"Sobrevivo de lembran�as que me fazem ser o que sou"

O in�cio de carreira de Hugo Tanure n�o � muito diferente do de todo rec�m-formado. Logo que concluiu o curso de administra��o, em 2005, na Uni-BH, come�ou ralando no ramo da hotelaria. Carregou malas, serviu e atendeu pessoas at� conquistar posi��es de destaque. “Aprendi desde cedo que a habilidade de compreender e de se relacionar com as pessoas nos ajuda a crescer”. Pouco tempo depois, montou a Seven Capital, butique de investimentos, com mais sete s�cios. Antenado no mercado, o grupo percebeu que, apesar da enorme revolu��o tecnol�gica, alguns segmentos da economia ainda n�o haviam experimentado os reflexos dessa evolu��o e da forte tend�ncia de inova��o ou reinven��o de modelos tradicionais.
“O mercado p�stumo � claramente um desses segmentos. A morte ainda � um tabu para algumas culturas mundiais, em especial para a nossa. Poucos querem se dedicar a temas como esse. Por esse motivo, o mercado, de maneira geral, ainda opera com pr�ticas e costumes introduzidos h� d�cadas, para n�o dizer s�culos”, opina o empres�rio, que est� � frente do projeto dos BioParque. “Acho que criamos o cemit�rio do futuro”, afirma, citando que o BioParque NL (Belo Horizonte) j� est� funcionando e � o primeiro das seis unidades a serem implantadas no pa�s. O investimento da Holding BiosBrasil SA gira em torno de R$ 150 milh�es.
COM A PALAVRA...
Hugo Tanure
Administrador
Todos vamos morrer um dia. Mas muita gente n�o gosta de falar no assunto. Para voc�, como � trabalhar com a morte?
Nossa atua��o passa pela ressignifica��o da morte. Portanto, se torna mais leve e delicado lidar com ela dessa forma. Oferecemos � sociedade uma oportunidade para que se possa homenagear os entes queridos a partir da valoriza��o das lembran�as e das hist�rias daqueles que j� se foram. Estamos trabalhando com a valoriza��o da vida e a preserva��o das mem�rias. Da�, o slogan que representa o BioParque: Mem�rias Vivas. Homenageie e plante uma �rvore.
Quais os desafios para lan�ar o BioParque de Belo Horizonte?
O BioParque � uma iniciativa pioneira. No segmento p�stumo os desafios s�o ainda maiores, em especial porque o tabu imp�e barreiras e preconceitos. Estamos construindo um neg�cio para o qual n�o existe refer�ncia. Foram incont�veis os desafios cient�ficos, pr�ticos, t�cnicos, gerenciais e burocr�ticos que experimentamos at� aqui com o lan�amento de nosso primeiro parque. N�o temos d�vidas de que v�rios outros ainda vir�o. Isso faz parte do processo de inovar e empreender. Paralelo aos desafios do empreendedorismo, acreditamos que o maior desafio de todos est� na miss�o de mostrar para a sociedade contempor�nea que o rito da morte pode e precisa ser repensado. As pessoas mudam, as sociedades mudam e, naturalmente, os costumes s�o readaptados. Com a morte n�o poderia ser diferente.
Como nasceu o projeto, in�dito no mundo?
Estudamos com profundidade e rigor o mercado p�stumo no �mbito mundial. Quando voc� olha para os pa�ses desenvolvidos, fica claro como prevalece a op��o pela crema��o em rela��o ao sepultamento. Nos dedicamos, ent�o, a responder a duas quest�es estruturais. Primeiro: o que as pessoas fazem com as cinzas? Observamos que a grande maioria das pessoas ao redor do mundo dispersa em parques e florestas. Segundo, e n�o menos importante: do que s�o compostas as cinzas? Investindo em pesquisas, descobrimos que basicamente elas s�o compostas por minerais, em especial, c�lcio e f�sforo (elementos qu�micos comumente utilizados para fertilizar o solo). Ent�o, respondidas essas quest�es, percebemos que o BioParque solucionaria o problema do que fazer com as cinzas e traria para as pessoas algo que permitisse a preserva��o das mem�rias dos entes que se foram, al�m da preserva��o do meio ambiente. Comprometida com esse desafio, em 2013 a Seven Capital constituiu a BiosBrasil SA. Empresa controladora dos BioParques. Dali em diante nos associamos a um grupo espanhol que fabrica urnas biodegrad�veis, � Universidade Federal de Vi�osa (respons�vel por nosso programa de P&D) e a tr�s dos maiores grupos funer�rios do pa�s: Prevenir Assistencial (MG), Grupo Parque (AL) e Grupo Primaveras (SP), al�m de outros investidores estrat�gicos.
Quais as caracter�sticas que mais chamam sua aten��o no BioParque?
N�o tenho d�vidas em afirmar que o parque possui caracter�sticas que o tornam �nico. Em especial, vale a preserva��o das mem�rias das pessoas, que se d� por meio da constru��o de um livro de mem�rias virtual (plataforma digital do BioParque) e pelo plantio de uma �rvore tendo as cinzas da crema��o como principal componente que ir� nutrir a planta, podendo-se escolher at� a esp�cie arb�rea que tenha mais significado para a fam�lia. Al�m disso, o cuidado e respeito com o meio ambiente a partir do plantio de esp�cies arb�reas nativas e ou end�micas (em alguns casos). Somam-se aos diferenciais do parque as futuras galerias de arte que ali ser�o instaladas, al�m de orquid�rios e de um pequeno jardim bot�nico. Ser�, al�m de um espa�o para homenagens e mem�rias, essencialmente um local de intera��o com a vida.
Seu av� est� no BioParque. Obviamente, voc� j� passou pelas cerim�nias comuns de um sepultamento. O que muda na cerim�nia do BioParque?
A grande diferen�a � que, quando voc� olha com aten��o para essa homenagem, voc� realmente enxerga tudo que foi vivido e se despede por meio de um ritual de rever�ncia e agradecimento. Fica mais "leve" voltar para casa e seguir em frente sabendo que fizemos o que de melhor estava ao nosso alcance. � muito n�tido perceber tudo isso na cerim�nia. Tenho certeza de que nossa homenagem para ele – as cinzas resultantes de sua crema��o e a quaresmeira que escolhemos como s�mbolo do legado de desapego que ele nos deixou – para sempre estar� l�. Como disse Dhenny S.: "Sobrevivo de lembran�as que me fazem ser o que sou".