Depois que a prociss�o passa, n�o adianta tirar o chap�u. Ouvi de um companheiro de arquibancada. Estopim para me posicionar aqui a favor do acordo entre a associa��o Cruzeiro e a empresa de Ronaldo para viabilizarem em definitivo a Sociedade An�nima do Futebol (SAF).
“Posso n�o concordar com uma �nica palavra do que dizes, mas defenderei at� a morte o teu direito de diz�-la.” A frase do fil�sofo franc�s Voltaire resume meu respeito ao direito do Conselho Paquiderme Deliberativo questionar os termos da negocia��o. Por�m, nela tamb�m arvoro minha indigna��o com os rumores do que parece estar por tr�s dessa movimenta��o, que, infelizmente, d� sinais de novas picuinhas pol�ticas.

Mas, como dito, prefiro refletir sobre os questionamentos lan�ados ao ar. Em primeiro lugar, � preciso entender que n�o estamos tratando de uma a��o de caridade. O que est� em curso � uma negocia��o – das grandes. De um lado, a lenda viva do futebol mundial que se transformou em empres�rio, que s� emprestando sua imagem j� coloca na mesa cartas preciosas que nenhum outro comprador no mundo possui, seja ele um investidor ingl�s, um magnata russo, um xeque �rabe ou um bilion�rio do Brasil Mis�ria.
De outro lado, uma associa��o esfacelada por anos de neglig�ncia do pr�prio Conselho Paquiderme Deliberativo, pela organiza��o criminosa de 2018/2019 e por seguidos presidentes desde a d�cada de 1990. Dito isso, vamos aos pontos levantados como “lesivos”.
1 – A incorpora��o das Tocas da Raposa ao neg�cio. Primeira informa��o estranhamente n�o dita pelos cr�ticos: a Toca da Raposa I j� est� em iminente risco de ser alienada, pois a associa��o Cruzeiro, sem receita, est� descumprindo o acordo com a Procuradoria-Geral da Rep�blica para o pagamento da d�vida tribut�ria de R$ 180 milh�es. Nele, a sede do Barro Preto, 20% da receita da institui��o e a Toca da Raposa I foram dadas como garantia. Ou seja, ela pode ir a leil�o enquanto voc� est� lendo essa frase.
Aqui, uma curiosa incoer�ncia dos neoindignados. Em 2019, um senhor de nome Itair Machado se reuniu com o mesmo Conselho Paquiderme Deliberativo e apresentou uma proposta mirabolante de empr�stimo de R$ 300 milh�es. E qual era a garantia? A mesma Toca da Raposa. Como foi a nota de rep�dio naquela ocasi�o? Ela n�o existiu.
Colocar as Tocas na negocia��o da SAF n�o � s� uma sa�da para o futebol gerar receita para a associa��o, mas tamb�m � uma forma de a d�vida com a Receita Federal ser paga e o bem patrimonial n�o ser alienado.
2 – “Ah, mas o Ronaldo n�o vai assumir a d�vida R$ 1 bilh�o.” Aqui, XP Investimentos, Ronaldo e o presidente S�rgio Santos Rodrigues erraram ao n�o cortar o ru�do de comunica��o no nascedouro das negocia��es, impedindo falsas expectativas ou ila��es.
A explica��o est� na pr�pria Lei das SAFs: � obrigat�rio ao comprador destinar 20% de suas receitas e 50% dos dividendos para que a associa��o (o clube) tenha condi��es financeiras de quitar suas d�vidas pregressas. No caso do Cruzeiro, Ronaldo teria seis anos para gerar receitas (ou aportar do seu pr�prio bolso) para pagar 60% da d�vida e, assim, ganhar mais quatro anos para quitar o restante (40%). Caso ele n�o cumprisse, automaticamente se tornaria credor solid�rio e respons�vel pelo pagamento integral (cerca de R$ 1 bilh�o). Isso n�o ser� diferente para Botafogo, Vasco ou qualquer outro clube.
3 – “Ah, mas ele n�o vai colocar 400 milh�es do bolso.” Verdade. Ele poderia ter pago essa quantia em cash, entregado ao Cruzeiro e agradecido. Da� por diante, qualquer aumento na receita (que hoje, sem Ronaldo, � zero), n�o seria rateado com a associa��o. Em vez dos 80/20, como est� no acordo, seria 100% da SAF.
Sendo assim, aos dign�ssimos senhores da Mesa Diretora do Cruzeiro e aos demais signat�rios da nota contr�ria ao acordo da SAF, reitero meu profundo respeito, mas tamb�m deixo o pedido de um mero torcedor da arquibancada que sou. Tenham muita responsabilidade nesse instante delicado. Se houver (espero que n�o) qualquer motiva��o pol�tica ou disputa de egos, que os senhores procurem um meio judicial para dar cabo a ela, mas n�o joguem com nossa esperan�a.
O Time do Povo Mineiro n�o � gigante por voc�s, por presidentes, pelo Ronaldo ou qualquer outro investidor. Ele � por conta da sua torcida, essa, sim, o �nico patrim�nio inalien�vel do Cruzeiro Esporte Clube. Por isso, digo a todos voc�s: virem a p�gina das picuinhas e nos deixem chegar at� a luz do fim do t�nel de uma vez por todas.
