
Qualquer pessoa que acesse m�dias sociais, que veja jogos de futebol, escute r�dio ou podcast, j� viu ou ouviu uma chamada para uma aposta. Elas est�o em todos os lugares. N�o existe uma lei que pro�ba, ou regulamente minimamente essa armadilha.
Digo armadilha porque muita gente entra achando que � uma brincadeira, joga uma vez, ganha, joga outra, perde o que ganhou e mais alguma coisa, joga novamente para tentar recuperar o que perdeu. E nesse perde a ganha, antes que o jogador se d� conta, ele est� viciado.
O v�cio em jogos � pior que o v�cio em crack. Mas o crack � ilegal e essas apostas on-line n�o s�o. Ambos s�o feitos para o usu�rio perder. E eles perdem tudo, at� a dignidade, o senso de �tica e moral. Os efeitos das drogas e dos jogos no c�rebro s�o muito parecidos.
As apostas on-line pegam muita gente porque parece um joguinho sem maiores consequ�ncias. A pessoa joga um valor pequeno e, no come�o, ganha um valor mais alto. E se voc� ganha uma soma muito alta, por exemplo, R$ 50 mil, voc� n�o pode sacar o valor de uma vez, s� pode sacar R$ 5 mil por dia. Com isso o jogador � obrigado a acessar a plataforma por 10 dias seguidos para ir sacando aos poucos. A cada vez que ele entra, recebe um convite para jogar mais uma vez.
Uma vez viciada, a pessoa come�a a fazer empr�stimos para jogar mais. E perde mais e mais. Perde n�o apenas dinheiro, mas perde o controle da pr�pria vida. A grande maioria dos viciados em jogos s�o homens, mas tamb�m h� mulheres. As reuni�es dos jogadores an�nimos acontecem semanalmente em todo o Brasil. E ningu�m faz nada para impedir que essas plataformas continuem ativas e roubando a vida das pessoas.
Teoricamente essas apostas s�o permitidas para maiores de 18 anos, mas, na pr�tica, como n�o h� nenhum controle, o que temos visto s�o crian�as e adolescentes fazendo apostas e gastando dinheiro que n�o t�m. Cada vez mais, psic�logos, psicopedagogos, psiquiatras, est�o recebendo pacientes jovens em seus consult�rios para tratar esse v�cio.
A psic�loga Larissa Figueiredo Gomes, que tem atendido jovens jogadores alerta:
“Apesar de proibida, a participa��o de menores de 18 anos � uma realidade, j� que o p�blico adolescente mente a idade no cadastramento, que n�o possui fiscaliza��o. Temos aqui uma combina��o perigosa. Essa "brincadeira" pode facilmente virar adi��o por jogar e se tornar mais um dos s�rios problemas de sa�de p�blica, superando a depend�ncia qu�mica. Infelizmente, essa � a aposta de especialistas em sa�de mental.
Adolescentes passam por transforma��es biol�gicas intensas. Essas transforma��es ocorrem para que o organismo tenha oportunidade de desenvolver novos repert�rios comportamentais, necess�rios para a fase adulta, associados � autonomia. No entanto, se os est�mulos nesta fase da vida privilegiarem emo��es positivas intensas de curto prazo, esse comportamento passar� a ser emitido com mais frequ�ncia e intensidade, podendo se tornar um v�cio.
Cabe frisar que a parte do c�rebro respons�vel pela avalia��o de riscos, o c�rtex pr�-frontal, somente tem sua forma��o completa ap�s os 20 anos de idade. N�o � � toa que adolescentes s�o mais propensos a se exporem a perigos. Logo, fica claro que crian�as e adolescentes n�o est�o preparados fisicamente e tampouco psicologicamente para jogos de azar. N�o valorize ganhos em apostas! Reconhe�a e valorize seus talentos, seu empenho em atividades produtivas, que fortale�am sua autoestima e seu senso de contribui��o com a sociedade!
Conversem com os adolescentes, estejam pr�ximos, criem conex�es e monitorem as atividades da Internet! Como tudo em sa�de, a preven��o � o melhor caminho. Jogo de azar n�o � brincadeira! Se esse problema j� chegou em sua casa e escapou ao controle, procure ajuda!”
Se voc� cuida de crian�as ou adolescentes, coloque um aplicativo de controle de pais nos celulares, tablets e computadores para que eles n�o tenham acesso a sites de jogos. Se voc� � adulto, lembre-se: n�o existe dinheiro f�cil. Se voc� ou seus filhos andam jogando, procure ajuda!
Voc� conhece algu�m que j� perdeu dinheiro nesses jogos. Isso n�o � uma pergunta, � uma afirma��o. Voc� conhece, s� n�o sabe! No site dos Jogadores An�nimos https://jogadoresanonimos.com.br/ existem depoimentos, tem os 12 passos para a recupera��o, datas e hor�rios das reuni�es presenciais, telefones de contato e muitas outras informa��es. O v�cio em jogos, em apostas, � uma doen�a e deve ser tratada como tal. E a fam�lia tamb�m precisa se tratar porque os v�cios adoecem quem est� pr�ximo.
Observem seus filhos, conversem, mantenham a conex�o e a escuta. E se notarem que algo n�o vai bem, procure ajuda, quando mais cedo, melhor. Deixo um convite para pensarmos em formas de cobrar do poder p�blico, que essas plataformas sejam regulamentadas, ou mesmo proibidas.