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Estado de Minas CARLOS STARLING

N�o espetem o queijo

Uma an�lise do momento atual da pandemia e da oportunidade que temos para controlar a dispers�o viral e, enfim, voltarmos a viver pr�ximo da normalidade


19/02/2022 06:00 - atualizado 19/02/2022 07:42

Modelo queijo suíço
O combate � pandemia requer a releitura de como a humanidade tem responsabilidades compartilhadas a fim de vivermos coletivamente, em harmonia no nosso planeta, na nossa casa. (foto: Reprodu��o/Instituto Brasileiro para Seguran�a do Paciente)
A pandemia nos trancou em casa, mas abriu portas. Ao longo dos �ltimos dois anos, passamos a nos relacionar de forma virtual com o mundo. Neste espa�o cibern�tico encontrei o Dr. Octavio Augusto. Brilhante colega e pesquisador, membro do comit� de vanguarda e coordenador m�dico da sa�de do colaborador do Hospital S�rio-Liban�s.

Muito al�m da parceria t�cnico cient�fica, compartilhamos o amor pela m�sica. Particularmente, pela �pera. Casado com a cantora Carmem Monarcha e genro da tamb�m cantora Mariana Monarcha, Octavio respira arte e transpira compet�ncia, sensibilidade e gentileza.

Apesar de jamais termos nos encontrado pessoalmente, o percebo como um bom velho amigo, daqueles que n�o precisamos encontrar com frequ�ncia para nos sentirmos sempre em casa.

H� poucos dias recebi dele este precioso texto, o qual compartilho hoje com voc�s.

Trata-se de uma an�lise brilhante do momento atual da pandemia e da janela de oportunidade que temos para controlar a dispers�o viral e, enfim, podermos voltar a viver pr�ximo da normalidade que viv�amos at� final de 2019.

Para n�s mineiros, "n�o espetar o queijo" � algo complexo e ao mesmo tempo quase imposs�vel. Mas, neste caso, trata-se de um queijo su��o com furos que podem comprometer a nossa chance de degustarmos um futuro melhor. Depende, fundamentalmente, de cada um de n�s.

N�o espetem o queijo
Por Octavio Augusto Camilo de Oliveira*

In�cio de 2022 e, enfim, temos ampla cobertura vacinal - mais de 70% da popula��o. Crian�as vacinando! O momento t�o esperado foi atingido? N�o � o que vemos. Quem tem um amigo ou familiar que entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022 n�o se contaminou? S�o recordes di�rios de contamina��o.

Mais transmiss�vel, a variante �micron escapa das vacinas, causa um quadro cl�nico leve a moderado e, entre vacinados, vemos poucos casos graves ou �bitos. Seria ent�o ok e at� "bom" todos pegarem logo a Covid-19, pois assim a pandemia chegaria ao fim? N�o! N�o � e nunca ser� ok algu�m ficar doente. N�o se trata de um "resfriado forte" e o risco de �bito, mesmo entre vacinados, n�o � zero. Sequelas como falta de ar, tosse, cefal�ia, perda de olfato ou paladar e fadiga podem demorar meses para melhorar, ou n�o.

O sistema de sa�de n�o foi feito para ser um grip�rio. Isso, por exemplo, afoga os atendimentos �s urg�ncias, como infarto ou AVC. Por telemedicina, prepare-se para ficar horas aguardando atendimento. Testes? Contente-se se conseguir fazer um.

As crian�as, sem vacina��o ampla, continuam vulner�veis. Entre as causas totais de mortes para crian�as de 5 a 11 anos, a Covid-19, com cerca de 1500 �bitos, s� perde para os acidentes de tr�nsito. Deixar de tomar os cuidados, reduzindo ou ignorando barreiras, facilita a r�pida transmiss�o e replica��o viral. Cria-se, assim, um ambiente ideal para o surgimento de novas variantes que podem ser, inclusive, mais letais. 

Cansados, no al�vio imagin�rio que as vacinas trariam, baixamos a guarda.

Ian M. Mackayda, da Universidade de Queensland (Australia), em junho de 2020, apresentou ao mundo o modelo do queijo su��o para explicar o combate � pandemia: "Nenhuma medida isolada de preven��o funcionar� 100%, mas quando come�amos a juntar diferentes camadas (medidas) criaremos uma barreira efetiva. As vacinas ser�o uma �tima not�cia, mas mesmo quando a primeira chegar, ela n�o resolver� a pandemia por si s�. � vital levar em considera��o todas as camadas (medidas) em vez de apenas uma. E cada uma delas tem suas complexidades. Por exemplo, nem todas as m�scaras s�o igualmente eficazes ou s�o usadas de forma adequada, � por isso que cada medida tem v�rias imperfei��es."

S�o como fatias de um queijo su��o que apresentam furos, mas quando alinhamos muitas fatias (medidas) os furos n�o se sobrep�em. Espetamos o queijo. Afrouxando as medidas de prote��o, alinhamos os "furos das fatias", permitindo assim maiores chances de falhas para dissemina��es e contamina��es ocorrerem.

Festas de final de ano, fadiga mental e uma variante mutante, mais transmiss�vel: receita perfeita para a explos�o de casos em janeiro! Apenas 61,6% da popula��o mundial foi vacinada com uma dose e, em pa�ses de baixarenda, esse �ndice � de m�seros 10%. E a imunidade de rebanho t�o almejada? Com tantas variantes, n�o sabemos. Vacina��o ampla n�o basta se o nosso organismo n�o conseguir aprender e guardar mem�ria para uma prote��o duradoura. Este � o cen�rio para flexibilizar barreiras?

N�o! Diante de uma amea�a maior, � preciso o incremento de barreiras inteligentes e n�o o afrouxamento intenso que temos visto. Testagem estrat�gica e objetiva, melhores testes, sanitiza��o com luz ultravioleta, melhores m�scaras, evolu��o e, principalmente, equidade na distribui��o das vacinas. Estes s�o alguns exemplos. Todo o progresso cient�fico adquirido em tempo recorde deve ser utilizado. N�o espetar o queijo depende de todos que est�o colocando e alinhando as fatias: popula��o, fam�lias, empresas, governo e demais institui��es.

Enquanto a popula��o clama pela chegada do status end�mico para Covid19, � necess�rio entender que, antes disso, vivenciaremos epidemias, surtos e endemias da doen�a. Tudo junto e misturado no nosso mundo desigual.

J� vivemos o legado da pandemia: numa amea�a a vida, somos ego�stas e n�o pensamos coletivamente. N�o � ok viver em pandemia. O combate � pandemia requer a releitura de como a humanidade tem responsabilidades compartilhadas a fim de vivermos coletivamente, em harmonia no nosso planeta, na nossa casa. N�o perdemos a pandemia para um v�rus, mas sim, para o maior furo: n�s mesmos.

*Octavio Augusto Camilo de Oliveira � Pesquisador, Membro do Comit� de Vanguarda e Coordenador M�dico da Sa�de do Colaborador do Hospital S�rio-Liban�s

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