
Quando um n�o quer, "duas lombrigas", dizia meu pai.
Rafaela tem seis anos. Fazendo seu dever de casa durante a pandemia perguntou:
- Se nascemos da barriga, quem foi que nasceu primeiro?!
Deveriam criar o Darwin para crian�as, pensei... Tentamos exemplificar com a hist�ria do ovo e da galinha. Ela n�o teve d�vida:
- Ent�o, o Papai do C�u � uma galinha!!
Conclus�o �bvia! Quem provaria o contr�rio?! Qual a melhor evid�ncia negativa para esta afirma��o?! N�o, ela estava certa! Papai do C�u est� em todas as coisas. Somos frutos de uma energia c�smica cuja am�lgama � o amor, com todas as suas contradi��es.
Ap�s esta conclus�o, Rafaela n�o mais comeu galinha. N�o se sentia bem comendo Deus. Mas, frango sim. Esse pode!
Nessa mesma semana, fui convidado para uma banca de doutoramento em Bioinform�tica no Instituto de Ci�ncias Biol�gicas da UFMG. Meu amigo Cacha�a, orientador da tese, cujo nome oficial � Marcus, me chama por um motivo que somente no final descobri.
Sou p�ssimo em inform�tica. Digito com dois dedos, como a maioria da minha gera��o, e quase tenho convuls�o diante de uma raiz quadrada. Na parte Bio eu navego e chego em portos seguros, n�o sem passar por turbul�ncias.
Marcus Cacha�a, meu companheiro no TDR (Time da Rua), e seus p�s-graduandos, s�o garimpeiros de mol�culas. Dissecam e reorganizam os �tomos. Criam o que certamente um galin�ceo jamais pensaria, nem eu! O mais fascinante nessas pesquisas � o fato de podermos reorganizar a mat�ria a nosso favor. Se podemos reinventar a mat�ria, porque n�o a n�s mesmos?!
O meu papel na discuss�o dessas teses, cujos pesquisadores trabalham arduamente por v�rios anos, � avaliar e sugerir perspectivas futuras para essa nova mat�ria. Curioso n�?! Brincamos de Deus, fazendo malabarismo at�mico e at� mesmo preparando um frango ao molho pardo. Deus ao sabor mineiro. Galinha n�o pode...
A mat�ria transformada abre caminho para que a vida seja mais saborosa e as pessoas degustem a exist�ncia at� n�o mais estarem em forma de gente, ou galinha.
Mas, o p� da estrela continuar� o seu caminho rumo ao infinito, tendo como destino ser questionado novamente com a pergunta:
- Pra qu�?!
Certamente, para que, num futuro c�smico, o seu filho possa lhe fazer uma saborosa pergunta:
- Pai, Deus � uma galinha?!