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Estado de Minas CARLOS STARLING

Ano novo, velhos erros

O destaque para o comportamento irrespons�vel e alienado das pessoas no final do ano e suas consequ�ncias a curto e m�dio prazo � um alerta


08/01/2022 07:33

fogos de artifício
(foto: Pixabay)


Esta semana, publico um preciso texto escrito e publicado no Boletim Matinal COVID 19 da Faculdade de Medicina da UFMG, n�mero 594 de 07/01/2022. 

Trata-se de um editorial com texto magistralmente escrito pelo Dr.  Bruno Campos Santo, m�dico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, editor substituto do Boletim Matinal da FM-UFMG *.

Me chamou aten��o a clareza e maturidade da an�lise retrospectiva dos diversos momentos da pandemia, at� hoje. Dr. Bruno fez um texto usando palavras que eu garimpava para expressar a preocupa��o com a explos�o de casos que estamos vendo nesses primeiros dias de 2022.

O destaque para o comportamento irrespons�vel e alienado das pessoas no final do ano e suas consequ�ncias a curto e m�dio prazo � um alerta para algo que chamei aten��o em coluna anterior, ”Prud�ncia e canja de galinha, ou folia e dane-se”. Na realidade, dane-se foi um ajuste necess�rio aos princ�pios editoriais da coluna. A palavra exata era outra.

Pois bem, pela explos�o no n�mero de casos, ficou claro que as pessoas optaram pelo “foda-se”. Me desculpem, mas n�o resisti.

Os velhos erros se repetem, ano ap�s ano. Exatamente por isso, certamente teremos por um longo per�odo a presen�a inc�moda desse e de outros v�rus a nos amea�ar. 

Por�m, quem nos amea�a de fato somos n�s mesmos. O v�rus apenas reflete nosso comportamento e compromisso com o bem-estar das pessoas e outros seres que habitam esse planeta.

Obrigado, Dr. Bruno, pelo belo texto e parab�ns pela dedica��o ao Boletim Matinal da UFMG-COVID-19, uma iniciativa excepcional do meu colega de trincheira, Dr. Una� Tupinamb�s, a quem, mais uma vez, abra�o e agrade�o.


“Ano novo, velhos erros

Iniciamos um novo ano - nosso terceiro em vig�ncia da Emerg�ncia de Sa�de P�blica de Import�ncia Internacional (ESPII) causada pela Covid-19. Embora o v�rus seja conhecido desde o fim de 2019, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) reconheceu o estado de ESPII apenas no final de janeiro de 2020. Dois r�veillons se passaram desde o an�ncio da OMS. Perdemos mais de 619.000 brasileiros para a pandemia. No mundo, onde o dia 1o de janeiro � considerado Dia da Confraterniza��o Universal pela Organiza��o das Na��es Unidas, o n�mero de �bitos passa de 5.446.000. N�o s�o dados dif�ceis de serem encontrados, pois est�o nessa e em todas as quase 600 edi��es deste Boletim desde sua concep��o.
Evolu�mos, e muito, em nossa compreens�o sobre a doen�a. Descobrimos meios concretos de reduzir a probabilidade de infec��o pelo v�rus. Desenvolvemos, em tempo recorde, n�o apenas uma, mas uma variedade de vacinas sabidamente seguras e eficazes contra o v�rus. Nossa experi�ncia em sa�de p�blica e terapia intensiva permitiu uma melhoria no cuidado dos doentes enquanto o tempo passou. Soubemos, do primeiro dia, da import�ncia do uso de m�scaras e distanciamento social. Evolu�mos nossa capacidade de produ��o para repor estoques de equipamentos que, no in�cio, foram t�o escassos. Demoramos, em nosso pa�s, a iniciar uma campanha relevante de vacina��o. Ainda assim, somos hoje um dos pa�ses com maior n�mero de doses aplicadas, incluindo primeira, segunda e terceira doses.
Por todo o tempo de avan�o da pandemia, vimos o perfil de infectados se alterar conforme alter�vamos as pol�ticas de contingenciamento. A doen�a foi implac�vel com trabalhadores desde o princ�pio, principalmente os mais pobres. Vimos aumento no n�mero de casos entre pessoas de renda cada vez mais alta conforme as medidas flexibilizavam, observando os leitos particulares alcan�ando suas capacidades operacionais m�ximas por algumas vezes. A volta de atividades presenciais, festas e reuni�es sociais n�o perdoou sequer os mais jovens.
Os negacionistas – da vacina, das m�scaras e dos protocolos sanit�rios -, s�o e, provavelmente, seguir�o sendo a maioria nos leitos de enfermaria e UTI. N�o � a estes que esta Carta ao Editor, em particular, se dirige.
Uma nova classe de nega��o, embora, talvez, inconsciente, se forma. Me refiro a grupos heterog�neos, vacinados e bem informados. Como jovem m�dico, me dirijo a jovens e adolescentes desta vez.
Embora a taxa de vacina��o completa entre jovens adultos ainda preocupe as autoridades e especialistas, as redes sociais nos mostraram uma nova modalidade de ativismo digital em prol da verdade, da ci�ncia, e da defesa ao SUS. Jovens, com acesso � informa��o e com redes de propaga��o irreprodut�veis pela maioria dos profissionais da sa�de, foram importantes aliados na luta contra � Covid-19. Chegamos a controlar a pandemia em n�veis de alerta baixos por semanas, muito em parte devido � atua��o deste grupo.
A situa��o sanit�ria mudou drasticamente nos primeiros dias de 2022. A dupla carga de doen�a causada pelo aumento no n�mero de casos de Influenza tem sua parcela de culpa, mas j� sabemos, por testagem, que isso n�o � tudo. A virada do ano com circula��o de nova variante teve efeito avassalador no controle sanit�rio.
As mesmas redes sociais, que outrora foram essenciais no combate � pandemia, j� anunciavam a trag�dia que estava por vir. Fotos festivas de aglomera��es de milhares de pessoas, sem m�scara e sem distanciamento, estavam publicamente dispon�veis, mostrando a realidade de algumas dezenas de praias pelo pa�s. Com um p�blico majoritariamente jovem e bem informado, os cuidados sanit�rios foram ignorados por, pelo menos, aquele final de semana. Novos clusters de transmiss�o s�o conhecidos por profissionais que atendem na linha de frente. Hospitais, p�blicos e privados, voltam a atingir suas capacidades operacionais e, conforme os infectados retornam para suas casas, a transmiss�o se espalha pelo restante do Brasil.
O efeito n�o surpreende a ningu�m: o mesmo ocorreu no r�veillon passado. Cidades tur�sticas foram tomadas por multid�es que distribu�ram a doen�a Brasil afora. Sab�amos que isso aconteceria e, ainda assim, deixamos se repetir.
Preocupados com o Carnaval, deixamos que o novo ano se iniciasse com uma pandemia fugindo do nosso controle. Munidos de uma falsa seguran�a, estamos vendo indiv�duos vacinados, n�o vacinados ou parcialmente vacinados em sua primo ou reinfec��o. Ainda, erroneamente seguros de que, embora mais transmiss�vel, a menor letalidade da variante �micron n�o ter� resultados catastr�ficos. O pior: estamos falando de indiv�duos que sabem de tudo isso.
Falamos dos mesmos indiv�duos que, por 3 anos, t�m ajudado a disseminar cr�ticas �s Fake News, orientar e promover sa�de. Colegas, amigos e parentes que, mesmo lutando contra o negacionismo durante 364 dias, negaram as orienta��es sanit�rias mais b�sicas naquele �nico dia – ou assim esperamos.
O epis�dio, ainda que recente, j� come�a a fazer v�timas entre n�s. A transmiss�o da doen�a em suas cidades de origem poder� ser igualmente grave.
Repetimos o erro e tivemos resultado semelhante ao do passado. N�o h� como voltar atr�s, mas podemos tentar reduzir danos. A quarentena bem feita �, neste momento, essencial. Campanhas de vacina��o devem ser mais enf�ticas do que nunca. Cuidado com nossas crian�as, idosos e grupos de risco faz-se mister.
Falhamos, dessa vez, enquanto jovens cidad�os, mas podemos fazer melhor daqui para a frente. Podemos ser o exemplo que precisamos dar aos negacionistas. O Carnaval est� pr�ximo e eventos oficiais est�o sendo cancelados. A clandestinidade certamente ocorrer�. Eventos conhecidos por n�o permitir o uso de celulares (para esconder o descumprimento de medidas sanit�rias) s�o e seguir�o frequentes. Devemos ser vigilantes.

O per�odo de quarentena dos infectados do R�veillon se encerrar� em breve e muitos ter�o uma nova oportunidade de respeitar � risca as regras sanit�rias da pandemia. A infec��o recente continua n�o sendo salvo-conduto para o descumprimento dessas regras. Essa falsa seguran�a tamb�m precisa acabar.
No meio da discuss�o sobre vacinas e grupos de risco, reinfec��es e n�mero de doses, somos obrigados a voltar 3 anos no tempo e dizer: use m�scara, evite aglomera��es e respeite o distanciamento social.
Come�amos o ano novo repetindo os erros do passado. O que faremos daqui para frente ainda � um livro em branco.
Um saud�vel 2022!”

* Bruno Campos Santos
M�dico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais; Mestrando pelo Programa de P�s-Gradua��o em Sa�de do Adulto da FM-UFMG; Residente em Cirurgia Geral no Hospital SEMPER; Plantonista contratado em Urg�ncia e Emerg�ncia da Rede SUS-BH. Cocoordenador acad�mico e editor substituto do Boletim Matinal da FM-UFMG. Correspond�ncia: [email protected]



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