Qual � a palavra mais chata deste 2020?

>> “Primeiro porque � presun�osa. Como se algu�m tivesse a capacidade de prever o futuro. Sinal dos nossos tempos e seus especialistas do Instagram. Depois dos especialistas em barragem a montante, em bacias hidrogr�ficas urbanas, em infectologia e imunidade, temos os especialistas em futuro. Acham que a humanidade, ou o ser humano, vai se transformar permanentemente por causa de seis ou 12 meses de vida contingenciada. J� deviam ter aprendido com a m�xima cantada por uma pessoa muito mais inteligente do que eu: de perto ningu�m � normal.”

>> “E precisa de justificativa? (rs) Como voc� pode chamar o que estamos vivendo de normal? Isso n�o � normal. Essa express�o me irrita profundamente. Vamos esperar acabar, a� a gente volta a ser normal.”

>> “Morro de d� de adjetivar uma palavra como chata, ainda mais quando ela j� vem acompanhada de um ep�teto. Mas esse termo me cansou em 2020, pois n�o sou l� de achar muita coisa normal e tive grandes dificuldades de abdicar de velhos h�bitos e aceitar ser considerado d�mod� assim de supet�o. E, o que � pior, como se j� tiv�ssemos vencido a batalha contra o v�rus e pud�ssemos viver plenamente, sob novas condi��es, limitantes, por�m supostamente melhores e automatizadas. A conferir se o que apregoam como novo e, claro, normal h� de nos proporcionar essa abdu��o a uma Terra curada de anormalidades.”

>> “Foi criada na esperan�a e no desejo, muitas vezes bem-intencionado, de que seria poss�vel conviver bem com a pandemia no cotidiano ou de que ela passasse r�pido, ou de que fosse apagada da hist�ria, como um transtorno provis�rio. N�o tem sido f�cil conviver com ela no dia a dia. Ela n�o passou, n�o vai passar t�o cedo e n�o ser� apagada. Vai deixar milhares de mortos e sequelas graves e duradouras em muita gente. N�o h� nenhuma chance de nada normal no horizonte...”

>> “Nada foi mais canseira do que essa express�o e seus gurus, todos com suas bolas de cristal, ditando regra e certeza.”

>> “Por mais que eu saiba a import�ncia das medidas de distanciamento social, n�o consigo aceitar como normal n�o poder estar pr�ximo dos que gosto, sair sem me preocupar. Esta, sem d�vida, � a express�o mais chata de 2020!”

>> “De leg�timo esfor�o para entender o mundo p�s-pandemia, virou um jarg�o barato e insuport�vel. Campanhas de marketing de todo tipo, palestras motivacionais, reuni�es por v�deo, text�es nas redes sociais. Foram tantas ocasi�es usando novo normal que j� deu.” 

>> “N�o se sabe como ser�, quando ser� e se ser�. A �nica certeza � que n�o ser� novo. Ser� impermanente, como sempre carregado de vest�gios do passado e de uma vis�o estreita do futuro.”

>> “Muita gente procurando descobrir algo 'novo' e forjar uma normalidade onde e quando o mundo desabou nas nossas cabe�as! Tudo ficou absurdamente anormal. Nunca mais vou me esquecer deste ano de 2020.”

>> “Novo normal � muito chato. Lembra de todo o contexto da pandemia e diminui a aten��o que devemos dar aos cuidados na quarentena. Para quando me perguntam como estou, inventei o 'novo bem', que � o bem, s� que dentro do novo normal. Estou vivo, na medida do poss�vel, n�o tentei matar ningu�m, n�o fui � fal�ncia, n�o enlouqueci. Como voc� est�? Estou o 'novo bem'.”

>> “Mary Anning, considerada a 'primeira paleont�loga', descobriu no s�culo 19 f�sseis de dinossauros, provando que as cren�as aceitas n�o se encaixavam com essas novas descobertas. Ela teve nove irm�os, sendo que cinco deles morreram antes dos 4 anos. Tristeza? Sim, mas era algo comum por conta da falta de vacinas. Ao ouvir a palavra jacar�, penso que colocar em xeque a efic�cia e a import�ncia das vacinas � algo t�o antigo quanto os dinossauros. Espero que n�o sejamos extintos como eles em virtude da nossa pr�pria ignor�ncia.”

>> “Dita pela maior autoridade do pa�s na atitude de negar a pandemia que destruiu fam�lias, levou � morte milhares de brasileiros.”

>> “Revela o negacionismo do governo diante de uma crise de sa�de mundial e o seu descaso em um momento em que o pa�s precisava de pol�ticas efetivas para combater o v�rus.”

>> “O que tem me irritado mais, hoje em dia, � a palavra mas. Nestes tempos de pandemia, sempre tem algu�m com um mas para justificar o que o governo faz de errado ou o ego�smo.”

>> “Ficar longe das pessoas que amamos, n�o poder abra�ar, beijar, apertar as m�os, acariciar, � muito dif�cil e triste, nos deixou ainda mais sens�veis e vulner�veis. Definitivamente, n�o nascemos para ficar isolados.”

>> “N�o pode sair de casa sem necessidade. N�o pode abra�ar as pessoas. N�o pode promover aglomera��es. N�o pode ir a festas. N�o pode se esquecer de lavar as m�os ao chegar da rua. N�o pode deixar o �lcool em gel em casa. N�o pode entrar em casa com o cal�ado usado na rua. N�o pode apertar o bot�o do elevador com o dedo. Ufa! N�o aguento mais.”

>> “Desafio de se adaptar, desafio de combater, desafio de vacina, desafio de mais vagas em hospital, desafio do presidente... � muito desafio. Desafio virou algo banal.”

>> “Palavra mais chata e inc�moda, que trouxe uma soberba absurda para muitos que promoveram, sem a menor empatia, o linchamento virtual de outros. Fora, � claro, ver os tantos flyers de eventos com letras garrafais: cancelado.”

>> “A pessoa faz foto for�ada, cheia de pose e olhar para 

o vazio. E a legenda: Plena.”

>> “Sem explica��o.”

>> “Palavra que gerou outras em rima rica, cloroquina e vacina, em rima pobre mais duas, a n�o cren�a na ci�ncia, e, por fim, outra rima rica de polariza��o com o pov�o.”

>> Primeiro pelas consequ�ncias em si... Depois por todos os desdobramentos e impedimentos! X�, COVID!

. Fernanda Bicalho

Administradora

>> “Tudo virou... live. Com isso, tanto a palavra quanto a pr�pria transmiss�o ao vivo foram completamente banalizadas. Muita gente fazendo transmiss�es superlegais, mas tem gente com mais medo do retorno das lives do que do retorno do lockdown (hehehe)”

>> “Embora tenha sido uma estrat�gia para lidar com o isolamento social, com muito conte�do interessante sendo produzido, foi tamb�m um lembrete constante – e insistente – dos limites e transforma��es do cotidiano impostos pela pandemia.”

>> “Essa obriga��o de voc� ter que agradecer tudo o tempo todo � massacrante. Gratid�o porque conseguiu ir para uma praia paradis�aca no meio da pandemia � f�cil, quero ver ter esse discurso no meio da batalha que muitos de n�s estamos enfrentando este ano. Temos que agradecer as conquistas, mas n�o podemos romantizar as derrotas.”

>> “O excesso de uso a vulgarizou, tornando f�til – e quase resposta pronta – o seu sentido. Gratid�o em 2020 virou o oposto do seu significado mais bonito, e �, disparado, a palavra mais chata do ano!”

“Uma palavra pouco usada que virou parte da vida de todos n�s na pandemia. E � chata viu?!?”

>> “Se tornou a �nica arma para a solu��o de todos os problemas do pa�s, sem levar em conta se essa medida realmente beneficiaria a popula��o.”

. Marcella Souza

Pedagoga, int�rprete de libras e brailista

“Em um ano t�o raro, em que fomos obrigados a aprender muitas palavras, express�es e conceitos, cito duas palavras que, de t�o comuns, j� se tornaram quase uma express�o. Pared�o do BBB, com as palavras mais chatas n�o somente deste, como tamb�m dos �ltimos anos. Principalmente para quem n�o acompanha o que ocorre no reality show no ano em que o confinamento foi obrigat�rio a todos n�s, sem premia��o no final.”

>> “Vem do bravo/brava e � usada, em muitos casos, para substituir a palavra top. S� escutei homens de 20 a 40 anos falando, normalmente se referindo a algo de si mesmos. 'Essa m�sica � a braba!'. 'Foi brabo'. Para 2020 n�o poderia surgir uma express�o melhor ou pior! #choremos”

>> “O que come�ou como uma forma de manter as pessoas ligadas ao mundo exterior acabou sendo uma forma de mostrar fake likes. Fic��o do belo e feliz. Existem raras exce��es.”