
“H� que Educar o p�blico”
H� dois anos e meio Luiza Fecarotta est� � frente das expedi��es e pesquisas que s�o base da curadoria do Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, que se realiza neste fim de semana e no pr�ximo, na cidade hist�rica mineira. Tudo nas m�os de Luiza vira informa��o. � ela quem apresenta os programas exibidos no canal da Azul Linhas A�reas, as p�lulas de r�dio e � respons�vel tamb�m pelo conte�do do site do projeto.
Para a curadora, a grande motiva��o do Fartura � traduzir a riqueza da pesquisa que o projeto realiza desde 2012 em viagens pelo Brasil, nas quais busca rastrear a cadeia do alimento, com rigor e profundidade, com o prop�sito de movimentar economicamente o setor, celebrar e compartilhar nossos ingredientes, gestos e tradi��es. Luiza define o Fatura como a maior plataforma de cozinha brasileira do pa�s, que hoje agrega site, livros, filmes e programas de TV e r�dio.
Segundo ela, o projeto tem grande import�ncia social, na medida em que roda o Brasil, mapeia a cadeia da alimenta��o e d� visibilidade a atores an�nimos que resguardam saberes tradicionais e ingredientes amea�ados de extin��o. “O Fartura ativa a for�a conservacionista da gastronomia, que pode atuar n�o s� como um recurso de defesa da integridade da floresta, mas tamb�m preservar o alimento do ponto de vista cultural,
hist�rico e econ�mico.”
COM A PALAVRA
LUIZA FECAROTTA
Curadora do Fartura e cr�tica gastron�mica da Folha de S.Paulo
O brasileiro conhece bem a gastronomia regional ou ainda � muito nariz em p� e s� tem prazer com o que vem de fora? O que � preciso fazer para valorizar a cozinha nacional ?
Vivemos um paradigma no Brasil hoje. Ao mesmo tempo em que temos olhado mais para a riqueza nacional e feito dela at� certo modismo, a simplifica��o da produ��o do alimento e o desaparecimento de esp�cies levam a um empobrecimento do gosto. No meu entender, a miss�o dos chefs, sobretudo nesse momento hist�rico em que se tornaram estrelas p�blicas, � que sejam atores ativos na promo��o do trabalho dos pequenos produtores, que ainda resguardam tradi��es e fazem uso de ingredientes que tendem a desaparecer sem demanda comercial. H� que educar o p�blico, ressignificar e reintroduzir ingredientes na gastronomia para preserv�-los.
O que voc� achou do tema do festival de Tiradentes (“Da origem ao prato”)?
Esse eixo, na verdade, orienta todas as atividades da Plataforma, que tem como miss�o pesquisar, compartilhar e fomentar a cozinha brasileira. Uma das frentes a ser atacadas nesse processo � gerar informa��o capaz de promover o consumo consciente e, portanto, estimular o consumidor a conhecer com mais profundidade a cadeia completa de seu alimento e qualific�-lo, a partir da�, a fazer escolhas melhores.
Gastronomia � modismo ou coisa s�ria?
Enxergo uma distin��o entre culin�ria e gastronomia e entendo que ambas s�o perp�tuas, embora din�micas. Uma, com dimens�o simb�lica, diz respeito a um modo de fazer a alimenta��o, abrange o gestual, a mat�ria-prima e, hoje, est� vinculada a um espa�o privado. Outra surge relacionada ao campo sem�ntico, a um discurso que pretende educar o paladar, proporcionar prazer e depende da opini�o e do espa�o p�blicos.
Para voc� o que � melhor: uma comida muito bem feita, sem frescuras, ou aquela cheia de detalhes?
Uma coisa n�o � melhor que a outra. Minha busca � pela comida boa e justa, que proporcione encantamento e prazer, e seja resultado de um trato respeitoso com o meio ambiente, com os ingredientes e seus sabores em estado bruto, e com os atores dessa cadeia.
Como � sua rela��o com a cozinha?
Gosto da imagem do passado na qual a fogueira no campo e o cozimento dos alimentos criavam um ambiente in�dito de conv�vio capaz de envolver o homem na vida social. Refei��es coletivas, desde ent�o, t�m a pot�ncia de despertar sentimentos c�vicos, afetivos e prazer. Minha rela��o com a cozinha vem um pouco disso, dessa capacidade da comida de proporcionar o compartilhamento de ideias e suscitar felicidade.