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Estado de Minas padecendo

Fragilidade Branca

N�o se sinta ofendido quando ouvir a express�o 'privil�gio branco', sinta-se curioso, se reconhe�a


21/11/2021 04:00 - atualizado 18/11/2021 12:11

tabuleiro de xadrez
Mais de 300 anos desse passado escravista n�o se apaga de um dia para o outro (foto: Depositphotos )



Voc� j� parou para pensar sobre a dificuldade que n�s, pessoas brancas, temos em debater quest�es raciais? J� viu como a gente tem mania de falar que tudo � mimimi? Pois �, isso tem nome: fragilidade branca.

A escritora e consultora de quest�es sociais nos EUA, Robin DiAngelo afirma em seu livro “Fragilidade branca” que os brancos perpetuam o racismo por serem fr�geis demais. Essa nossa indisposi��o ao tema tem rela��o com o inc�modo que sentimos ao nos vermos implicados na trama do racismo. Ficou incomodado/a?
 
Eu j� fiquei, muitas vezes. Porque, claro, � mais f�cil falar: eu n�o sou racista do que analisar o racismo estrutural e como ele influencia nossas decis�es, nossas rela��es pessoais, nossas viv�ncias. Foi quanto eu me dei conta disso que decidi deixar de ser fr�gil e encarar a quest�o sem medo.

Outro dia fiz um repost da @maeatual_negramagda no Instagram, o conte�do do texto era esse:

“Era uma manh� de ter�a-feira e recebo uma mensagem no WhatsApp de uma professora de uma cidade do interior de S�o Paulo que fez um curso comigo e virou uma amiga. Magda, preciso falar com voc� sobre racismo na minha escola. Eu na hora j� me coloquei � disposi��o para uma conversa.

Ela me relata que a escola � de crian�a de 0 a 4 anos, e que em uma sala tem 6 crian�as, entre elas 1 menino negro e 5 brancos ambos com 3 anos. Em uma brincadeira a crian�a come�a a chorar e n�o quer brincar com a crian�a preta e diz "preto" n�o quero. � sujo, feio, � preto. A cena choca a professora que pega o menino negro que come�a a chorar e o tira de cena. O menino negro chora sem parar. Ligam para os pais, que veem imediatamente e tiram o menino daquele espa�o.

Eu sugiro uma conversa com os pais da crian�a branca, e ela acontece nesse mesmo dia. No come�o a frase: N�s n�o somos racistas. N�o sei de onde ele tirou isso.

Respiro e in�cio uma conversa:

Como Educadora Parental vou entendendo os h�bitos, costumes, rotinas, como funciona o dia dessa fam�lia. A�, ela me traz que o menino adora ficar descal�o, a maioria das brincadeiras s�o no quintal, traz que ele brinca tanto que tem dia que seu p� fica preto. E nessa hora eu a convido a pensar: � preto ou sujo? A m�e branca para e come�a a chorar sem parar. E depois de respirar ela relata que n�o � s� o p�, � a roupa toda preta, que fica nojenta, que a casa est� imunda, toda preta. Chorando diz que faz essa fala diariamente.

E a�? O que � preto para o seu filho? E ela responde, o sujo.

Crian�as n�o nascem racistas, elas se tornam racistas. Precisa perceber, n�o naturalizar as situa��es que foi imposta pela branquitude. Tudo que � preto � mal. N�o! Por favor, n�o crie seu filho com essa narrativa, porque ele vai associar. � isso que eu estou convidando as fam�lias a pensarem.

Tudo acontece no dia a dia. A fam�lia fala, a escola fala, a crian�a s� est� aprendendo o que nos fere. Olhar para as quest�es raciais s� na hora que acontece n�o nos basta. A mudan�a � di�ria. Tem que come�ar. O que d�i na gente n�o atinge em nada voc�s. Chega dessa normalidade!”

O post repercutiu bastante, muita gente comentou que era necess�rio pois precisamos dessa desconstru��o di�ria, e claro, teve quem chamou de mimimi, afinal a sujeira � preta e preto � apenas uma cor.

Chamar a dor do outro de “mimimi” diz muito mais sobre voc� do que sobre o outro. Chamar de “mimimi” � assumir a sua incapacidade de aceitar a dor do outro porque aquela dor n�o � sua. Chamar qualquer coisa de “mimimi” � assumir sua incapacidade de validar experi�ncia de vida diferentes da sua.

Eu gosto do inc�modo, � ele que nos leva ao aprendizado. Gosto de sair da minha zona de conforto e encarar minhas incertezas, que s�o muitas. Quero ter minhas verdades contestadas e viver cheia de d�vidas.

P� preto ou p� sujo?

Criado-mudo ou mesa de cabeceira?

Denegrir ou difamar?

Ser� que vai doer muito trocar algumas express�es de raiz racista por outras que n�o sejam ofensivas?

A coisa t� preta? Cabelo ruim? Cabelo duro? Servi�o de preto? Meia tigela? Mulata? Cor do pecado? N�o sou tuas negas? Barriga suja? Nasceu com um p� na cozinha? Feito nas coxas? Mercado negro? Magia negra? Lista negra? Ovelha negra? Inveja branca? Samba do crioulo doido? Crioulo? Preto de alma branca? Chuta que � macumba?

E tem essas duas aqui que eu descobri recentemente (Fonte: sedh.es.gov.br):

“Dom�stica”: dom�sticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das fam�lias brancas e eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domesticados atrav�s da tortura.

“Disputar a nega”: possui sua origem n�o s� na escraviza��o, como tamb�m na misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o pr�mio era uma escravizada negra.

Repensar nosso vocabul�rio � s� o come�o. Mais de 300 anos desse passado escravista n�o se apaga de um dia para o outro. Palavras dizem muito sobre nossa sociedade, sobre nossa cultura. N�o se sinta ofendido quando ouvir a express�o “privil�gio branco”, sinta-se curioso, se reconhe�a. Falar e pensar sobre racismo n�o pode ser um tabu para pessoas brancas. Deixemos a fragilidade de lado.

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