sexo sem consentimento � estupro


31/10/2021 04:00 - atualizado 31/10/2021 08:33

Lobo disfarçado de cordeiro
(foto: Depositphotos)
Bonito, bem de vida, gentil. Do tipo que ainda manda flores. Conquista a fam�lia, conquista os amigos. Bom papo.

Gaia entrou naquela rela��o ouvindo todo mundo dizer que havia tirado a sorte grande. Ele tinha casa, tinha carro, trabalhava, ganhava bem. Era apaixonado por ela.

“Que casal perfeito voc�s formam!”

“Nossa, como ele � bom pra voc�!”

“Ah, mas ele te d� tudo!”
 
Ela n�o tinha muita coisa. Estudante universit�ria, estagi�ria, sem grana. Saindo de um relacionamento que a deixou quebrada. Embarcou na nova rela��o como muleta, foi ensinada que precisava estar com algu�m para se sentir bem. Tinha a aprova��o de todos, o que mais poderia importar?

N�o entendia, mas sentia que algo n�o estava certo, s� n�o sabia o que era. Era s� uma sensa��o, um mal-estar. N�o conseguia pensar em uma resposta racional para aqueles sentimentos.

Ele tinha uma cole��o de Playboy no quarto, coisa de homem. Se referia a outras mulheres com as quais havia se relacionado como “piranha”, vai ver elas n�o prestavam mesmo. N�o era assim que ela tinha aprendido? Que tem coisa de homem que mulher tem que aceitar pelo bem do relacionamento? Nossos valores n�o devem ficar abaixo dos valores deles?

Contratou prostituta para a despedida de solteiro do noivo da amiga, fez isso com a amiga! N�o d� para justificar. Quando ela soube disso ficou extremamente incomodada, mas n�o era motivo para terminar, aconteceu antes de eles se conhecerem.

Confessou que, num carnaval, levou uma mulher para o apartamento, fez sexo com ela e ela dormiu. Saiu do quarto e deixou o amigo entrar. 

A mo�a acordou com algu�m que n�o conhecia fazendo sexo com ela, gritou, brigou, esbravejou e foi embora sem denunciar. Coisa de homem. Gaia ficou escandalizada, aquilo era errado, muito errado. Era estupro.

Ele falava como se existissem dois tipos de mulher, as vagabundas e as de fam�lia. Mas n�o foi assim que ela havia aprendido tamb�m? Por que ela n�o aceitava?

Muitas festas, viagens incr�veis, presentes. Ele at� emprestou dinheiro para os sogros quando ficaram apertados de grana. E emprestou dinheiro para que ela pagasse seu �ltimo semestre da faculdade para que pudesse pegar seu diploma.

Ela foi envolvida por aquela rede. Foi ficando presa. Precisava ser grata. N�o era uma rela��o equ�nime. Eles n�o estavam em p� de igualdade. Ele fazia as suas gentilezas, a moeda de troca era sexo. Gaia era um trof�u. Uma figura para ser exibida para os amigos e a fam�lia. Uma boneca infl�vel na cama. Anulou seus sentimentos e desejos. Enquadrou-se naquele papel.

Um dia, bebeu demais, perdeu a consci�ncia. No dia seguinte, ele contou que ela havia dormido enquanto faziam sexo, e ela perguntou o que ele fez depois que ela apagou: “Eu continuei!”.

E foi a naturalidade com que ele pronunciou aquelas palavras que a fizeram sair daquele transe e entender que estava sendo usada. Mas n�o foi f�cil se libertar daquela rela��o. Ela sentia pena dele, se sentia ingrata, como se ela fosse a vil� da hist�ria. Uma pessoa ruim.

Meses se passaram at� ela conseguir dar um fim ao relacionamento. Ningu�m entendia como ela podia estar t�o feliz e sorrir daquele jeito depois de deix�-lo devastado. Depois de tudo que ele havia feito por ela. Gaia n�o se importava, ela podia ser a vil� da hist�ria para quem estava vendo tudo de fora. Ela sempre se identificou mais com as bruxas do que com as princesas. O importante � que ela estava feliz e n�o precisava de ningu�m para sentir essa felicidade. Ela estava sozinha e completa como nunca esteve antes.

Como muitas mulheres, Gaia levou muitos anos para entender que viveu uma rela��o abusiva, que sexo sem consentimento � estupro. Que n�o poder escolher nada porque tudo era presente a tornava parte do pacote da divers�o. Ela nunca contou para ningu�m, mas ele era s� um lobo em pele de cordeiro.

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