(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas BALADA

Bruno Carneiro revela como surgiu a boate naSala, que faz hist�ria em BH

Convidado da se��o "Embalos de s�bado � noite", que estreia na coluna HIT, empres�rio relembra fatos marcantes do entretenimento da capital nos anos 2000


06/11/2021 04:00 - atualizado 05/11/2021 22:48
739

Ilustração para coluna Hit


Bruno Carneiro
Empres�rio

Foi no dia 17 de agosto de 2000 que a minha vida mudou. Acredito que dali em diante mudamos tamb�m a vida de muita gente. Era uma quinta-feira de muita ansiedade, poucas certezas, um suor danado para tentar surpreender aqueles que j� sabiam sobre a casa noturna que seria aberta no Ponteio Lar Shopping, mas, por estrat�gia nossa, tinha mais segredos do que respostas.

Apesar de poucos se lembrarem disso, aquela n�o era nossa primeira casa noturna. Em agosto de 1997, inauguramos o Clube MTV. O inferninho serviu de laborat�rio para muito do que implantamos na naSala. Esses tr�s anos de prototipagem e estudo nos deram a oportunidade �nica de viver uma cena repleta de estrelas do entretenimento nacional.

Lembro-me da expectativa sobre cada casa que An�sia inventava no Barro Preto. Bar Nacional, Sob o C�u de Calcut�, Scape, Bababum e, claro, o Dros�fila moldaram muito do que nossa cidade at� hoje respira em termos de balada. Foi um tempo legal. O galp�o podia se transformar em cen�rio incr�vel da �ndia, e, seis meses depois, mudar completamente sua decora��o e tema para esta��o de trem, surpreendendo todo mundo, apesar do mesmo endere�o.

Tempos de L�o Ziller, a enciclop�dia da noite belo-horizontina. Com tantas casas no curr�culo e festas no calend�rio internacional, Ziller sempre foi o embaixador que procura incansavelmente colocar BH no mapa dos grandes artistas.

Todo mundo da minha gera��o tem uma hist�ria pra contar na Ciao Ciao, no Club:e, Ufo e no Hangar 667… Mas gosto mesmo � de relembrar as tardes �nicas do Bwana, nas cercanias de uma avenida, ent�o distante, chamada “Seis Pistas”. Dif�cil repetir aquela experi�ncia, o primeiro contato de muita gente com a m�sica eletr�nica.

Tantas outras casas assinaram tantas mudan�as importantes que eu me sentia obrigado a mais um pouco de esfor�o, diariamente, para merecer um lugar neste mercado. A W, do Daniel Zago, trouxe a primeira casa-franquia nacional para BH. Me lembro tanto disso quanto do dia em que a primeira loja do Mc Donald’s foi inaugurada no BH Shopping. O Caf� Canc�n veio depois, com procedimentos e treinamentos de grande rede, ensinando que antes de sermos casa noturna, tamb�m �ramos parte de uma empresa.

E, claro, veio a L'Apog�e. Essa casa de todas as casas inaugurou em BH o conceito de clube de s�cios. Roberto J�come, ou carinhosamente Jaj�, n�o s� foi vision�rio e corajoso, como sempre, mas generoso com todos n�s quando o procur�vamos para conselhos sobre o que fazer para continuar existindo.

Quase ningu�m sabe, mas o programa de s�cios da naSala n�o s� foi inspirado no da L'Apog�e, como recebemos do Jaj� todos os documentos e regulamentos para nos ajudar a formar o nosso.

Tamb�m foi nessa �poca que promoters de eventos constru�ram em BH o calend�rio de festas que fez Confins passar a ser aeroporto para muita gente nascida fora de Minas. Eu, novato e com 18 anos, me sentia um jogador iniciante com a oportunidade de jogar com os �dolos de crian�a. Os nomes vinham como assinatura de qualidade para cada evento, formando times que ningu�m com mais ou menos a minha idade esquece: Mari�ngela Lima, Tatiana Gontijo, Rodrigo Pros e Rochinha, Ziller e D�dio, Du Quintino e Leo Stallone, Flav�o Moraes, L�o Sorriso e Ricardo Natal, Henrique Chaves, Igor e tantos outros que, com certeza, ser�o v�timas da minha mem�ria injusta aqui…

Se as casas noturnas eram o ve�culo, os promoters eram o combust�vel. N�o � quest�o de ser melhor que hoje, mas era tudo mais pessoal. Talvez por causa da aus�ncia de tecnologia. Com certeza, menos conveniente, mas, de fato, mais customizado.

Foi nesta cena que entendemos o que naSala precisava ser a partir daquela quinta-feira… Com essa responsabilidade, eu me preparava para abrir a casa pela primeira vez, depois de quase um ano de obras e segredos. Poucos dias antes, li nota numa coluna social nos chamando de filhinhos de papai que gastaram uma fortuna na casa noturna que, como todas as demais, fecharia as portas em poucos meses. N�o podia nem culpar o autor. Uma casa assim em BH, at� aquele 17 de agosto de 2000, tinha ciclo de vida estimado em oito meses… Depois, trocavam-se o nome e alguns elementos de decora��o, conseguiam-se novos contratos de patroc�nio e seguia-se em frente.

Poucos dias antes de abrirmos, o representante de uma famosa champanhe francesa nos procurou. Trouxe a linha de materiais de merchandising laranja, como a marca famosa, e coloriu nossa decora��o de um jeito que deixava tudo mais bonito. Mas disse que a pol�tica de vendas para casas noturnas era s� � vista. Antes de nascermos, muitas casas quebraram com boletos altos em aberto com a empresa, e isso era inegoci�vel. E ainda avisou que n�o poderia nos vender mais do que 15 caixas por m�s.

Com muito custo, conseguimos que fossem 16 caixas… Naquela quinta, vendemos 14. E por 11 anos seguidos fomos a principal casa em vendas daquele champanhe. Tive a chance de conhecer e contar isso para o presidente da Maison Clicquot... Lembrar traz uma sensa��o boa de dever cumprido, mas naquela quinta havia mais fatores que nos tiravam o sono.

Desde ent�o, muita coisa aconteceu. Tivemos in�meras vit�rias e algumas derrotas. Demos sorte de as vit�rias terem sido mais notadas por nossos clientes. Tivemos tamb�m muita ajuda. Patrocinadores que nos apoiaram desde o in�cio do projeto, concorrentes leais, clientes pacientes… Um que n�o posso deixar de citar, pois carrega grande parte da cria��o da assinatura do que � estar no evento naSala, � meu querido amigo Marcelo Marent.

Marent foi meu s�cio no Clube MTV. Talvez a cabe�a mais criativa e ousada surgida no mercado de eventos, e n�o s� em BH. Marcelo era um cara do mundo. Ditava tend�ncia muito antes de qualquer outro produtor. Teve casas que marcaram a cidade em �pocas diferentes, 
mas com o mesmo impacto. Todas refer�ncias absolutas: Hits, Josephine, Joy, para citar as que conviveram com a naSala.

Outra hist�ria pouco conhecida: depois de passar um carnaval em Escarpas do Lago, em 2002, tive a ideia de fazer a primeira festa naSala fora do Ponteio. Com ajuda do Ronaldo �lvares, diretor social do clube na �poca, e com a generosidade de Adhemar Ferreira, ent�o presidente, tivemos autoriza��o para, a partir da semana santa de 2003, come�ar a contar essa hist�ria.

Muita coisa foi importante para o sucesso das nossas festas no balne�rio e por podermos contar essa hist�ria. Com certeza absoluta, foi a assinatura do Marcelo Marent que fez esses eventos serem �nicos, mostrando ao Brasil o que acontecia em BH. Marcelo nos deixou h� alguns anos. Tenho certeza de que sabia de todo nosso carinho por ele, mas � fato que nunca conseguiremos agradecer o suficiente…

A naSala vive at� hoje. S�o 21 anos neste mercado dif�cil de BH. J� n�o sou mais o gestor h� 11 anos. Tenho a felicidade de ter passado o bast�o para o time capitaneado pelo Kiko Gravata, que fez dela algo muito maior do que na minha fase. Posso dizer, feliz, que sou caso �nico de gestor aposentado pela pr�pria casa noturna…

N�o dou mais expediente l�. Estou com 43 anos. Mas se voc� estiver em algum de nossos eventos, notar um sujeito mal-humorado ao largo da pista e quiser me cumprimentar, ser� um prazer.

N�o tenho saudade daquela �poca, saudade significa que ficou algo a fazer. Meu dever foi cumprido, mas sinto muito carinho e ainda mais orgulho.

A naSala mudou a minha vida. Virou meu sobrenome por muitos anos. Vivi coisas ali que o dinheiro n�o pode comprar. Com certeza, a melhor lembran�a � de como ela mudou a vida de milhares de pessoas que por ali passaram.

A SE��O “EMBALOS DE S�BADO � NOITE” CONTA A HIST�RIA DA VIDA NOTURNA DE BELO HORIZONTE, QUE, ANTES DA PANDEMIA, DEU O QUE FALAR


*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)