
Nos �ltimos 60 anos vivemos in�meros surtos e epidemias das mais diferentes etiologias e dimens�es epidemiol�gicas. Apesar de todos eles terem causado como��o social e sofrimento para milhares de fam�lias, nenhuma delas teve o impacto global que a pandemia de COVID-19 vem causando.
Em todas essas epidemias e, principalmente, na atual, a ci�ncia foi absolutamente fundamental no seu controle, sendo o desenvolvimento das vacinas a chave mestra dessa hist�ria.
Entretanto, para se chegar �s vacinas vai uma longa jornada que come�a pela decis�o pol�tica de se investir em ci�ncia e tecnologia. Portanto, a priori, o enfrentamento de epidemias passa necessariamente por decis�es pol�ticas.
Nesse sentido, o Instituto Quest�o de Ci�ncia (IQC) publicou, em seu editorial de 30/08/2022, as Dez perguntas para quem leva Ci�ncia a s�rio, o qual est� reproduzido a seguir.
"Iniciada a temporada de entrevistas e debates entre os candidatos � Presid�ncia do Brasil, vemos com preocupa��o (mas, infelizmente, sem surpresa) o que poderia mostrar-se um di�logo franco sobre o futuro do pa�s, ser engolido e digerido pelo que o fil�sofo marxista franc�s Guy Debord t�o bem diagnosticou como "sociedade do espet�culo", um jogo de performance e apar�ncia projetado para impressionar e mobilizar sem tocar em nada de substancial.
Aus�ncia de subst�ncia � exatamente o que transparece nos trechos dos programas de governo que tratam de pol�tica cient�fica, de acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia (SBPC).
Em um de seus aforismos, Debord adverte que "o espet�culo que falsifica a realidade �, a despeito disso, um produto dessa realidade", e que o mundo real, invadido pela contempla��o do espet�culo, "acaba absorvendo-o e alinhando-se a ele. Se nos dermos por satisfeitos com as platitudes, seremos, por ingenuidade ou cinismo, parte da grande falsifica��o."
Para tentar furar a bolha do espet�culo, o Instituto Quest�o de Ci�ncia (IQC), fundado e presidido pela colega de trincheira, Natalia Pasternak, elaborou uma s�rie de perguntas sobre pol�tica cient�fica que foram enviados, meses atr�s, aos quatro candidatos (ent�o ainda pr�-candidatos) melhor posicionados nas pesquisas. As quest�es iniciais eram personalizadas, mas a parte principal do documento continha outras dez iguais para todos.
As quest�es foram inspiradas numa numa inciativa de 2012 da Revista Scientific American para a elei��o presidencial dos EUA. Tomamos, agora, a iniciativa de republicar no Boletim Popular dessa semana as dez perguntas que tamb�m consideramos fundamentais para qualquer discuss�o s�ria - para al�m dos gestos vazios e promessas vagas - a respeito do papel da ci�ncia na sociedade brasileira, o futuro da ci�ncia no Brasil e o uso da ci�ncia como ferramenta de gest�o p�blica.
At� o momento, nenhum dos candidatos respondeu �s perguntas formuladas pelo IQC. Esperamos ter melhor sorte nessa nossa tentativa. Seguem, na �ntegra, as perguntas:
1. O Brasil conta, na esfera p�blica, com 69 universidades federais, 40 universidades estaduais e um grande n�mero de centros de pesquisa e de forma��o profissionalizante. Como voc� enxerga a previs�o constitucional de autonomia universit�ria? Existe um plano para a melhor integra��o e especializa��o das institui��es do ecossistema p�blico de ensino, pesquisa e extens�o?
2. A ci�ncia de base gera conhecimento que a ind�stria depois emprega em produtos e processos de alto valor agregado. No Brasil, isso � raro. 90% dos royalties da USP v�m de uma �nica patente, a do rem�dio Vonau. Como podemos melhorar a integra��o entre academia e setor privado para que a ci�ncia gere mais renda?
3. O clima da Terra est� mudando e a discuss�o pol�tica se divide tanto sobre a ci�ncia quanto sobre a melhor resposta a se tomar. Quais s�o seus pontos de vista sobre as mudan�as clim�ticas e como sua administra��o agiria sobre esses pontos de vista?
4. A diversidade biol�gica fornece alimentos, medicamentos e muitos outros recursos dos quais dependemos todos os dias. O n�mero de esp�cies est� diminuindo em um ritmo alarmante como resultado da atividade humana. Que medidas voc� tomar� para proteger a diversidade biol�gica?
5. A gest�o estrat�gica de matrizes energ�ticas pode ter impactos econ�micos, ambientais e de pol�tica externa. Como voc� v� a evolu��o do cen�rio de energia nos pr�ximos quatro ou oito anos e, como presidente, qual ser� sua estrat�gia de energia?
6. Como seu governo equilibraria os interesses nacionais com a coopera��o global ao enfrentar amea�as esclarecidas pela ci�ncia, como doen�as pand�micas e mudan�as clim�ticas, que v�o al�m das fronteiras nacionais?
7. Vacinas est�o sendo uma medida sanit�ria primordial para o combate � COVID-19. Enquanto isso, o sarampo est� ressurgindo devido � diminui��o das taxas de vacina��o, e grupos organizados tentam semear, na opini�o p�blica, temor e desconfian�a em rela��o �s vacinas. Como seu governo vai lidar com o sentimento antivacinas?
8. Muitas esp�cies de peixes s�o pescadas al�m de limites sustent�veis, os recifes de coral est�o amea�ados pela acidifica��o das �guas e grandes �reas do oceano e dos litorais est�o polu�das. Que esfor�os seu governo ter� em mente para atenuar problemas ambientais nos mares e evitar a extin��o de esp�cies importantes comercialmente?
9. Em uma democracia, decis�es justas precisam ser embasadas por dados cient�ficos. Como a ci�ncia informaria os processos de regulamenta��o e de tomada de decis�o em seu governo? Voc� daria liberdade e ouvidos para pesquisadores universit�rios e ag�ncias federais como a Anvisa, sem press�o pol�tica?
10. Grupos de interesse organizados na sociedade, seja por raz�es ideol�gicas ou econ�micas, rotineiramente buscam influenciar a formula��o de pol�ticas p�blicas. Em v�rios setores - por exemplo, pol�tica agr�cola, clim�tica, de sa�de p�blica - algumas dessas influ�ncias v�o na contram�o da evid�ncia cient�fica, por exemplo, com a nega��o da mudan�a clim�tica ou na promo��o de terapias ditas "integrativas e complementares" no SUS. Como seu governo lidar� com demandas e pol�ticas que contrariam a ci�ncia?
Esperamos que os formadores de opini�o e formuladores dos planos de governo as considerem e as utilizem como uma oportunidade de elevar ao menos uma parte do debate eleitoral - aquele em torno de temas cient�ficos - acima do n�vel de mero espet�culoe e que as respostas ajudem os eleitores a tomar suas decis�es."
*A ideia original dessa iniciativa foi extra�da do Instituto Quest�o de Ci�ncia(IQC): www.iqc.org.br