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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

S� um pacto para devolver o Cruzeiro � sua grandeza hist�rica

Que dirigentes abram m�o de orgulho e pensem no que de fato interessa: baixar as armas em nome da reconstru��o celeste


04/08/2021 04:00 - atualizado 04/08/2021 19:01

A torcida do Cruzeiro jamais abandonou o time e espera que o mesmo gesto seja seguido por seus dirigentes(foto: ANDRE MELO ANDRADE/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO)
A torcida do Cruzeiro jamais abandonou o time e espera que o mesmo gesto seja seguido por seus dirigentes (foto: ANDRE MELO ANDRADE/ELEVEN/ESTAD�O CONTE�DO)


Julinho chegou a Belo Horizonte carregando a insepar�vel faixa azul com o nome “Maca Azul”, sua companheira nos est�dios onde o Cruzeiro costuma jogar como visitante. Caminhou pelo Barro Preto, esperando o sil�ncio na noite fria de inverno. Foi surpreendido por um burburinho vindo da rua Ouro Preto, na lateral da sede social do seu clube amado. Seguiu o barulho. 

Na entrada do gin�sio, brilhantemente batizado pelo ex-presidente Dalai Rocha como Dona Salom�, Julinho viu uma caixa enorme, sobre a qual, uma cartolina indicava: “deposite aqui (para sempre) suas armas”. 

Mal acabou de ler, viu surgir � sua frente o atual presidente do clube. Ali, ele depositou um embrulho. Em seguida, dirigiu-se a um mural e assinou seu nome, abrindo uma lista onde o t�tulo anunciava “Pacto Definitivo Pelo Cruzeiro”.

Foi o primeiro a tomar a atitude, n�o por culpa maior ou vaidade, mas pelo fato de ocupar o cargo m�ximo da institui��o, e sendo assim, cumpria o papel que cabe aos l�deres num momento de guerra, que � o de propor a bandeira branca, o armist�cio. 

Ainda boquiaberto, Julinho olhou para tr�s e viu uma fila de homens. Arredou para o lado e assistiu passarem ex-presidentes, ex-gestores, ex-dirigentes e conselheiros. Enfileirados, um a um, eles tamb�m se dirigiram at� o mural e assinaram o Pacto. A caixa do “baixar armas” foi se enchendo: espelhos narcisistas; punhais de vingan�a; smartphones com perfis fakes de redes sociais; atestados de incompet�ncia e at� mesmo dores verdadeiras deixadas para tr�s. 

Julinho se emocionou como se estivesse acontecendo uma virada do Cruzeiro aos 45 do segundo tempo. Uma alegria incontida lhe invadiu e o carregou gin�sio adentro. Quando pisou a quadra, presenciou antigos desafetos alinhados num ex�rcito s�. Cada um trazia � tiracolo um empres�rio realmente disposto a ajudar financeiramente o clube combalido. N�o era apenas firula: eles iam at� um canto onde um sistema eletr�nico contabilizava os investimentos e esses, imediatamente, recebiam destina��o. “Pagamento de sal�rios conclu�do”, “d�vidas quitadas”. Piscavam no placar.

Julinho balan�ou o corpo como se estivesse empurrando o time para mais um ataque. Olhou para as arquibancadas, onde se misturavam centenas de bandeiras, das mais variadas torcidas organizadas e caravanas do interior de Minas Gerais. O mar de solidariedade lhe fez lembrar de si pr�prio. Do Julinho Maca, torcedor-s�mbolo, que por in�meras vezes, sozinho, em algum rinc�o do Brasil ou da Am�rica Latina, estendeu sua faixa de apoio ao nosso Cruzeiro. 

Aquela vis�o �pica da tentativa do Pacto Definitivo Pelo Cruzeiro, bambeou as pernas do velho guerreiro das arquibancadas. Sentou-se uma cadeira bem ao fundo do sal�o, ao lado de um senhor vestindo um terno meio cafona e com um sorriso familiar. Cumprimentou e � primeira frase contendo uma palavra com a letra “S”, o reconheceu. Era o t�cnico Vanderlei Luxemburgo. 

Um filme passou por sua cabe�a. N�o o da Tr�plice Coroa de 2003, mas o da arrancada final no Brasileiro de 2002, quando ningu�m acreditava mais no Cruzeiro, assim como acontece no momento atual do clube. Suspirou e conseguiu apenas desejar “boa sorte para n�s, profex�”.

No centro do gin�sio, os ex-desafetos, inflamados, externavam seus pedidos de desculpas, sem apontar dedos, sem aumentar culpas alheias. As fam�lias de Fel�cio Brandi e Carmine Furletti, sentadas juntas numa mesa de honra, se abra�avam, esperan�osas.

Julinho n�o resistiu ao ver todos ali colocando, acima de qualquer guerrilha particular, o seu Cruzeiro, o time pelo qual ele dedicou a sua vida. Consolado por Luxemburgo, levantou os olhos e pediu, quase em s�plica: “diz para mim que isso n�o � um sonho”. 

Sim, era s� um sonho. Um devaneio contado por Julinho numa prosa entre cruzeirenses apaixonados. Mal sabe ele o quanto seria lindo se todos, do presidente aos opositores, dos desafetos hist�ricos �s torcidas, tivessem o mesmo sonho e decidissem, uma vez por todas, o transformar em realidade.

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