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Estado de Minas

No mundo da hiperinforma��o, falta o velho esp�rito comunit�rio

Num jogo de narcisismo, o ser humano tem praticado mais o culto de adora��o ao ego do que as a��es que refor�am o conceito de comunidade


24/08/2020 04:00 - atualizado 24/08/2020 07:33

O papa Francisco reforça a teoria de as atuais
O papa Francisco refor�a a teoria de as atuais "fraturas", como homem/natureza, ricos/pobres, masculino/feminino, t�m sua raiz na egolatria (foto: AFP/VATICANO)
Imagine uma cena bem longe no tempo: 1.500 anos atr�s, um pequeno grupo de alde�os, num vilarejo medieval, quase sem not�cias, isolados e, por suposto, sem jornais, sem r�dio, sem televis�o, sem internet. Agora pense numa outra cena, atual; a sua pr�pria vida, por exemplo: na cidade grande, com milhares de pessoas ao redor, viajando, abastecido com televis�o, celular, computadores, internet e milh�es de informa��es. A pergunta � a seguinte: onde voc� acha que se encontraria uma maior consolida��o da ideia de comunidade e haveria mais possibilidades de formar um grupo humano articulado e com sentido? A resposta parece n�o deixar d�vidas: na segunda op��o, pois a comunica��o abundante e a informa��o atualizada e r�pida s�o fatores necess�rios e definitivos para a forma��o de comunidades na sociedade.

Para alguns pensadores atuais, a resposta n�o parece t�o �bvia. O fil�sofo mais lido do momento, o coreano Byung Chul Han (Seul, 1959), � um deles. Atualmente professor na Universidade das Artes de Berlim, Han deu-se a conhecer ao grande p�blico com o seu primeiro ensaio, A sociedade do cansa�o, publicado j� h� mais de 10 anos e sucesso absoluto de vendas. No seu �ltimo trabalho (La desaparici�n de los rituales, 2020), ainda sem tradu��o ao portugu�s, Han faz uma cr�tica acurada ao que ele chama de “desaparecimento da comunidade por causa do sumi�o dos rituais na sociedade”. Tema realmente instigante e atual, mormente nesse momento de pandemia e isolamento que estamos vivendo e que afeta, tamb�m e sobremaneira, ao mundo da educa��o.

� verdade que estamos cada vez mais interconectados, diz ele, mas essa interconex�o n�o traz nem proximidade nem vincula��o. A solid�o e o isolamento aumentaram, apesar da hiperinforma��o e das m�dias sociais. O motivo � evidente: as redes sociais colocam “o eu” no centro da comunica��o, em detrimento da comunidade, dos outros. Somos instigados continuamente a expor as nossas opini�es, os nossos desejos e at� contar e exibir a nossa vida para todos, de forma glamorosa e irreal. � um tremendo jogo narc�sico de espelhos, no qual todo mundo pratica o culto e a adora��o ao ego, incentivados por esse cen�rio midi�tico que nos fascina e seduz e que cria em n�s sensa��es ef�meras de gl�ria, que nos consolidam no ego�smo e que nos afastam da realidade di�ria e da comunidade. Prevalece, assim, a “comunica��o sem comunidade”.

Nos rituais e na religi�o, as coisas s�o tratadas com respeito e admira��o. Dessa forma, nos afastam do ego e a aten��o se centra em desejos que n�o podemos alcan�ar por n�s mesmos, de forma individualizada. Os rituais possuem um fator de repeti��o, que � estimulante e vivificador. A proposta da sociedade atual, pelo contr�rio, � de esgotamento das coisas; elas s�o consumidas e, assim, destru�das. Ela nos empurra a um consumo fren�tico de novos est�mulos, que v�o nos propondo novas experi�ncias e causando em n�s uma sensa��o de vazio.

Han prop�e a cria��o e inven��o de novos jogos coletivos, festas, novas formas de a��o para al�m do ego, do desejo e do consumo desenfreado. A felicidade e a liberdade, dois conceitos b�sicos para a realiza��o pessoal, devem de ser procurados e constru�dos a partir da comunidade.

Nessa linha se manifesta tamb�m o papa Francisco. No documento de trabalho e convoca��o do “Pacto Global pela Educa��o” (12 de setembro de 2019), o papa atina a dizer que as atuais “fraturas” (homem/natureza, ricos/pobres, masculino/feminino, nacional/estrangeiro, fratura racial) t�m sua raiz na egolatria da cultura excessivamente centrada na soberania do homem. A educa��o deve confrontar, e n�o refor�ar, essa idolatria do eu. A palavra capaz de ajudar-nos a superar isso tudo � “juntos”.

A abertura ao outro, a fraternidade como dado antropol�gico e categoria cultural, devem orientar o pacto global da “aldeia educativa”, segundo ele. Falamos de educa��o integral e inclusiva, de escuta paciente e di�logo construtivo, fatores necess�rios para consolidar a comunidade.

A crise do coronav�rus tem agravado os sintomas de isolamento e a desapari��o dos rituais, fazendo-nos sentir a falta da proximidade, do contato f�sico; por incr�vel que pare�a, o digital tem sido motivo de separa��o e afastamento entre as pessoas. Perdemos a experi�ncia comunit�ria, embora sigamos comunicando uns com os outros, conectados digitalmente. Falta a comunidade, vis�vel e palp�vel fisicamente; a comunidade aut�ntica, que � hospitaleira, que n�o elimina o outro, o estrangeiro, o que pensa diferente. Que � contr�ria � proposta que est� no cerne da sociedade atual, sem rituais e dominada pelo medo e o ressentimento.

Quais os rituais que a sua escola deve resgatar ou criar e que permitam a consolida��o da comunidade escolar e seus v�nculos?

Afinal, n�o � isso o que forma, o que educa? Pense: o que vincula, estabelece la�os s�lidos e atemporais entre, por exemplo, os ex-alunos da sua institui��o? O que os motiva a juntar-se em encontros anuais ou espor�dicos para jogar conversa fora, celebrar, rir juntos e partilhar suas vidas? S�o as aulas que tiveram, os conte�dos, o brilhantismo, as notas, as circulares? � claro que n�o.

O centro s�o os rituais afetivos, os momentos de celebra��o, as festas, as pessoas significativas, os choros, os abra�os, a possibilidade de resgate do atemporal, da festa espiritual!

Tente na sua escola esse resgate e redescoberta ap�s pandemia.

Quem sabe?

Francisco Morales Cano
Professor e consultor
Diretor da Doxa Educacional

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