Lan�amento do Chat GPT provocou au�. A coluna testou o logaritmo. Confira

O lan�amento do Chat GPT provocou um au� no mundo. R�pido e multivalente, ele conversa com a pessoa. A gente faz uma pergunta sobre qualquer assunto. O logaritmo responde com texto escrito em portugu�s correto.

Embarquei na aventura. Apresentei tr�s perguntas de l�ngua portuguesa ao Chat GPT. Uma sobre a conjuga��o do verbo falir. Outra sobre v�rgula. A �ltima sobre crase. Surpresa! Ele acertou uma pela metade e errou duas.

O Chat GPT errou no presente do indicativo. Em vez de conjugar o verbo falir, apresentou as formas do verbo falhar. Trocou as bolas. Nada feito.

Falir � defectivo. S� se flexiona nas formas em que n�o se confunde com falar. S�o aquelas em que aparece o i depois do l. No presente do indicativo, apenas o n�s e o v�s t�m vez (falimos, falis). O presente do subjuntivo n�o existe.

Os demais tempos conjugam-se normalmente: fali, faliu, falimos, faliram; falia, falia, fal�amos, faliam; falirei, falir�, faliremos, falir�o; faliria, faliria, falir�amos, faliriam; falindo; falido.

As formas inexistentes podem ser supridas. O verbo quebrar � uma sa�da. A express�o abrir fal�ncia, outra.

A segunda quest�o apresentada ao Chat GPT perguntou se pede v�rgula a frase “O ex-presidente da Rep�blica Jos� Sarney mora em Bras�lia”. A resposta foi correta – n�o. Mas a explica��o n�o explicou. Disse que o per�odo n�o pede a bengalinha porque est� escrito na ordem direta. A raz�o � outra.

A l�ngua � um conjunto de possibilidades. Flex�vel, a danada detesta monotonia. Oferece v�rios jeitos de dizer a mesma coisa. Veja:

O aluno estudioso tira boas notas.

O aluno que estuda tira boas notas.

As frases dizem que h� alunos e alunos. N�o � qualquer um que tira boas notas. S� chega l� quem se debru�a sobre os livros. Numa, o termo restritivo � adjetivo (estudioso). Noutra, ora��o adjetiva (que estuda). O tratamento mant�m-se. Nada de v�rgula.

O adjetivo nem sempre limita o sentido do substantivo. �s vezes explica. Veja:

O homem, mortal, tem alma imortal.

O homem, que � mortal, tem alma imortal.

Os per�odos n�o dizem que h� homens mortais e homens imortais. Diz que todos s�o mortais. Como saber? A v�rgula, indiscreta, denuncia.

A quest�o proposta ao Chat GPT joga no time das restritivas e explicativas. Ao dispensar a v�rgula na frase “O ex-presidente da Rep�blica Jos� Sarney mora em Bras�lia”, dizemos que h� mais de um ex-presidente. E h�. Collor, Fernando Henrique, Temer, Bolsonaro servem de exemplo. Por isso, o per�odo n�o pede v�rgula.

Se h� um s� presidente da Rep�blica, o nome torna-se explicativo. Exige o sinal de pontua��o: O presidente da Rep�blica, Luiz In�cio Lula da Silva, foi eleito em 2022.

Lembra-se do recado de Montaigne? “O estilo”, diz ele, deve ter tr�s virtudes: clareza, clareza, clareza. Saber identificar o termo explicativo e restritivo n�o constitui s� problema de corre��o. Muitas vezes afeta a clareza.

Esta cilada caiu no vestibular:

Os cinco filhos de Jos� que chegaram do Rio est�o no hotel.

A quest�o: quantos filhos tem Jos�?

( ) Tem cinco. ( ) Tem mais de cinco.

Quem responde � a ora��o. Restritiva ou explicativa? Sem v�rgulas, � restritiva. Ent�o Jos� tem mais de cinco filhos. Se fossem s� cinco, “que chegaram do Rio” estaria cercadinha de v�rgulas.

Sobra assunto. Mas falta espa�o. O terceiro trope�o do Chat GPT ser� assunto da pr�xima coluna.

Segmento ou seguimento? A turma confunde sempre.

Segmento � parte de um todo. Seguimento � o substantivo derivado do verbo seguir: O gabinete do senador foi tomado por l�deres de diversos segmentos sindicais. Em seguimento � exposi��o, falar� o coordenador do projeto.

“Quem n�o l�, aos 70 anos ter� vivido s� uma vida: a sua. Os que leem ter�o vivido 5 mil anos. Ler � uma imortalidade de tr�s para a frente.”

Umberto Eco