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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro Popular Brasileiro

O ano de 1942 tamb�m deve ser comemorado por ter dado ao pa�s g�nios da m�sica, como os cruzeirenses Clara Nunes e Milton Nascimento


17/08/2022 04:00 - atualizado 17/08/2022 15:05

Clara Nunes e Milton Nascimento
Os cruzeirenses Clara Nunes e Milton Nascimento, �cones da M�sica Popular Brasileira (foto: Wilton Montenegro/Divulga��o e Marcos Hermes/Divulga��o)

 

12 de agosto de 1942. Numa casa humilde na cidadezinha de Caetan�polis, porta de entrada do sert�o mineiro, um grito fino quebrou o sil�ncio. O primeiro choro ritmado era o “canto” de estreia da beb� que viria a se tornar a maior voz feminina da hist�ria do samba. Nascia Clara Francisca Gon�alves Pinheiro, a cruzeirense Clara Nunes.

Pouco depois, em 7 de outubro, tamb�m de 1942, em meio � Segunda Guerra Mundial e ao posicionamento oportunista do ditador Get�lio Vargas, o Palestra Mineiro trocava de nome para Cruzeiro Esporte Clube. Por um ato de resist�ncia palestrina, ganh�vamos as cores azul e branco. O clube dos oper�rios e imigrantes definitivamente dava seu primeiro passo para se tornar o mais popular time de futebol de Minas Gerais.

Ainda em 1942, em 26 de outubro, nasceu numa favela da Tijuca, no Rio de Janeiro, um menino negro e mirrado. Perdeu a m�e solteira ainda no segundo ano de vida. Ap�s ser adotado, mudou-se para Tr�s Pontas, no Sul de Minas. L� aprendeu a cantar. Quando se percebeu m�sico, mudou-se para Belo Horizonte, onde, d�cadas depois, se tornaria a maior voz de Minas Gerais, o cruzeirense Milton Nascimento.

Para a capital mineira tamb�m se mudou a mo�a Clara Nunes. Fugindo de uma amea�a de morte a um parente, foi morar na regi�o fabril da Cachoeirinha e do Renascen�a. A voz n�o era mais de choro, mas sim de um esplendor contagiante. Passou a cantar nas festas religiosas dali mesmo.

No mesmo bairro morava o maestro Jadir Ambr�sio. Palestrino, primeiro negro a se formar no Conservat�rio de M�sica da capital e autor do hino do Cruzeiro. Ele se encantou pela voz ador�vel de Clara Nunes e a levou para a r�dio, no programa de Aldair Pinto, o mesmo que anos depois, comandaria a Charanga do Cruzeiro.

Na mesma �poca, Milton Nascimento come�ava a tocar nos inferninhos do Centro de Belo Horizonte. Logo, a fama de sua voz divina chegou � casa da fam�lia Borges, um reduto de cruzeirenses, dos quais o filho L� se destacava na paix�o. Formava-se ali o embri�o do Clube da Esquina.

Numa dessas noites, Milton assumiu o contrabaixo, enquanto seu amigo Wagner Tiso ia ao piano. Foram escalados para o trio que acompanharia Clara Nunes em uma de suas apresenta��es.

Era o primeiro encontro das duas maiores vozes da m�sica mineira. Eles voltariam a ocupar o mesmo palco – n�o juntos – nos bailes dan�antes da sede do clube que lhes arrebataria os cora��es: o Cruzeiro, no bairro oper�rio do Barro Preto.

Anos depois, Clara Nunes seguiu para o Rio de Janeiro. Inicialmente, vestiu-se de verde e rosa na Mangueira, mas acabou levada para a Portela por sambistas de Oswaldo Cruz e Madureira. Apaixonou-se perdidamente pelo azul e branco da escola.

No livro “O time do povo mineiro”, o brilhante professor e pesquisador Gladstone Leonel Jr. conta essa hist�ria de amor. Ele recuperou uma declara��o da cantora � R�dio Bandeirantes, em 1981, em que ela diz: “Come�ou por causa da cor, azul e branco. A primeira coisa. Porque eu, em Belo Horizonte, sou cruzeirense, eu comecei a cantar no Cruzeiro Esporte Clube. (...) A�, come�ou aquela coisa de achar a Portela, por causa do azul e branco”.

Recentemente, na celebra��o de seus 80 anos, Caetano Veloso, ao homenagear outros g�nios da m�sica nascidos – como ele – em 1942, se esqueceu de Nara Le�o, Tim Maia, Nelson Rufino e Clara Nunes (assim como o pr�prio Cruzeiro n�o o fez no �ltimo 12 de agosto). Mas se lembrou de Milton, do portelense Paulinho da Viola e de Gilberto Gil. Esse �ltimo, torcedor fervoroso do Bahia, que jamais escondeu sua admira��o pelo Cruzeiro em Minas Gerais.

A data de 1942, celebrada agora pelo clube por sua “brasilidade”, obviamente, vai muito al�m do amarelo. Se a estupidez da guerra nos deu o nome “Cruzeiro” e a resist�ncia palestrina � ditadura nos fez azul celeste, esse ano tamb�m deve ser celebrado por ter dado ao pa�s in�meros g�nios de sua M�sica Popular Brasileira (MPB). Entre eles, os cruzeirenses Clara Nunes e Milton Nascimento, as vozes mais ador�veis da hist�ria de Minas Gerais. 

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