
Como o ideal de fam�lia deixa as crian�as em risco.
Fam�lia deveria significar amor, afeto, escuta, prote��o, respeito, carinho, conex�o, cuidado, companheirismo, aten��o. No entanto, em ambientes familiares, muitas vezes, vemos neglig�ncia, viol�ncia, incompreens�o.
“N�o vou denunciar porque isso acabaria com a fam�lia”, disse a m�e de uma adolescente estuprada pelo tio.
“Esquece isso! Ela nem vai lembrar”, disse o pai da menina de 4 anos para a m�e que queria denunciar o sogro pelo abuso da crian�a.
“Seu av� � o homem mais �ntegro que eu j� conheci, voc�s jovens n�o t�m limites, ficam andando de roupa curta em casa”, disse a av� da adolescente que a procurou para contar dos abusos do av� juiz.
“Mandamos ele morar na cidade do meu irm�o, depois que abusou de um colega de classe. N�o queremos que pensem que ele � um estuprador”, disse a irm� mais velha de um adolescente de 12 anos que estuprou um colega de classe.
“Ele se oferecia pra mim o tempo todo”, disse o padrasto da crian�a de 10 anos.
“Ele � homem, voc� � mulher, a carne � fraca e voc� pode acabar cedendo, por isso voc� precisa ir morar com os seus av�s.” Disse a m�e para a filha adolescente, quando percebeu que o padrasto a estava assediando.
Esses relatos s�o comuns e buscam, segundo quem fala, a prote��o de uma fam�lia. � essa mentalidade que torna a fam�lia o lugar mais perigoso em termos de viol�ncia sexual contra crian�as e adolescentes.
A estrutura patriarcal, machista, falocentrista, heteronormativa, classista, adultoc�ntrica e preconceituosa socializa as mulheres para serem capatazes do patriarcado, treinadas para a subalternidade. Essa cren�a de que o homem � superior � o que faz com que mulheres estejam sujeitas � viol�ncia dom�stica e crian�as e adolescentes estejam sujeitos ao abuso dentro do ambiente familiar. A m�e �, todo o tempo, vigiada para que ensine a seus filhos que eles devem cumprir os pap�is na hierarquia social a que est�o destinados de acordo com o seu sexo.
Conforme escreveu Cila Santos: “S�o as m�es que t�m a miss�o de preparar mulheres para serem m�es e esposas. Que v�o fiscalizar se voc� est� se tornando “direita”, que v�o reprimir qualquer coisa que esteja fora do que manda o manual patriarcal de comportamento feminino. Que vai repudiar qualquer coisa que n�o seja belo, recatado e do lar. (...) Essa mulher aprendeu isso, e ensinar� isso. A misoginia que ela internaliza nos seus � a mesma que aprendeu das suas ancestrais. (...) “Fecha essas pernas, menina!” nossas m�es disseram. Porque o mundo devora mulheres. Porque elas n�o puderam nos proteger. N�o puderam proteger a si mesmas.”
Esse ideal de fam�lia que serve o patriarca, que valoriza mais os homens do que as mulheres, deixa as crian�as desprotegidas, em risco. O medo de enfrentar o abusador e de destruir a fam�lia tamb�m � uma forma de viol�ncia. Isso faz com que a v�tima de um abuso seja responsabilizada pelo crime cometido contra ela.
A fam�lia que n�o protege � uma fam�lia falida, uma fam�lia de faz de conta, que finge que est� tudo perfeito enquanto tudo desmorona. Proteger um estuprador porque ele � parte da fam�lia faz com que o sujeito tamb�m seja respons�vel pelos danos psicol�gicos sofridos pelas v�timas do abusador. Quando uma pessoa adulta fica sabendo de uma viol�ncia contra uma crian�a ou adolescente e n�o faz nada para n�o destruir a fam�lia, ela est� colocando outros membros da fam�lia em risco e dilacerando a v�tima.
A institui��o fam�lia precisa ser revisada. Essa f�rmula machista e castradora vem adoecendo pessoas h� d�cadas, h� s�culos. Essa institui��o fam�lia n�o pode estar acima da sa�de f�sica e mental das pessoas. Fam�lia � amor e quem ama protege!