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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

No distante Maranh�o nasceu o amor de um menino pelo Cruzeiro

Aos 40 anos, torcedor poder� finalmente acompanhar partida do Cruzeiro, cuja paix�o solit�ria desafiou at� a fam�lia


27/04/2022 04:00 - atualizado 27/04/2022 23:07

Torcida celeste em uma de suas demonstrações de amor ao Cruzeiro: vem aí, do Maranhão, um reforço especial na arquibancada
Torcida celeste em uma de suas demonstra��es de amor ao Cruzeiro: vem a�, do Maranh�o, um refor�o especial na arquibancada (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

“Torcedor de verdade tem de acompanhar sempre o seu time.” Imagine ouvir isso aos 8 anos, vivendo a 2.300 quil�metros de dist�ncia do seu clube do cora��o e sendo o �nico em sua cidade a torcer por ele? Ser cruzeirense, para o velho menino Z� Carlos, filho da periferia de S�o Lu�s, no Maranh�o, nunca foi s� uma escolha inusitada. Trata-se de pura resist�ncia. Amor solit�rio por uma camisa azul com cinco estrelas bordadas no peito.

Z� Carlos nasceu em 1982, na capital maranhense. O Bairro Anjo da Guarda, onde viveu seus primeiros anos, formou-se por uma trag�dia: o inc�ndio da favela do Goiabal, �s margens do Rio Bacanga, que provocou o ref�gio das fam�lias que perderam tudo.

J� na d�cada de 1990, o menino fincou morada no Jardim Tropical, uma �rea descampada de S�o Jos� de Ribamar, cidade metropolitana de S�o Lu�s. O terreno de puro mato era um convite para a molecada correr atr�s de uma bola, mas Z� Carlos tinha de ajudar o pai a capinar o lote para erguer a primeira casa. De taipa, telhado de palha e sem portas.

Futebol era uma paix�o na fam�lia. Eram integrantes da Drag�es da Fiel, torcida organizada do Moto Club. Mas para Z� Carlos, assistir aos jogos era chato. Seu neg�cio era estar debaixo das traves de madeira nos campinhos de v�rzea. Bom goleiro, quase foi parar no arquirrival, Sampaio Correia.

Al�m da paix�o pelo Moto, na fam�lia de Z� Carlos, cada um tamb�m torcia para times paulistas e cariocas. Os irm�os eram Corinthians, Palmeiras e S�o Paulo. A m�e, vasca�na. O pai, fan�tico pelo Fluminense, usou de sua autoridade para tentar cooptar o garoto. Era uma tarde de quarta-feira, em 1990, o tricolor carioca jogaria pelo Brasileir�o, nas Laranjeiras. Raimundo obrigou o filho, de 8 anos, a assistir � peleja pela TV. “Torcedor de verdade tem de acompanhar sempre o seu time.”

Mal come�ou o jogo e os olhos do menino vidraram na camisa do time advers�rio. Era um azul diferente. Intenso. Apaixonou-se. O amor � primeira vista foi presenteado com um gol do meia Lu�s Fernando Flores. Derrota do Fluminense por 1 a 0.

Guardar o nome “Cruzeiro” n�o era miss�o f�cil para um garoto onde s� ouvia Moto Club, Fluminense, Sampaio Correia e Vasco. Gostava das estrelas e lembrou do Cruzeiro do Sul. Pensava nele todas as vezes em que era perguntado sobre seu time de cora��o: “Eu sou Cruzeiro.”

Aos 15 anos, em meio a uma S�o Lu�s em completo sil�ncio, disparou a gritar sozinho pela madrugada ap�s “um tal Cruzeiro” conquistar a Copa Libertadores, em 1997. O cruzeirense da ilha maranhense comemorou – solit�rio – diversos t�tulos, mas sentia faltar algo. Queria ter outros para abra�ar.

Somente em 2018, ao tomar conhecimento da exist�ncia de um recente reduto de cruzeirenses na cidade, a Uni�o Azul da Ilha (UAI S�o Lu�s), Z� Carlos p�de ter a quem abra�ar. E assim comemorou a conquista da Copa do Brasil. Mas uma frase ainda ressoava: “Torcedor de verdade tem de acompanhar sempre o seu time.”

Hoje, aos 40 anos, o velho menino Z� Carlos trabalha como vigilante. Do parco sal�rio, todo m�s, tira uma parcela para pagar sua cota de S�cio Torcedor do Cruzeiro, mesmo nunca colocando seus p�s em Minas Gerais. Pelo celular, viu o momento �pico proporcionado pela torcida cruzeirense no Mineir�o, na final do Mineiro deste ano. Aos prantos, confidenciou: “Para muitos � s� mais um jogo, para mim, que nunca vivi um momento desse a�, � um sonho. Se um dia eu chegar a realizar. Deus � Pai. Um dia, eu consigo.”

Desde ent�o, v�-lo no Mineir�o passou a ser sonho tamb�m da pr�pria Na��o Azul. E gra�as � AGC – Associa��o Grandes Cruzeirenses, ao reduto UAI S�o Lu�s e principalmente, � resist�ncia do pr�prio Z� Carlos em se manter Cruzeiro, mesmo contra tudo e todos, por tanto tempo, isso ser� realidade. Na pr�xima partida em Belo Horizonte, o menino celeste da ilha estar� nas arquibancadas do Mineir�o. Voc� conseguiu, Z� Carlos!

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