
O Atl�tico � uma m�quina demolidora de sonhos. � o tren� desgovernado passando por cima do Papai Noel.
Voc� n�o tem culpa: ainda na primeira inf�ncia te enfiaram isso na cabe�a, sem que um Estatuto da Crian�a e do Adolescente pudesse proteg�-lo da pervers�o dos adultos. Voc� acreditou: havia um velho batuta descendo pela chamin� inexistente. E era preciso aguard�-lo pendurando suas meias em um pinheiro de pl�stico.
A verdade, no entanto, sempre vem � tona, e aquele senhor com barba de Karl Marx, vestido em trajes de esquim� durante o t�rrido ver�o, acabaria desmascarado. Tratava-se, agora se sabe, de um porco capitalista. Sa�do da propaganda da Coca-Cola, Papai Noel, o velho batuta, rejeita os miser�veis – presenteia os ricos e cospe nos pobres. A vida � Drurys, Chester tampouco existe na floresta, e assim passamos a conviver com os "fatos reais" nos dias que antecedem a Sidra Cerezer do R�veillon.
Por essa mesma �poca, digo, na primeira inf�ncia, muitos pais, talvez um tio, tenha lhe falado tamb�m sobre o Atl�tico. Voc� acreditou. Lembro de mim mesmo subindo a rua Ramalhete, eu e um primo atleticano, crian�as. O Galo precisava vencer um jogo decisivo. N�o cogit�vamos outra coisa que n�o fosse a vit�ria. N�o era torcida. Era uma certeza absoluta que advinha do fato de o Atl�tico ser o maior time do mundo – enfiaram isso em nossas cabe�as. Na verdade, nem era apenas o maior time. Era a maior coisa do mundo, aquilo que n�o se explica direito, um sentimento, um pertencimento, a institui��o que funciona. N�o importando se aquilo descia pela chamin� inexistente. Aguard�vamos, sem sombra de d�vidas, com nossos pinheiros de pl�stico.
Claro que perdemos. Ganhamos outras tantas, � verdade, mas o velho normal � a gente se lascar. Quantas vezes fomos desmascarados, pegos de cal�a curta. Mas, diferentemente do caso em que se enquadra o velho batuta, jamais colocamos a barba de molho. Com o Atl�tico a patologia � mais grave. Aos 50 anos, adentrados na trig�sima quinta inf�ncia, n�o apenas seguimos achando como temos a inarred�vel certeza: nada no mundo � maior do que o Atl�tico, e por isso estamos predestinados a vencer, vencer, vencer. � como se, adultos, encontr�ssemos com o Papai Noel do shopping e boquiabertos diss�ssemos a n�s mesmos e aos passantes: “Eu acredito”.
Jesus voltar�. Dom Sebasti�o tamb�m. E o Atl�tico ser� campe�o brasileiro outra vez, mais dia, menos dia – eu nem acredito, eu tenho certeza. N�o havendo pandemia, o t�tulo chegar� por essa �poca. Her�is desfilar�o em tren�s a c�u aberto. A ta�a descer� pelas chamin�s.
Lembro de mim mesmo, ali pela d�cima segunda inf�ncia, a celebrar o t�tulo do Corinthians sobre o Cr�zeiro em 1998 no Bar do Salom�o: “Doutor, eu n�o me engano, Papai Noel � atleticano!”. Mesma �poca em que cant�vamos “O Cr�zeiro tem cinco estrelas, cinco estrelas eles t�m, s� falta uma, a amarela, quem sabe ano que vem”. Em 99, o Corinthians ganhou a final da gente. O tren� desgovernado tinha alcan�ado o Papai Noel outra vez. A gente s� se lasca.
Mas agora mesmo, olha o velho normal, tava a gente acreditando de novo – e a bem da verdade, confessem, ainda acreditamos. Sim, eu acredito! Porque o dia que for pra ganhar essa baga�a vai ser de um jeito que ningu�m acredita. E pra isso tinha que perder do S�o Paulo, ficar sete pontos atr�s, desacreditado, comendo p�o que o Sete Peles amassou.
De acordo com a minha tese, daqui pra frente coisas estranh�ssimas acontecer�o, milagres diversos, for�as transcendentais. A estat�stica, nossa inimiga desde sempre, ser� jogada �s favas. O pontinho que faltava vir� aos 52 do segundo tempo, para o infarto geral da na��o. Gol do Hyoran, anotem. S�rgio ter� acabado de chegar, e como bom Coelho, ter� chegado na frente.
Na hora do t�tulo, abra�aremos nas ruas os desconhecidos, e nos beijaremos entre perdigotos de felicidade – porque j� se poder� morrer de COVID, tudo bem, a miss�o estar� cumprida. Se um cabeludo aparecer na sua rua, a t�nica branca que � a armadura reserva do nosso Galo, acredite: � Jesus que voltou, sofredor como todo atleticano, mas sempre, sempre nesse exerc�cio inabal�vel da f�.
Feliz Natal a todos! Papai Noel n�o existe. Fica, Sampaoli! Fora, Bolsonaro! Vacina j�! Seremos campe�es.