
Encontro-me novamente exilado do Brasil. O Brasil me obriga. Verdade que ex�lio de pobre n�o acontece em Paris, tampouco em Santiago ou Montevid�u, muito menos em Havana. O exilado perseguido pelos boletos foge do Brasil recolhendo-se no Brasilz�o perdido no mapa. Pois aqui estou, em algum lugar da Bahia, essa terra de flamenguistas e atleticanos. A ideia � empreender um movimento guerrilheiro, derrubar o governo e instaurar a ditadura comunista. N�o sem antes eliminar os flamenguistas, em quem nunca se pode confiar. Essa tarefa, no entanto, est� a cargo dos bravos companheiros do Emelec. Hasta la victoria siempre! Se bem que venceremos at� com uma derrota simples.
Por enquanto, cumpro a �rdua tarefa de fazer o reconhecimento do territ�rio. Afinal, � minha Sierra Maestra em vers�o litor�nea. De forma a misturar-me � comunidade local, tenho passado os dias na praia, obrigado a doses generosas de caipirinha, cervejas infinitas e queijo coalho. Sem falar no forr�. Para n�o chamar a aten��o, envergo sempre, por �bvio, o manto sagrado do Atl�tico, t�o comum por essas plagas como a cal�a bege no Carandiru. Culpa do Movimento dos Sem Praia, que ocupou a regi�o com levas e mais levas dos melhores mineiros, 100% Galoucura.
Bem, o Brasil nos obriga ao ex�lio. Vejo a ministra Damares, aquela que s� pensa naquilo, certa de que resolver� a quest�o do estupro em Maraj� – onde, segundo o DataDamares, 100% das meninas andam sem calcinha. Elementar, meu caro Watson: o neg�cio � empreender f�bricas de calcinha na ilha maranhense. N�o tem erro.
Mesmo distante, me chegam as not�cias do hosp�cio. Depois do incr�vel roubo de La Casa de Papel, a cargo de Helsinque, T�quio, Nair�bi, Rio, Denver, Oslo e Moscou, eis que a nossa valorosa PF prendeu o Araraquara, o hacker que chupinha mensagens de autoridades e deixa tudo no desktop. Ah, vampiro brasileiro... E o Moro, que editou uma portaria pra extraditar o jornalista Glenn Greenwald e o n�mero da portaria � 666? Coitado do roteirista de House of cards perto da Casa da M�e Joana.
O Galo sempre foi o ant�doto contra a nossa dura realidade. Nossa cacha�a, nosso Rivotril, o �pio do povo. Agora, por�m, estamos imersos na dem�ncia geral, acometidos por um surto coletivo. E a nossa loucura pelo Galo – nossa galoucura – est� a potencializar o sentimento de que botaram alguma coisa no Aqu�fero Guarani. Sim, estamos todos numa grande viagem de �cido. Uma bad trip, no caso.
O problema � que o Galo � bipolar. Veja o que foram nossos �ltimos tr�s jogos. Vencemos o Cruzeiro e ficamos felizes, embora o normal fosse ter ficado triste, visto que ao fim e ao cabo fomos desclassificados. Cheios de um brio insuspeito, ficamos certos de que passar�amos por cima do Fortaleza, e de fato passamos. Mas ao final da contenda o morto-vivo tinha sa�do da tumba e por pouco n�o atropela a gente. Distra�dos empataremos, j� dizia o poeta. Especialistas em fazer defunto acordar, desembarcamos no Rio certos de que a m� fase do Botafogo era ponto a favor do advers�rio, ademais, uma pedra em nossa chuteira desde o assalto de 2007. Vencemos com o �nico Jair que respeitamos a jogar o fino da bola. Pro Botafogo ganhar, s� quando tem vota��o no Congresso.
E agora, Jos�?, j� se perguntava o poeta Deltan Dallagnol. Agora temos o Goi�s amanh�. Se achar que ganha, perde. Se achar que perde, ganha. Votei contra no bol�o. Eh, Galo doido... Depois tem o Botafogo de novo. Todo cuidado � pouco, porque h� coisas que s� acontecem com o Botafogo e, bem sabemos, h� coisas ainda piores que s� acontecem com o Atl�tico. Pela nossa sanidade mental: chega dessa bipolaridade! Com a exce��o do Patric, que todos voltem ao seu normal!.
Da minha parte, seguirei na defesa da soberania nacional, a guardar a extensa costa da Bahia. Enquanto me concentro no trabalho de coopta��o dos futuros guerrilheiros do movimento revolucion�rio, sigo obrigado �s caipirinhas e past�is de camar�o. Embora pouco prov�vel, rogo para que o Atl�tico colabore nessa dif�cil miss�o de reencontrar a plena consci�ncia que o Brasil me roubou. Vamo, Galo, pelo amor de Deus!