
O mundo n�o � uma m�quina programada para satisfazer nossos desejos. Pelo contr�rio, se existe algo que caracteriza o real � a capacidade que ele possui de contrariar as vontades de cada vivente, inibir desejos quixotescos e desconsiderar projetos infantis.
Alguns, com certeza, ler�o as linhas acima como pessimismo. Sem problema. Deve ser o mesmo tipo de gente que acreditou em uma “humanidade melhor ap�s a pandemia”, ou que faz algum ato de assistencialismo barato e posta nas redes sociais #fazer o bem faz bem.
Outros, dotados de maior musculatura cognitiva, entender�o que essa forma de encarar a vida faz parte de um realismo fundamental, atitude que auxilia a suportar o ato de existir que, com seus altos e baixos, se assemelha a vis�o da lua, entre cheia e minguante.
A roda da fortuna n�o � conduzida por alguma divindade benevolente, com caracter�sticas paternais. A sorte de cada indiv�duo � capitaneada por palha�os b�bados que aliviam o t�dio da eternidade brincando com a pobre (e mortal) exist�ncia humana.
Momentos de alegria s�o raros, sobretudo na sociedade produtiva. Por mais que busquemos por eles, geralmente nos chegam de forma aleat�ria, imitando a borboleta que foge durante a ca�ada, mas pousa no ombro quando nos distra�mos em sua procura. A felicidade opera em uma l�gica contr�ria ao esfor�o.
Na constru��o do viver, nos adaptamos �s dores produzidas em nosso corpo e em nossa alma. Do choro no nascimento at� o �ltimo suspiro, sacramentando o final de algum sofrimento patol�gico, a hist�ria nos ensina que � preciso lidar com rupturas, traumas e com a contagem regressiva que nos convida a sepultar sonhos e utopias. A esperan�a sempre foi o rem�dio mais barato dos alienados e o instrumento de domina��o mais eficiente dos autorit�rios.
Se a alegria � rara, � preciso se preparar para o sofrimento como um dado muito comum. Por isso, aprendemos que suportar a dor com dignidade j� � um grande exerc�cio de sabedoria e paz, pois o ser humano, apesar de tudo, sempre ser� capaz de amar esse mundo perverso, injusto e horr�vel.
