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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Na espera de uma vida inteira, fizemos do caminho a nossa viagem

O atleticano resistiu, e sua resist�ncia � uma das mais belas p�ginas do desporto mundial. N�o apenas resistiu. Resistiu com galhardia


23/10/2021 04:00 - atualizado 23/10/2021 00:30

O atleticano aprendeu a lutar por sua história. Aprendeu a levantar a mão para os céus e agradecer pelo fato de ter nascido atleticano. Basta.
O atleticano aprendeu a lutar por sua hist�ria. Aprendeu a levantar a m�o para os c�us e agradecer pelo fato de ter nascido atleticano. Basta. (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

O Galo fez na quarta-feira o seu jogo dos sonhos. Quase tudo deu certo pra n�s na peleja com o bom time do Fortaleza. Estamos desacostumados a isso, mas � bom Jair se acostumando (refiro-me ao nosso camisa 8): o Galo vai ganhar, chegou a hora, pode chorar, pode chorar. Certeza de que o universo, neste momento, � o Temer; e n�s, a Faria Lima: ele conspira a nosso favor.

Foram necess�rias 50 voltas da Terra em torno do sol at� que o universo chamasse o n�mero da nossa senha. E c� estamos agora, no guich�, para o pronto atendimento. O atleticano � diferente daquele que espera por um t�tulo. O atleticano espera por uma vida inteira. J� furaram a fila, comercializaram as senhas, tiraram a gente da frente e botaram no final, criaram problemas e n�o t�nhamos a grana pra comprar a solu��o. Os anos se passaram. Ganhamos cabelos brancos, fizemos filhos, perdemos amigos queridos. A fila andou – menos a gente.

Esperando Godot, fomos protagonistas do teatro do absurdo: primeiro foi a trag�dia de 1977, quando tiraram Reinaldo e fomos vice invictos. Depois, a farsa de 80 e 81. A bola que entra em 85 e o juiz n�o v�. 1999, 2012. A gente na fila, comendo o p�o que a CBF amassou. “O Galo n�o � um time de ta�a”, disse o Kalil no document�rio Lutar, Lutar, Lutar, que estreia dia 11 de novembro. “Somos um time de honra.”

Na espera de uma vida inteira, fizemos do caminho a nossa viagem, j� que o ponto de chegada come�ou a parecer uma miragem no Saara. Uma torcida de futebol luta por t�tulos e com eles se consagra. O atleticano aprendeu a lutar por sua hist�ria, alimentou-se disso pra n�o morrer na fila – e consagrou-se na celebra��o da sua atleticanidade, um termo que inexiste para qualquer outra torcida. Aprendeu a levantar a m�o para os c�us e agradecer pelo fato de ter nascido atleticano. Basta.

Um povo forjado na injusti�a ataca na pedrada os tanques de guerra. Contra o tiro de fuzil, o coquetel molotov. O atleticano resistiu, e sua resist�ncia � uma das mais belas p�ginas do desporto mundial. N�o apenas resistiu. Resistiu com galhardia – fez do 25 de mar�o o seu R�veillon, dos outros atleticanos a sua fam�lia, da sua camisa uma armadura, do escudo uma tatuagem, dos filhos (sogras e cunhados) novos atleticanos, da sua hist�ria uma ode ao punho cerrado do Rei. N�s somos a luta! Desde 1908.

Agora estamos na boca do caixa (caixa! caixa!) depois de aguardar uma vida. Vamos ser campe�es, eu nem acredito, eu tenho certeza. Mas n�o importa o t�tulo – importa o merecimento, a volta por cima, o congra�amento de todos os irm�os da Igreja Universal do Reino do Galo, pretos e brancos, ricos e pobres, direita e esquerda, ateus e crist�os. Importa estarmos juntos, e celebrar a sorte de ser Galo.

Importa aqueles que n�o v�o ver, e isso � de cortar: meus tios que morreram, meu primo que se foi, o meu amigo Leandro, aquele cara que enfartou no Independ�ncia quando estava s� ele e o filho, o Felipe que morreu de c�ncer, o Elias Kalil, os mortos da COVID, os que morrer�o antes, nesses pr�ximos dias. Voc�s todos estar�o presentes! Mas, para que se evite uma fatalidade dessa monta, fica proibido morrer at� o dia 10 de dezembro de 2021. Revogam-se todas as disposi��es em contr�rio.

Quando o cruzeirense ganhava tudo, e n�is na fila, sa�amos com essa: “Quem gosta de t�tulo � cart�rio”. A gente mesmo n�o acreditava naquilo, era s� uma boa frase pra servir de repelente contra a mosca azul. Outro dia o Cruzeiro perfilou suas ta�as quando a Toca serviu de CT para uma sele��o estrangeira. Uma longa fila de canecos, aparentemente mais desej�vel do que a fila na qual entramos em 1971. Agora chafurdam o fosso, entre CSAs implac�veis e credores que brotam do asfalto. A �nica chance de voltar a ser o que eram � regressar a antes de 1963, quando figuravam como a terceira for�a do futebol mineiro. A torcida vai se converter em Flamengo, porque anti-Atl�tico acima de tudo. Quem gosta de t�tulo � cart�rio – a mais pura verdade.

Creiam, povo da IURG: vamos ganhar o Brasileiro e a Copa do Brasil. Ambos em cima do Flamengo, se Deus existir e quiser. Estamos na boca do caixa, e v�o nos pagar todas as duplicatas com juros e corre��es. Em 2013, o Galo negou-se a botar uma segunda estrela no scudugalo quando ganhou a Libertadores. N�o devia colocar nenhuma outra jamais, porque n�o � disso que se trata essa brava gente atleticana. Talvez, sob o distintivo, o lema que nos salvou da fila: Lutar, Lutar, Lutar. Vamo Galo, pelamordedeus! Te amo, desgra�a.


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