
Durante muito tempo minimizei o papel do Botafogo em nossas vidas, qualificando-o como “a pedra em nossa chuteira”. Um equ�voco. O Botafogo � o pr�prio Cramulh�o, o Diabo na rua no meio do redemoinho. Eu devia ter desconfiado j� no long�nquo 2007, quando Carlos Eug�nio Simon estuprou nossas esperan�as ao subtrair da gente aquele p�nalti pornogr�fico. Simon � sujeito honrado, foi um juiz � moda antiga, sem lado. No momento em que, diante do �bvio ululante, recusou-se a apontar a marca da cal, � certo que operava ali um encosto. Em sua cabe�a, a voz de Wright sussurrou-lhe a mensagem, como um VAR que lhe falasse aos bot�es: “N�o foi nada”. Grunhiu o marreco: “N�o h� provas, bastam as convic��es”. E deu-se, ent�o, o ocorrido, caso para se chamar o cambur�o.
Ainda antes, em 1971, Humberto Ramos escapou em furiosa carreira, como se um S�rgio Ara�jo em preto e branco, mais vis�vel na voz de Vilibaldo Alves do que na imagem captada pelo Bombril das antenas de televis�o. Chegando � linha de fundo, mirou a cabe�a de Dario, a testa de ferro que tanto j� fizera pelo Peito de A�o. Dad� ent�o parou suspenso no ar, como o helic�ptero ou o beija-flor, a aguardar o tempo da bola. Pode isso, Arnaldo?
N�o. Mais prov�vel que a Terra tenha parado, conforme registrou Raul Seixas, a antecipar esse 2020 dos infernos: “O empregado n�o saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patr�o tamb�m n�o tava l�”. Deus devia estar cuidando de coisas menos importantes, furac�es, mol�stias, a Guerra do Vietn�. Ent�o o Diabo, sentado em seu fumegante sof�, deu um pause assim que a bola saiu dos p�s do Peruquinha. E at� que apertasse novamente o play firmou um pacto com a gente: “Essa bola entra, mas voc�s nunca mais v�o ganhar um Brasileiro”. Assinamos sem prestar a devida aten��o �s letrinhas min�sculas do contrato: “Voc�s nunca mais v�o ganhar do Botafogo”.
N�o se sabe exatamente o que almeja o Botafogo, se � contra ou a favor, se deseja a virada ou o confort�vel centr�o da tabela. S�bio foi o redator da lista da Odebrecht ao escolher o codinome Botafogo para Rodrigo Maia. O Botafogo n�o almeja nada sen�o provocar no atleticano seus instintos mais primitivos. Se h� um Gabinete do �dio, ele se encontra em General Severiano – eis o general que nos tortura.
O Atl�tico pode vir com Junior Alonso e Luizinho, Allan Franco e Cerezo, Keno, Reinaldo e �der. Ao Botafogo bastar� o pessoal do Administrativo, os casados do Almoxarifado e os setoristas da imprensa. � por isso que este escriba nunca mais assistir� a um Atl�tico e Botafogo. NUNCA MAIS! Eu juro. Voc�s que lutem, eu estarei no umbral como o corvo do Edgar: nevermore. Pra apanhar da vida j� me bastam os boletos.
Superado o Botafogo, apresento-me de novo para a luta. Porque hoje � s�bado. E hoje � diferente. O mundo parou para o Internacional quando Falc�o tabelou de cabe�a com Escurinho, que devolveu para Falc�o, que fez o gol mais bonito do Beira-Rio, na virada sobre o Galo em 1976. Foi ali, naquele lance, naquela semifinal, que o Inter seria bicampe�o brasileiro contra o Corinthians dias depois (o tri viria em 79, e depois, nevermore). Quem iniciou a jogada? Dario, o Peito de A�o, agora vestido com a camisa do Colorado. Traidor! Siga as ordens do partido: no sul a gente � Gr�mio, Dad�, tome tento – nossa bandeira jamais ser� vermelha!
Falc�o e Escurinho se acertaram com o homem l� embaixo. Pode dar a 9 pro Belmiro: hoje a gente dorme na lideran�a.
