Curta as f�rias e aproveite 2022, mas sem atropelar o bom portugu�s

 

Passou o Natal. O r�veillon se foi. Agora � vez de sombra e �gua fresca. X�, escola! X�, trabalho! X�, seriedade! As f�rias pedem passagem. Com elas, uma exig�ncia. A palavra tem mania de plural. O singular n�o tem vez. Artigo, adjetivo, pronomes e verbos a ela relacionados v�o atr�s. Concordam com a boa-vida em g�nero e n�mero: Minhas f�rias escolares est�o mais curtas a cada ano. V�o longe as f�rias que passei em Santos. Felizes f�rias, Jo�o!

Outros invejaram a excentricidade da palavra f�rias. Batem p� e exigem o plural. � o caso de anais, antolhos, arredores, c�s, condol�ncias, ex�quias, fezes, n�pcias, �culos, olheiras, p�sames, v�veres.  Os naipes do baralho tamb�m foram picados pelo pecadinho da inveja. S� se usam com o essezinho final: dama de copas, rei de espadas, dois de ouros, nove de paus.

Existem as palavras �culo e �culos. �culo significa luneta. Tem uma lente. Bin�culo � filhote dele. Bi quer dizer dois. O danadinho tem duas lunetas. �culos, sempre com s, tem duas lentes – uma pra cada olho. Da� o plural obrigat�rio: �culos m�gicos, meus �culos, �culos escuros. Onde est�o meus �culos?

Harmonizar a linguagem do corpo com as palavras. Ao falar, a gente se comunica por inteiro. A express�o do corpo, o rosto, o olhar, a respira��o, a voz, a maneira de vestir-se, tudo conta. Segundo pesquisa da Universidade de Stanford, o corpo responde por 45% da mensagem; o tom de voz, 20%; as palavras, 35%.

F�rias lembram viagem. Malas prontas, p� na estrada. O verbo viajar pede passagem. Ele � criatura sem complica��o. Tem jota no radical (viajar). Seguida por qualquer vogal, a letra mant�m a pron�ncia. Por isso viajar se conjuga sempre com j: eu viajo, ele viaja, n�s viajamos, eles viajam; que eu viaje, ele viaje, n�s viajemos, eles viajem.

Aten��o, gente fina. N�o confunda Germano com g�nero humano. O substantivo viagem se escreve com g. O verbo viajem respeita o radical. Grafa-se como os irm�ozinhos dele – com j: Viajem e fa�am �tima viagem.

�gua parada apodrece, dizem os apaixonados por mudan�as. Para eles, viagem � festa. Elei��o tamb�m. A cada dois anos h� possibilidade de sair do mesmo. A� n�o d� outra. O verbo eleger entra em cartaz. N�o � por acaso. Ele muda na conjuga��o.  A letra g (eleger), como quem n�o quer nada, vira j. A raz�o � simples. Em todos os tempos e modos, a pron�ncia tem de ser g�. Quando o g� � seguido de a, o e u, d� rolo. Soa ga, go, gu.O jeito � apelar para o j. Com ele, a pron�ncia se mant�m: eu elejo, ele elege, n�s elegemos, eles elegem; que eu eleja, ele eleja, n�s elejamos, eles, elejam.

Invejoso, o verbo agir vai atr�s de eleger. A forma, seguida de a ou o escreve-se com j: eu ajo, ele age, n�s agimos, eles agem; que eu aja, ele aja, n�s ajamos, eles ajam.

Na escola, aprendi que viger se conjuga como escrever. Mas o uso me deixa confuso. Pol�ticos, rep�rteres, apresentadores s� falam vigir. O verbo mudou de conjuga��o?

Vigir n�o existe. O verbo � viger. Intolerante, ele cortou rela��es com o a e o o. S� se conjuga nas formas em que essas vogais n�o aparecem depois do g. A primeira pessoa do presente do indicativo (eu vigo) n�o tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? N�oooooooooooo!

Nas demais, viger � regular. Conjuga-se como escrever: escreves (viges), escreve (vige), escrevemos (vigemos), escrevem (vigem), escrevi (vigi), escrevia (vigia). E por a� vai.

Complicado? A l�ngua oferece outras possibilidades. Dixe o viger pra l�. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?