
Acordo com o Flamengo campe�o. O Flamengo de Jos� de Assis Arag�o e Jos� Roberto Wright. N�o ligo. Estou anestesiado pelas mais de 250 mil mortes, o colapso iminente e a passividade bovina da popula��o. Nada mais simb�lico: o Flamengo, bolsonarista da linha de frente, ganhou o Covid�o 2020. Na conta da juizada, porque na bola perdeu de todos do G-4, e da gente tomou cinco e n�o fez nenhum.
Vejo Gabigol dizer que n�o h� atleta no Brasil que n�o deseje jogar no Flamengo. Seria oportuno se ele se lembrasse daqueles que quase chegaram l� – e, quem sabe agora, a premia��o permita ao clube pagar a indeniza��o �s fam�lias das crian�as que tiveram o sonho abortado no inc�ndio criminoso. O caso vai ficando por isso mesmo: ainda que a farinha seja muita, o meu pir�o primeiro. O Flamengo tem o focinho, as orelhas, o dorso, o rabo e a cara do Brasil. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Uma hora, o jogo vira.
Pois bem, o terceiro lugar do Galo s� passa recibo do campeonato que deixamos de ganhar. Este foi um ano em que ningu�m quis ser campe�o. O S�o Paulo fez grandes jogos, disparou na tabela, para em seguida descer a ladeira de forma melanc�lica. O Inter renasceu com o improv�vel Abel Braga, manteve-se l�der por longas rodadas, para no final sucumbir a um Corinthians salvo do Z-4 por Cazares, Otero e F�bio Santos.
A ta�a parecia a batata quente que ningu�m quer segurar. Mesmo na rodada decisiva, Flamengo e Internacional fizeram o poss�vel para entreg�-la ao advers�rio. S� deu Flamengo porque esses nasceram com o fiof� virado pra Lua, e porque Wright fez escola. Essa batata pelando caiu no colo do Galo quando o time passou a disputar exclusivamente o Brasileir�o, com tempo de sobra para treinar, apesar do calend�rio achatado pela pandemia.
A pr�pria comiss�o t�cnica, no entanto, tratou de contaminar a equipe com o v�rus da Covid depois de se aglomerar para o anivers�rio do gerente de futebol Gabriel Andreatta, em novembro passado, dia seguinte � goleada de quatro sobre o Flamengo.
O Atl�tico termina o Brasileir�o em terceiro lugar, a tr�s pontos do campe�o. Perdeu 19 (dezenove!) para os sete �ltimos colocados. Em 2021, pode completar 50 anos de seca – oito a mais do que tem de vida o gerente Andreatta. Parab�ns.
Agora, as aten��es se voltam � reconstru��o do projeto iniciado por Sampaoli e abandonado por ele pr�prio a meio caminho. Ao ver a performance do professor no final do jogo contra o Sport, domingo passado, fiquei a pensar que o futebol � mesmo uma m�e: como se entrega um projeto de R$ 150 milh�es nas m�os de um maluco desse? Antes o Lisca, que de doido mesmo n�o tem nada. O atleticano se viu representado naquele papel, mas o fato � que nenhum de n�s, atleticanos patol�gicos, dever�amos conduzir um barco de R$ 150 milh�es, sob pena de transform�-lo no Titanic.
Quem ocupar� o posto do Napole�o de hosp�cio? Renato Ga�cho? � como contratar Fred ou Thiago Neves para dirigir o Galo em 2041. Feridas se fecham, � verdade, mas isso vai de cada um. Considero Renato um excelente treinador, na medida em que fez do Gr�mio um �timo time com Andr� e Diego Souza – na verdade, sabemos que isso � quase uma m�gica. Ainda assim ser� um desgosto imenso ver esse tipo no Atl�tico. Ademais, um bolsonarista de carteirinha, orgulhoso de sua pr�pria ignor�ncia. Perfeitos, no caso, representante e representado. A responsabilidade de uma institui��o do tamanho do Galo deveria transcender o futebol.
Por isso, s�o leg�timas, tamb�m, as manifesta��es contra a volta de Cuca em raz�o de sua condena��o pelo estupro de uma menina de 13 (treze!) anos em 1987, na Su��a. A essa altura do campeonato, melhor estar no mato sem cachorro do que estar no mato com o Cuca.
O Galo precisa definir um estilo, que, ali�s, j� est� posto em sua hist�ria: somos um time de ataque. Precisamos de um treinador que respeite essa voca��o, mas que, ao mesmo tempo, seja precavido o suficiente pra n�o entregar a rapadura para Bahia e Goi�s, e que apresente solu��es para quando o ferrolho se fechar. Que tenha compromisso e car�ter � altura de um projeto de dezenas de milh�es. Um t�cnico � a cara do time, e o time � a cara da institui��o – ent�o, que tenha valores capazes de inspirar seu p�blico para al�m do futebol.