“A melhor defesa � o ataque”, disse o Churchill no Facebook. “A invencibilidade est� na defesa, mas a possibilidade da vit�ria est� no ataque”, respondeu Clarice Lispector. O Galo de Sampaoli � uma ode ao ataque. � uma esp�cie de Galo Doido melhorado (n�o que seja menos doido) – e Sampaoli, o Napole�o do hosp�cio.
Clubes de futebol constroem sua identidade tamb�m dentro de campo, na pr�tica de um jogo que privilegia este ou aquele aspecto. Em seus oito anos como t�cnico do Barcelona, Johan Cruijff conferiu ao time catal�o um jeito de jogar para o qual se poderia reservar uma patente. Nos anos 60, a “Academia de Futebol” do Palmeiras prestou o mesmo servi�o – e fez da eleg�ncia de Ademir da Guia seu ideal para as futuras gera��es.
O Atl�tico sempre foi um time de ra�a – e por isso o galo, advindo do galo-de-briga, lhe caiu t�o bem. A saber, numa briga de galos n�o h� vit�ria por pontos, � nocaute certo, briga-se at� morrer. No Galo, chinelinho n�o se cria, a m�o na cintura � crime de lesa-p�tria. Ao passo que o ra�udo desbragado, Pierres e Donizetes, Dinhos e Patrics, Mirandas e Darios, esses ficam perdoados por toda e qualquer canelada – s�o her�is nacionais cujo hino celebra na letra certeira: “Lutar, Lutar, lutar, com toda nossa ra�a pra vencer”. Coitada da Marselhesa perto do Vicente Motta.
Acontece que o verso central, aquele que bota fogo no cabar�, � justamente “Vencer, vencer, vencer” – e para tanto, o Galo se notabilizou por ser um time de ataque. No long�nquo 1927, Jairo, Said e M�rio de Castro formaram o trio ofensivo mais matador de sua �poca, n�o � toa o Trio Maldito – aquele, do 9 a 2 eterno sobre o Palestra It�lia. Juntos, fizeram 459 gols em 99 jogos, m�dia de 4,63 por partida!
M�rio de Castro recusou-se a jogar na Selecinha porque, reza a lenda, s� vestia a camisa do Galo. Quando se aposentou, deu lugar a Guar�, o Perigo Louro, Campe�o dos Campe�es em 37. Depois tivemos Z� do Monte, Lucas Miranda, Vav�, Ubaldo, Dario. S� um time de ataque � capaz de produzir, a um s� tempo, �der e Reinaldo. No Corinthians, um retranqueiro como Tite � capaz de ser campe�o do mundo. No Galo, Tite nos levou � Segundona. Campe�o foi Tel�, com seu futebol-arte fazedor de gols. Cuca, com o Galo Doido. Levir, com todo mundo pra cima e seja o que Deus quiser, n�o-�-milagre-�-Atl�tico-Mineiro.
Viralizou por esses dias um v�deo em que Lisca explica, com a admira��o dos doidos, o esquema de Jorge Sampaoli. � parte a intelig�ncia para se compreender o que ele pede, e a aplica��o para colocar em pr�tica tal instru��o, Sampaoli exige de seus times duas coisas fundamentais: ra�a e ataque. De modo que est� no lugar certo na hora certa, e se tanto ajuda quem n�o atrapalha, estamos a testemunhar um daqueles casamentos em que a cara de um � o focinho do outro, t�o certo quanto sem d�vida.
Meu filho me pergunta o que farei se o Galo for campe�o brasileiro. No m�nimo correrei pelado uma volta no quarteir�o. Na pior hip�tese, produzirei um infarto. N�o se poder� dizer que foi inapropriado – afinal, um ataque do cora��o.