
Ol�, eterna rainha das arquibancadas! Quanto tempo n�o nos vemos? Um ano? Queria eu estar aqui dividindo a oportunidade do seu conv�vio, dos seus gritos de incentivo ao escrete, das palmas para o time de v�lei e dos xingamentos repletos de palavr�es no Mineir�o, quando algum dos atacantes erram um arremate �bvio. Nem reclamaria das constantes interrup��es nas nossas conversas para atender milhares de pedidos por uma foto, vindos de outros cruzeirenses apaixonados, aos quais voc� respondia sempre com um sorriso e mostrando as unhas pintadas de azul e branco. Afinal, quantos de n�s n�o carregam num �lbum, nas redes sociais ou na mem�ria do smartphone o orgulho por eternizar um instante ao lado da maior torcedora de futebol do mundo?
Amanh�, Salom�, completa um ano do dia em que voc� se tornou estrela. Rabisquei essa conversa ontem, antes mesmo da partida contra o CRB. Por isso, troco essas confid�ncias contigo, sem saber se ainda estamos a sonhar com uma aproxima��o ao G-4 ou se voltamos � realidade de uma caminhada espinhenta, adiando para o campeonato de 2021 o retorno � S�rie A.
Com quem anda assistindo �s pelejas? Aposto meu aut�grafo do Ademir que voc� se juntou � charanga do Aldair Pinto no jogo contra o Brasil de Pelotas. Ele deve ter colocado esses anjos a� para tocarem, enquanto voc� sacudia no ar boneca e raposinha ao ver a bola de S�bis ascender aos c�us, passando perto de seus p�s, e repousar nas redes. Tudo isso ao embalo de Jadir Ambr�sio, abra�ado ao Gonzaguinha. Os dois cantando nosso hino. Mande um abra�o a eles em nome da Na��o Azul, t� bem?
Por falar no cruzeirense Gonzaguinha, lembrei da estrofe de uma can��o dele para introduzir um pedido de desculpas: “Cora��o na boca/Peito aberto/Vou sangrando/S�o as lutas dessa nossa vida/Que eu estou cantando”. Pois bem, Salom�, em nome de todos n�s, torcedores de arquibancada, queria te pedir perd�o pelo fato de nenhum dos seus assassinos, que lhe mataram por desgosto, estarem presos e, pior, por ainda desfrutarem do direito de frequentar o gin�sio que leva seu nome no Barro Preto.
�, Salom�... Imagina se gente como os nossos companheiros de arquibancada formasse o Conselho Paquiderme Deliberativo e devolvessem ao Cruzeiro o DNA oper�rio, trabalhador, honesto e de luta, t�o natural � sua origem e � sua torcida? Se o seu Riacho, em Contagem, a Lagoinha, a Pedreira Prado Lopes, a Floresta e o Barro Preto voltassem a ser alma do Cruzeiro, e n�o esse hub de omissos, c�mplices e “puxa-sacos 4.0”.
Se presidente do clube fosse por um m�sero dia, eu dedicaria meu posto a um �nico ato. Por toda a eternidade, a imagem de Salom�, fosse em bandeira, mosaico ou projetada no tel�o, obrigatoriamente, abriria as pelejas do Cruzeiro Esporte Clube. Os jogadores, funcion�rios dessa institui��o deveriam se postar em posi��o de respeito, rendendo a ela um sorriso.
Ent�o, sabe, Salom�, foi nessa toada que acordei para lhe escrever essa carta, por pura saudade. Passou um ano da nossa queda, do seu assassinato por desgosto, mas a cada letra rabiscada me encho de alegria. Sou capaz de ouvir sua voz esgani�ada ecoando amor incondicional pelo azul e branco. No fundo, decidi conversar contigo porque n�o existe outra pessoa no universo capaz de entender t�o bem meu orgulho de ser Cruzeiro quanto voc�.
Ao terminar essa cr�nica, irei at� a janela, olharei para o c�u, em dire��o ao Cruzeiro do Sul e, baixinho, vou dizer: “Obrigado, meu pai, por me fazer ser fan�tico pelo mesmo time da maior torcedora do mundo”.
� isso, Salom�! Amanh� todos falar�o muito de voc�. O Coletivo 1921 lan�ar� a campanha para a torcida produzir o filme da sua hist�ria. Mande um abra�o para Fel�cio, Niginho Fantoni, Nin�o Fantoni, Piorra, Nani, Souza, Z� Carlos, paiz�o Furletti, para o nosso Batatinha e todos seus companheiros celestes a� no c�u.
Um beijo estrelado!